Capítulo 8: Pode pular o livro dele.

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Briar Harding

Tinha algo espetado no meu braço, o que era um incômodo muito grande, porque pinicava e me deixava inquieto, porque eu não conseguia me mexer para ver o que era. Tinha um blip estranho e continuo na minha cabeça, que me deixava incomodado, porque só queria que parasse, mas não conseguia despertar o suficiente para fazer isso.

Eu tinha tido uns sonhos esquisitos também. Vozes ao longe e abafadas. As vezes eu entendia o que elas diziam e as vezes não. E tinha sempre o calor de mãos segurando as minhas. Conseguia diferenciar cada toque, porque eram muito diferentes um do outro. Alguns eu até podia imaginar de quem era e outros eram estranhos, mas calorosos.

Nathan usou uma faixa com o meu nome no braço no último jogo.

Qual o meu livro favorito?

Eu não conseguia pensar numa resposta, mas aquela pergunta estava pesando na minha cabeça como uma bomba relógio. Eu queria abrir a boca para responder. Aquela voz estava sempre presente nos meus últimos sonhos. O toque da mão gentil e macia na minha, como se quisesse deixar claro que estava ali comigo. Mas ela estava se afastando. Estava se despedindo.

Forcei minha mão a responder ao que eu queria, envolvendo a mão pequena e delicada que estava segurando a minha, porque não queria que ela fosse. Mas tão rápido quanto consegui segurar, ela desapareceu, junto com o som brusco de algo arrastando no chão. O barulho causou uma pontada na minha cabeça, me fazendo mergulhar no mais esquisito silêncio.

[...]

Minha irmã estava lendo um livro pra mim. Eu absorvia algumas frases e alguns sons vagos que ela fazia, quando estava rindo de alguma coisa que acontecia na história ou quando estava um pouco irritada. Havia outras vozes no fundo, mas não conseguia forçar minha mente a reconhecê-las. Estavam longe demais.

Forcei meus olhos a se abrirem, piscando várias vezes contra a claridade excessiva do quarto. Tudo era muito branco. O blip irritante estava na minha cabeça também, assim como o incômodo com aquela coisa que estava espetando meu braço. As vozes estavam em uma conversa acalorada, mas nenhuma delas era aquela voz. Ela tinha mesmo ido embora. Não consegui segura-la aqui. Ou aquilo era apenas um sonho? Não tinha certeza de mais nada, minha cabeça soava confusa.

—Meu Deus, esse cara é tão idiota! —Abigail resmungou, me fazendo descer os olhos para onde ela estava, sentada ao lado da minha cama com o livro no colo. —Estou com ranço dele desde o primeiro momento que ele apareceu. Garrett deveria dar um soco na cara dele.

Franzi a testa ao vê-la tão indignada com um simples personagem de livro. Mas eu a entendia, porque ficava da mesma forma quando estava lendo. Só que minha irmã não era tão ligada a livros como eu. Seu namorado irritante estava sentado em outra cadeira atrás dela, ao lado de uma poltrona onde Victor e Millie estavam sentados juntos. Os três estavam conversando sobre alguma coisa que estavam vendo no notebook de Victor.

—Se estiver se referindo ao Dean, eu também o acho insuportável. Pode pular o livro dele se quiser. —Sussurrei, fazendo uma careta com o quão rouca e estranha minha voz tinha saído.

O quarto foi tomado por um silêncio que me fez olhar para Abigail de novo, vendo-a me encarando com os olhos arregalados, enquanto os outros três estavam mudos e imóveis, como se não tivessem certeza que tinham ouvido certo. Pensei em perguntar o que estava rolando, mas o gosto de remédio na minha boca me deixou enjoado. O livro caiu das mãos de Abigail para o chão, enquanto os olhos dela se enchiam de lágrimas.

—Você acordou! —Exclamou, ficando de pé e vindo pra cima de mim. O fato de ela estar chorando me deixou assustado, assim como Julian ter ficado de pé e corrido pra fora do quarto chamando alguém.

—Eu não deveria ter acordado? —Indaguei, tentando abraçar Abigail de volta quando ela se inclinou sobre mim e me abraçou, chorando com o rosto escondido no meu peito. —O que está havendo? Por que está chorando?

Olhei ao redor, finalmente me dando conta de que estava em um quarto de hospital. Mas não me lembrava de ter ido parar ali. Julian passou pela porta de novo, seguido pela minha mãe. Ela estava pálida, mas começou a chorar assim que seus olhos encontraram os meus.

—Você acordou! —Ela veio para o lado da cama, tocando meu rosto quando Abigail se afastou. —Você finalmente acordou!

—O que está acontecendo, mãe? —Indaguei, tocando a mão dela que estava no meu rosto, sentindo minha cabeça ainda mais confusa do que antes. —Por que estão chorando? O que eu estou fazendo no hospital?

—Você não se lembra de nada? —Ela afastou os fios de cabelo da minha testa, enquanto eu forçava a minha mente a pensar nas últimas coisas que eu tinha feito.

—Me lembro de estar entrando no gelo pro jogo da final. —Falei, levando minha mão até a testa para esfregar o local, porque o ato de pensar estava fazendo minha cabeça latejar com uma dor de cabeça tremenda. —E depois disso mais nada. O que aconteceu?

—Você sofreu uma pancada no final do jogo, meu bem. —Minha mãe explicou, parecendo cautelosa com as palavras. —Veio pro hospital logo em seguida, porque não conseguiam fazer você acordar.

Pisquei várias vezes, incomodado com as paredes brancas daquele lugar. O blip irritante se tornou mais frequente quando meu coração disparou, absorvendo aquelas palavras da minha mãe, junto com as lembrança do jogo que invadiam a minha mente. Nos estávamos na frente. Eu estava com o disco e tinha o lançado para a rede. Conway partindo pra cima de mim e então mais nada.

—A gente ganhou, não foi? —Indaguei, olhando para a expressão chorosa e feliz da minha mãe. —Talvez seja melhor ligar para o Nathan ou para o treinador. Eles devem estar preocupados comigo. Não quero estragar a comemoração de ninguém. —Minha mãe olhou ligeiramente para Abigail, que se encolheu ao voltar para a cadeira e desviar os olhos de mim. —O que foi? Qual o problema?

—Vocês venceram, filho. —Ela passou a mão pelas minhas bochechas, enquanto meu coração martelava no meu peito, com a sensação de que eu estava perdendo alguma coisa. —Mas isso faz um pouco mais de um mês.



Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Onde histórias criam vida. Descubra agora