Capítulo 51: Eu não vou a lugar nenhum.

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Parei em frente a casa de Jasmine, observando as luzes todas apagadas, exceto a das escadas da entrada lateral. Meus olhos logo se voltaram para a garota do meu lado, que permanecia em silêncio, encarando a entrada da casa também, como se ainda não quisesse se despedir.

—Não quer ir lá pra casa? —Indaguei, vendo-a olhar pra mim rapidamente, soltando uma risada nervosa e negando com a cabeça no mesmo instante. —Tudo bem, sonhar não custa nada.

—Do jeito que meus irmãos estão agindo, é capaz de os dois estarem sentados no sofá esperando eu chegar, como dois velhos ranzinzas. —Afirmou, me arrancando uma gargalhada, porque não estava esperando ouvir isso dela. —Mas obrigada pelo jantar. Foi muito especial pra mim.

—Pra mim também. —Falei, escorando minha mão no banco em que ela estava sentada, antes de me inclinar para beija-la. Era fácil demais pensar que nunca iria enjoar dela. Tudo parecia sempre novo. Sempre uma sensação de euforia que deixava minha barriga gelada. —O que você vai fazer amanhã? Sabe, tem festa na casa de um dos meus colegas.

—É, eu fiquei sabendo. —Jasmine comprimiu os lábios, parecendo subitamente ansiosa. —Você vai?

—Acho que não. Estou tentando ganhar um segundo encontro com uma garota incrível, e sei que ela não curte muito chamar atenção. Acho que a festa vai ficar pra outro momento. —Falei, fazendo Jasmine soltar uma risada baixa e negar com a cabeça. Mesmo com a escuridão do carro, podia imaginar que ela estava corada. —Eu não vou. Queria saber se você ia, porque já imaginava que não. Eu e o pessoal do casarão vamos sair juntos. O que acha?

—Essa seria sua ideia de segundo encontro?

—Essa é minha ideia de como conseguir mais um pouco da sua atenção. —Afirmei, segurando o rosto dela e deixando um selinho nos seus lábios. —Que horas eu posso passar aqui pra te pegar?

—E quem disse que eu ia aceitar? —Jasmine ergueu as sobrancelhas, me fazendo abrir um sorriso enorme que fez até mesmo minhas bochechas doerem.

—Não finja que não quer sair comigo de novo. —Retruquei, fazendo menção de dar um beijo nela, mas Jasmine se afastou e abriu a porta do carro. —Isso é um "não"?

—Não, eu só preciso entrar mesmo. —Jasmine se virou e roubou um beijo de mim, antes de descer do carro e me encarar com um sorriso muito mais do que feliz nos lábios. —Passa aqui as 20:00 de novo. Posso saber pra onde a gente vai?

[...]

Abri a porta de casa, levando um susto quando dei de cara com a minha mãe saindo da cozinha. Já passava da meia noite, então eu esperava que ela e meu pai estivessem dormindo. Vir dormir no apartamento deles e não no casarão me pareceu uma escolha fácil, porque eu tinha a sensação de não estar dando muita atenção pra eles nos últimos dias. Talvez a culpa fosse minha por eles estarem tão preocupados.

—Oi, mãe. —Abri um sorriso, vendo-a me olhar surpresa, como se também tivesse se assustado com a minha presença ali. Só então notei que ela parecia estar chorando, porque passou a mão no rosto apressadamente.

—Oi, filho. Você me assustou. Não sabia que vinha dormir aqui. —Minha mãe tentou abrir um sorriso, enquanto eu ficava imóvel, tentando imaginar o porque dela estar assim. —Sua irmã veio mais cedo com o Julian. Ela me avisou que você tinha saído pra jantar com uma moça.

—Os dois estão aqui? —Indaguei, mesmo que imaginasse que sim. Minha irmã e Julian não dormiam separados, então estavam sempre revezando entre aqui e o casarão. Na maioria das vezes, os finais de semana eram na casa dos meus pais.

—Sim, mas já foram dormir eu acho. —Ela deu de ombros, passando por mim para ir até o sofá, onde uma cartela de remédios e um copo de água a aguardavam. —Como foi o seu encontro? Eu conheço a moça?

—Ah, o nome dela é Jasmine. Ela é filha dos Hollis. Os donos do café perto da universidade. —Esclareci, vendo-a assentir com a cabeça. Normalmente, quando o assunto era eu saindo com alguém, minha mãe me enchia de perguntas sobre ela. Mas agora ela parecia aceitar essa simples explicação. —Você está bem?

—Sim, sim. É só um remédio pra dormir. Minhas últimas noites não foram muito boas. —Ela abriu um sorriso fraco, que logo desapareceu dos seus lábios, como se ela tivesse se arrependido de dizer a última parte. Provavelmente porque notou o impacto que aquelas palavras tiveram em mim.

—O que está acontecendo, mãe? É por minha causa, não é? —Me aproximei do sofá, vendo-a negar com a cabeça sem parar. Me sentei ao lado dela, segurando sua mão. —Eu sei que é. Vocês tem se preocupado demais comigo nos últimos dias. Sei disso.

—É só que... —Ela suspirou, sem conseguir conter as lágrimas. —Sei que isso pode estar sendo demais pra você, Briar. Acordar e descobrir que ficou mais de um mês em coma. Tem a questão dos jogos de hóquei e estamos em cima de você desde que saiu do hospital. Sinto muito por isso. Sinto muito por estar passando por isso. Sinto muito por estarmos te sufocando com nossa preocupação.

—Você não precisa me falar nada disso, mãe. Eu entendo. Juro pra você que eu entendo. —Afirmei, e ela continuou a negar com a cabeça.

—Eu preciso, sim. Você esteve tão afastado de nós nos últimos dias. Seu pai e eu ficamos preocupados com você. Com o que poderia estar acontecendo depois do coma. Mas agora eu percebi que a culpa foi nossa, porque não estávamos te dando espaço o suficiente pra absorver tudo sozinho. —Minha mãe tentou secar as lágrimas, enquanto meu coração se apertava ao vê-la daquela forma. —Mas ficamos com tanto medo de perder você, Briar. Passamos anos esperando pela sua irmã. Rezando e sonhando com o momento que ela iria surgir nas nossas vidas de novo. Quando isso aconteceu, você foi tirado de nós. Comecei a pensar que isso fosse alguma punição do mundo, sabia? Que eu não iria conseguir ser feliz de verdade, porque estava sempre perdendo as coisas mais importantes da minha vida.

—Você não fez absolutamente nada pra ser punida mãe. Você deixou seu sonho de lado pra cuidar de mim quando eu nasci. Fez o mesmo pela Abigail. —Afirmei, odiando ver a dor presente nos olhos dela quando me encarou, com as bochechas vermelhas e molhadas.

—Mas eu perdi vocês. Quando achei que tudo ia ficar bem, você foi tirado de nós. Mesmo que esteja aqui agora, o que eu senti quando vi você caído no gelo desacordado, com o treinador gritando por ajuda... —Ela fechou os olhos com força, fazendo um nó se formar na minha garganta quando a puxei para mim, a abraçando apertado. —Me desculpa se estamos te sufocando. Eu só estou com tanto medo disso acontecer de novo.

—Eu estou aqui, mãe, e eu não vou a lugar nenhum. —Prometi, deixando um beijo demorado na testa dela, enquanto parecia haver uma faca sendo cravada no meu coração.


Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Onde histórias criam vida. Descubra agora