Capítulo 66: Eu mesmo vou matá-lo.

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Na sexta à noite, me enfiei no sofá junto com meus irmãos, enquanto Mavie encontrava o jogo no YouTube para assistirmos ao vivo. Tinha falado com Briar mais cedo e o desejado boa sorte. Ele parecia tranquilo e falou o quanto queria que eu estivesse lá, mesmo que entendesse o porquê de eu não ir. Isso me fez ficar com um peso enorme dentro do peito, porque eu realmente queria estar com ele nesse momento.

—A gente deveria estar indo assistir pessoalmente. —Taylor resmungou do meu lado, balançando a cabeça negativamente. —Como ele vai saber que estamos torcendo por ele, se ele nem pode nos ver daqui?

—Pensei que a gente deveria odia-lo. —Wyatt sussurrou para Joe, mas não conseguiu ser discreto o suficiente para que eu ou Mavie não ouvíssemos, porque nós duas trocamos um olhar demorado e negamos com a cabeça na mesma hora.

—A gente odeia, mas a gente também apoia pela nossa irmã. —Joe afirmou, e eu acabei abrindo um sorriso fraco ao ouvi-lo dizer isso.

Na tv eu podia ver como o lugar estava lotado, mesmo que aquilo não fosse um jogo oficial. Briar havia contado aos pais dele sobre o jogo apenas hoje de manhã. Não tenho certeza de qual foi a reação deles, mas Briar deixou claro que não foi nem um pouco boa. Eles iriam até a arena assistir o jogo, assim como Abigail e os outros. Eu era a única que não.

—Ele vai vencer, Jas. Não precisa ficar preocupada com isso. —Mavie apertou minha mão, tentando me passar confiança ao dizer aquilo. Ri, enquanto encolhia meus ombros consideravelmente.

—Eu sei que vai. O problema não é esse. Eu queria estar lá para apoiá-lo de novo, mas sou uma completa covarde. —Afirmei, observando minha irmã revirar os olhos como se eu estivesse falando a maior bobagens de todas. —Você sabe que é verdade, Mavie. Se fosse você, você estaria lá naquela arena, com o queixo erguido e ignorando todos ao redor. Mas eu não sou como você.

—Eu não seria corajosa se uma foto íntima minha fosse exposta. Eu provavelmente agiria de uma forma muito pior do que você. —Mavie retrucou, enquanto eu soltava uma risada descrente. —Não sou confiante como você imagina, Jas. E você não é uma covarde como pensa.

Balancei a cabeça negativamente, ficando de pé, não querendo mais falar sobre aquilo. Murmurei algo a eles sobre fazer uma pipoca, o que deixou Wyatt e Taylor felizes, e meus irmãos mais velhos me encarando como se estivessem preocupados comigo. Todo esse excesso de preocupação me deixava ansiosa, porque eu não queria incomodar nenhum deles com os meus problemas.

Fui para a cozinha, abrindo um sorriso fraco pra minha mãe, antes de ir preparar a pipoca. Podia sentir os olhos dela sobre mim também, como se estivesse tão preocupada quanto meus irmãos. A tensão nos meus ombros me deixava desconfortável. Eu só queria que o jogo acabasse logo e que Briar viesse até aqui pra ficar comigo.

—Você está pensando demais, sabia? —Minha mãe chegou do meu lado, me fazendo comprimir os lábios e a olhar confusa. —Essa sua carinha, é a mesma carinha que você estava depois daquela festa, quando brigou com a Mavie no quarto.

—Não foi bem uma briga, foi só uma discussão. —Retruquei, mordendo o lábio quando minha mãe me lançou um olhar afiado. —Era do Briar que estávamos falando aquela noite.

—Eu comecei a imaginar que sim depois que o encontrei no seu quarto. —Ela sorriu pra mim, enquanto eu desviava os olhos pra panela quando senti meu rosto esquentar. Mas ainda sim, estava sorrindo também. —E qual a discussão de hoje?

—Nenhuma.

—Tem certeza? Pela cara da Mavie no sofá, parece que era alguma coisa. —Afirmou, erguendo a mão e ajeitando meus cabelos, enquanto eu soltava um suspiro trêmulo e erguia os olhos pra ela. —Jas, nenhum de nós acha que isso que você está passando é fácil. Ter as pessoas te julgando por algo que você nem fez e por culpa de outra pessoa, é horrível de muitas formas diferentes. Mas a culpa não é sua e você não tem que se sentir mal por nada. Você não fez nada de errado, não importa o que todo mundo possa falar nas suas costas. Essas pessoas... elas nem mesmo são importantes. Sua família está aqui te apoiando e a gente te ama.

—Eu só queria conseguir ir até a arena e ignorar todas essas pessoas. Sei o quanto esse jogo é importante pra ele e queria estar lá. —Falei, enquanto ela me encarava com uma expressão acolhedora e compreensiva, que fazia meu coração derreter dentro do peito. —Mas eu não consigo.

—Porque você não se acha corajosa.

—Porque eu não sou. —Afirmei, engolindo o nó que havia na minha garganta quando minha mãe sorriu e balançou a cabeça negativamente.

—O que eu disse a você aquele dia? De todos os meus filhos, você é a mais corajosa deles. E sabe por quê, Jasmine? —Indagou, e eu neguei com a cabeça, sentindo minha garganta arder com a vontade de chorar. —Porque ser corajoso nem sempre é sobre enfrentar seus medos. É sobre ser obstinada, confiante, atenciosa e, a principal deles, ter um coração grande o suficiente para se importar com a felicidade dos outros. E você é exatamente assim.

Ela passou o braço ao redor da minha cintura, enquanto eu escorava minha cabeça no seu ombro, absorvendo as coisas que ela dizia.

—Eu me lembro quando estávamos adotando o Joe. Estávamos ansiosos demais e tudo parecia um caos na nossa casa, porque não conseguíamos manter a calma para recebê-lo da melhor maneira possível. Era nosso primeiro menino e sabíamos que ia ser inesquecível. —Minha mãe continuou acariciando meus cabelos, enquanto falava todas aquelas coisas. —Mavie estava com uma crise alérgica e chorava sem parar. Você, Jasmine, foi a responsável por acalmar todos nos. Você estava tão ansiosa pra conhecer o Joe, mas segurou eu e seu pai pela mão e nos disse que precisamos manter a calma, porque esse seria o lar dele e ele precisava se sentir o mais amado possível. Você cuidou da Mavie enquanto preparávamos tudo. Você segurou a barra pra gente. Você foi corajosa, meu bem.

Ela se afastou, me virando para ficar de frente pra ela. Nem percebi que estava chorando até senti-la limpar as lágrimas das minhas bochechas, com um sorriso caloroso nos lábios.

—Você vai naquele hospital todos os dias, porque sabe o que é ser uma criança que viveu parte da vida em um hospital. Você é corajosa por todas elas, sempre tentando demonstrar o melhor, mesmo que aquele lugar te traga lembranças tristes. —Minha mãe segurou minhas mãos, enquanto se inclinava e deixava um beijo na minha testa. —Você enfrentou a timidez pra ir visitar um rapaz no hospital, mesmo que ele não fizesse ideia de que você estava lá. Tudo isso porque você não queria que ele se sentisse sozinho. Então sim, você é tão corajosa, Jasmine, que seria capaz de dar apoio pra esse mesmo rapaz, mesmo com todos contra você. Porque é isso que você sabe fazer, filha, ser a melhor pessoa que qualquer um precise.

Briar Harding

Ajeitei as luvas na mão, enquanto batucava meus pés no chão, tentando não pensar no jogo que estava prestes a acontecer, porque sabia que isso poderia me deixar nervoso. Então foquei todos os meus pensamentos em Jasmine. Sabia que ela estava em casa assistindo pela tv. Queria mais do que tudo que ela estivesse ali comigo, mas entendia o fato de não conseguir. Ninguém estava me olhando torto, mas com ela era totalmente diferente.

Fiquei de pé quando escutei os jogadores chamando, sentindo meu coração disparando de ansiedade. Nosso treinador não estava ali, então aquele posto era meu hoje, assim como Conwey seria para o time dele. Comecei a murmurar para o time para que terminassem de se arrumar rápido, porque o jogo estava quase começando. Mas travei assim que encontrei Nathan sentado, vestindo as proteções nas pernas.

—O que você está fazendo aqui? —Questionei, sem saber como reagir quando meu melhor amigo ergueu a cabeça e me encarou, com pura resignação nos olhos. —Pensei que não fosse jogar.

—Eu só vim pra evitar que você se mate com o Conwey lá dentro. —Nathan ficou de pé, puxando o taco de hóquei dele, enquanto respirava fundo. —Porque depois que o jogo terminar, eu mesmo vou matá-lo por nos enfiar nisso.

—Tudo bem. —Soltei uma risada, me sentindo tão grato por vê-lo ali. Mas esse era o Nathan, o cara que jogou com uma faixa com meu nome no braço quando eu estava em coma. —Então vamos entrar no gelo e vencer esse jogo.



Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Onde histórias criam vida. Descubra agora