O Porto de Puyei
Gritos estrondosos fizeram Eldrey saltar, despertar de seu sono junto de um movimento de levantar que levou sua testa ao encontro do baixo teto.
Não conseguia nem mesmo gemer de dor; quando seus lábios se abriram e sua mão passou a se mover em direção à testa, um movimento brusco, uma inclinação do jato para baixo, o fez bater no banco da frente, cair de seu assento.
Conseguiu finalmente levar suas mãos até seu rosto e exclamar. Seu estômago mimado e infantil chegou a revirar.
— O QUE É ISSO? — Levantou seu rosto, virando-o para frente.
Os gritos intensificavam-se cada vez mais.
E o jato seguia a inclinar.
A bile subia pela garganta de Eldrey, que trancava seus lábios, impedindo qualquer substância dali sair. Seus dedos passaram a contornar sua boca enquanto seus olhos corriam pela figura apavorada de Ander, que segurava um manche.
Um manche sem ligação alguma com o painel em que deveria estar. Os botões por ali espalhados dançavam entre cores, seguindo o ritmo de uma sirene que não parava de tocar.
Eldrey não tinha medo de altura, mas, naquele momento, seu coração estava prestes a saltar. Uma fada não tem porque ter medo de cair, suas asas sempre iriam salvá-la. Mas Eldrey não era uma fada, pelo menos não uma real. Seus poderes funcionavam, mas suas asas não.
Puri estava ainda mais apavorada. Os nós de seus dedos estavam brancos de tanto segurar o banco em que se encontrava, perfurados no material acolchoado. Seus olhos estavam fechados, soltando breves lágrimas que borravam sua maquiagem de palhaço. Era possível observar o chão se aproximando a partir do reflexo do nariz azul da garota. Quando a voz de Eldrey ecoou, os lábios dela logo se fecharam, e agora encontrava-se mordendo-os sem parar.
O feérico nunca imaginou ver aqueles olhos cheios d'água, e Puri parecia querer disfarçar.
Ander saltou junto da voz do garoto.
— ELDREY! — exclamou, encontrando os olhos verdes pelo espelho retrovisor. — ESTOU TENTANDO RESOLVER, VAI DAR TUDO CERTO!
Eldrey encolheu seus ombros e escorou-se nos assentos à frente, tentando manter-se presente. Sua visão girou, e a ansiedade o tomou.
O chão estava cada vez mais perto.
Ander riu com seus olhos arregalados.
— Ficará tudo bem — ele murmurava repetidas vezes. — Tudo bem, tudo bem... — Nada fez. Seus braços não se mexiam, suas mãos ainda seguravam o manche solto.
Os grandes olhos de Puri foram para Eldrey. Sua respiração estava ofegante, e ela tentava controlar. Em pouco tempo, sua pele, antes pálida, tomou o tom original, mais avermelhado, e sua postura passou a relaxar. Puri sabia disfarçar.
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O Cassino Tosuhosue
Fantasy🏆 Primeiro Lugar na Terceira Edição do Concurso Cósmico - Categoria Fantasia Eldrey, um feérico, é o príncipe de Ecsuji, enquanto Puri é a dona do maior cassino da periferia do reino: o Cassino Tosuhosue. Seus caminhos se cruzaram quando Eldrey, a...