Capítulo 12

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VEIO AÍ O QUE TODO MUNDO (eu inclusa) QUERIA!
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     Quando acho que nada pode dar errado, essa bosta de destino resolve me surpreender. Já perdi as contas de quantas vezes disse que atirei pedra na cruz, mas é impossível uma pessoa ser tão azarada como eu.

     O elevador parou. Simplesmente. Raquel avisou no rádio que ficamos presas nessa merda e os policiais estão entrando e indo pelas escadas.

     Olha, puta que pariu, sabe... Fico andando de um lado para o outro, apertando todos os botões possíveis, mas nada funciona. Tenho certeza que Raquel vai me odiar ainda mais agora.

     Eu sei, não é culpa minha, mas cacete. Sinto o olhar dela em mim e parece que vou desmaiar a qualquer momento. Estou tão nervosa com tudo isso que poderia atirar no elevador para ver pelo menos se caímos.

     Parece uma boa ideia por um momento e sei que Raquel não vai permitir, mas aponto a arma para a porta. De repente, se a bala não ricochetear, ela pode fazer um buraco e nós conseguimos abrir e sair dali.

     Assim que aponto a arma engatilhada para o filete no meio que segura as duas portas de metal, Raquel se interpõe na frente.

     — Sai daí, Murillo.

     — Não. Você tá doida? Essa bala pode voltar na gente. Eu não quero levar um tiro e tenho certeza que você não quer outro.

     — Ela pode não voltar também e criar uma abertura pra gente puxar. Sai daí, porra.

     — Para de ser louca! Não vou sair. Se quiser morrer, morra longe de mim, caralho.

     Bufo, irritada. Suspiro e aponto a arma para o peito dela. Ela sequer treme diante da minha ameaça. Que mulher do cacete. Eu estou tentando salvar o estágio dela.

     — Murillo, não vou falar de novo. Sai ou eu atiro em você.

     Ela dá dois passos à frente e fica encostada no cano da pistola. Ela sobe o olhar para encontrar o meu e sorri daquele jeito sarcástico que eu odeio. E depois, ainda molha os lábios suavemente e inclina a cabeça na minha direção.

     — Você não consegue atirar em mim, ruiva. Nem que você queira muito.

     Suspiro, mas mantenho minha arma apontada. Cacete, que inferno é estar presa com essa mulher no elevador. Me movo alguns passos para o lado, ainda com a pistola nela. Aguardo até que ela se vire novamente de frente para mim.

     Começo a andar, empurrando-a para trás. Não demora até que ela esteja completamente encostada na parede. Me pergunto se ela sabe dos meus sentimentos e finge que não, ou se não sabe mas me provoca como se soubesse.

     — Tem razão, não consigo atirar em você.

     Abaixo a arma calmamente, mas ao mesmo tempo, chego ainda mais perto dela. Sinto sua respiração aumentar e começar a se chocar com a minha. Meu coração bate tão forte que parece uma escola de samba abrindo alas apenas para que ela dance em cima de mim.

     — Mas eu poderia fazer milhões de outras coisas que você talvez nem sonhe.

     — E por que você não faz?

     Porra, não dá. É a minha vez de puxá-la para mim, e já que ela não se retrai, suspeito que queira isso tanto quanto eu. As mãos dela seguram meu pescoço enquanto eu me apoio em sua cintura. Fico chocada como minha perna melhorou de repente.

     Passo meus lábios suavemente por cima dos dela, mas sinto que ela tem urgência. Eu também tenho, então capturo sua boca na minha em um beijo voraz, sentindo a maciez da pele dela me arrepiar dos pés à cabeça.

     A aperto ainda mais contra meu corpo, como se ainda existisse algum resquício de espaço entre nós, mas não existe. Nossas línguas estão em uma batalha incessante de dominância e sinto que meu coração pode sair do peito a qualquer momento.

     Esse beijo parece ainda melhor do que o primeiro que ela me deu. Parece ter mais entrega das duas partes, como se esperássemos por isso há muito tempo. Ele me faz entender com certeza o que sinto por Raquel.

     Não quero soltá-la. Não quero abrir meus braços e vê-la ir para longe. Não quero tirar minha boca da dela. É como se o mundo fosse desmoronar. Sinto que, assim que nos afastarmos, todas as minhas ilusões serão apenas isso: ilusões.

     Ainda que eu tente focar apenas nesse beijo, é impossível. Minha mente não para em segundo nenhum, mas gostaria de poder atrasar o tempo para beijá-la ainda mais. Eu não sabia que precisava tanto disso.

     Ouço o elevador voltar a funcionar e sei que precisamos retomar o foco na missão, mas puta merda, quando terei essa chance novamente? Preciso aproveitar cada mísero segundo que tenho da minha boca colada na dela.

     Infelizmente, ela também escuta, e sutilmente, vai parando de me beijar intensamente até que restem apenas selinhos infindáveis. E eles só terminam quando sentimos o elevador continuar seu curso normal.

     É impossível que o tempo seja justo. Pareceram horas enquanto estávamos quietas, mas assim que a beijei, foram segundos. Isso não pode ser certo.

     E o pior é que estou anestesiada. Sinto como se tivesse acabado de sair de um sonho. A única coisa que me faz acreditar é sentir o úmido nos meus lábios.

     E estou viciada. Quero sentir aquele gosto mais vezes. Quero puxá-la novamente para mim e beijá-la de novo, e de novo, e mais tantas outras vezes até perder a conta. Quero ficar sem ar novamente porque Raquel está me devorando, assim como eu a estou.

     Quero senti-la novamente colada em mim. Quero sentir suas mãos apertando minha nuca e quero apertar sua cintura de novo. Somente a quero.

     Parecem passar mais horas até chegarmos. Caio em mim quando a porta do elevador se abre no sétimo andar. Porra, acabei de beijar Raquel Murillo e estou perdidamente apaixonada. É mole?

Prenda-me se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora