O Pequeno Capitão Thalgrim
— Trezentos e cinquenta, quatrocentos... — somava Puri, a cada cinquenta, o valor total do punhado de cédulas vermelhas que o capitão entregava-lhe —, quatrocentos e cinquenta, quinhentos... — Ela franziu o cenho. De soslaio, encarou o mais baixo. — Só quinhentos?
O navio de carga do Capitão Thalgrim – homem conhecido pelos sete mares, ridiculamente, pelo codinome "O Pequeno" – seguia em direção ao norte conforme a escuridão preenchia os céus. No momento, os raios solares começavam a esconder-se timidamente por trás das rochas que contornavam o horizonte do Oceano Igniluz, que dividia o país do fogo com a nação feérica, dando para o céu um tom alaranjado.
Thalgrim, com seu chapéu de três pontas e suas botas que cobriam de seus pés até seus joelhos, trocava com Puri o dinheiro de Eldrey, seus feyuros por beúzhes – nome dado à moeda de Vihle. No instante em que a palhaça indagou-lhe, o capitão deu de ombros; seus brincos cintilaram conforme seu rosto se movera.
— Vihle está em melhor estado econômico.
As sobrancelhas de Puri juntaram-se ainda mais, e seu nariz de palhaço moveu-se para cima junto do curvar de seus lábios.
— Quinhentos beúzhes, o que se compra com isso?! — lançou a pergunta pelos ares, jogando sua cabeça para trás, deixando seu olhar encontrar a silhueta de Eldrey. — Estamos pobres, fadinha.
O príncipe tampouco ouviu. Enquanto Puri mexera em seu dinheiro e trocara-o com o capitão, o feérico posicionara sua cabeça para fora do navio, pela quinta vez naquelas dez horas, despejando aos mares toda a bebida e comida que comera durante a viagem. E, agora, seguia na mesma posição, de costas para ambos, sem nem ao menos ter o que vomitar.
Puri suspirou, movendo-se para o lado do príncipe, fazendo o chão ranger, e agarrando seus cachos bagunçados, deixando seu rosto pontiagudo e quase translúcido voltado para cima. A expressão da palhaça era preenchida por desgosto.
— Você me ouviu, majestade?! — Soltou os cabelos loiros-escuros, e a testa de Eldrey encontrou, em um impacto, a madeira em que se encostava.
— Ai... — choramingou. — Não... — respondeu, atordoado, sentando-se, ao poucos, no convés. Levou seus dedos até a parte que machucara, massageando o local. Seus lábios estavam pressionados em uma linha fina enquanto segurava a bile que ameaçava subir por sua garganta. O estômago de Eldrey atordoava-se todas às vezes em que seus pés afastavam-se da terra firme, aproximando-se seja do mar ou do céu, e, para piorar, dessa vez, um tripulante passara o percurso inteiro oferecendo para ambos comida e bebida. Como ele poderia ter recusado?
A palhaça revirou seus olhos azuis, escorando-se na plataforma em que o príncipe apoiou-se. Jogou sua cabeça para trás, retirando o fino capuz que vestia. Sentia a maresia atingir suas bochechas e o vento balançar suas tranças.
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O Cassino Tosuhosue
Fantasy🏆 Primeiro Lugar na Terceira Edição do Concurso Cósmico - Categoria Fantasia Eldrey, um feérico, é o príncipe de Ecsuji, enquanto Puri é a dona do maior cassino da periferia do reino: o Cassino Tosuhosue. Seus caminhos se cruzaram quando Eldrey, a...