Capítulo 14

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     Eu sempre acho que as coisas podem piorar. Não sou o tipo de pessoa extremamente positiva e que acredita que tudo vai dar certo. Essa pessoa é Raquel. Eu sou mais realista e espero que todo dia uma bomba nova exploda.

     Mas eu nunca pensei que fosse explodir uma de verdade perto de mim.

     Fala sério, já não basta ter levado um tiro? Sinto uma dor absurda ao mesmo tempo em que perco a audição momentaneamente. Olho para o lado e vejo alguns colegas meus caídos, outros sangrando.

     Quando Raquel trouxer Andrés preso, farei questão de estrangulá-lo devagar. Cacete! Como ele e o bando dele implantaram uma bomba aqui e ninguém viu? Essa polícia já foi melhor.

     Me arrasto até alcançar o rádio de um dos meus colegas e chamo Raquel. É questão de honra agora capturar aquele filho da puta. Caralho, estou possessa de ódio.

      — Murillo! — Grito, mas não sei se ela vai me responder. — Raquel Murillo!

     "Oi, Sierra, o que foi?"

     — Ou você pega esse vagabundo... ai, porra... ou eu pego você.

     "O que aconteceu?"

     — Nada demais. Ai.

     "Alicia, o que aconteceu?"

     — Colocaram uma bomba aqui. Explodiu.

     "Merda! Estamos voltando agora!"

     — Não! — Falo alto, em tom autoritário. — Você vai prender Andrés.

     "Alicia, vocês precisam de ajuda. Nós vamos voltar."

     — Se você voltar agora, eu nunca mais olho na sua cara. Me prometa que vai trazê-lo vivo para que eu mesma possa matá-lo.

     "Vou tentar, ruiva."

     Sorrio ao ouvir o apelido, mas logo deixo o rádio cair do chão. Tudo dói. Segurar o aparelho dói, falar dói. Até para pensar está doendo. Começo a me levantar devagar, com muito esforço, e minha perna que já estava ruim, fica pior.

     Agradeço mentalmente por ter pedido para trocar com Raquel, pois se ela estivesse aqui e a bomba explodisse nela, eu nunca iria me perdoar por isso.

     Ando, ainda com uma puta dificuldade, até o interior da tenda. Vejo que Raúl não está mais lá e jogo praga aos quatro cantos do universo. Os outros comparsas que a polícia tinha capturado também não estão.

     Olha, sinceramente. Nem tenho mais chances de conseguir essa merda. Me jogo na cadeira da minha mesa e suspiro. Cogito, momentaneamente, que me juntar com o bando dos ladrões vai ser mais promissor, já que eles estão nos virando de cabeça para baixo sem muito esforço.

     Rejeito a ideia rapidamente. Deve ser efeito da bomba, meus pensamentos estão meio fora do lugar. Mas desisto de tudo. Não quero mais esse estágio, não quero mais trabalhar, não quero mais ouvir falar dos ladrões. Não quero ir para casa, não quero ficar em casa, não quero estar na tenda e nem fora dela.

     A única coisa que continuo querendo é Raquel.

     Antonio aparece me tirando de meus pensamentos e me traz uma das únicas boas notícias do dia. Murillo e a equipe encontraram o esconderijo de Andrés e o cercaram antes de ele conseguir fugir de novo. Sorrio de modo sincero.

     Finalmente! Como um passe de mágica, sinto vontade de continuar a trabalhar. Uma chama que, de repente, acende em meu coração e sei que sou feita para aquilo, ainda que às vezes eu queira desistir.

Prenda-me se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora