Os Camaleões
Andando em fila única, Atho guiava Eldrey, Puri e Ander pelos becos de Tauli Ja Bici, no momento em que o sol se escondia por trás dos vulcões adormecidos e os globins de fogo encerravam seus turnos e, timidamente, davam as caras pela cidade. A cada instante, uma chama cruzava o caminho dos quatro, fazendo com que Eldrey saltasse e Ander se escondesse atrás de Puri, mesmo sabendo que eram apenas os pequenos fugindo dos olhares.
Tudo havia sido planejado: enquanto os nativos do fogo se escondiam da escuridão próxima, o grupo caminhava disfarçadamente pelas ruas, indo ao local de encontro dos Camaleões.
— Quem são os Camaleões? — Puri havia perguntado quando ainda estavam em casa, ajustando sua maquiagem de palhaço, gritando de dentro do banheiro.
Amarrando o cadarço de seus coturnos, Eldrey acumulava os xingamentos que recebera por perguntar por que ele e Ander não podiam vê-la sem o nariz redondo. Por um momento, recusou-se a responder, mas, ao ver que Ander também aguardava uma resposta, cedeu.
— É um grupo comandado pelo Atho. — Bateu o pé contra o chão, indo para frente do espelho e ajustando os cachos do cabelo. — São pessoas que não gostam do governo de Joás.
O que Eldrey havia omitido era que, além dos Camaleões, existiam outros dois grupos em outros estados de Tauli Ja Bici, comandados por outros dois espiões de Ecsuji, ou, pelo menos, eram dois – ao se lembrar da morte de Miel, passou a bolsa tira-colo pelo corpo e se dirigiu à sala, distraindo-se com as faixas entre as mãos para despistar os pensamentos.
Agora, entre os becos da cidade, enquanto Eldrey e Atho conversavam na frente sobre questões que pouco importavam para Puri, a palhaça atualizava Ander, em murmúrios, do segredo de Eldrey. O pequeno, ao ouvir, evitava esboçar reações, mas, quando passavam por ambientes vazios, deixava o queixo cair.
— Então ele é uma fada — sussurrou, coçando o queixo — que não voa? — Juntou as sobrancelhas, virando-se para Puri. — E, por isso, ele não consegue passar pelas barreiras de Hebey e precisa do amuleto?
A palhaça acenou com a cabeça. Ander deixou os lábios em formato circular, surpreso.
— Que horrível. Eu pensei que o amuleto era somente valioso, não que Eldrey precisava dele para entrar no próprio reino.
— Um idiota, não é? — ironizou Puri, balançando suas tranças. — Agora você entende porque o desprezo tanto.
Uma tosse ecoou.
— Eu escuto vocês — interrompeu Eldrey, fitando-os por cima dos ombros.
A palhaça pôs a língua para fora, pouco se importando, e Ander fingiu não escutar, voltando a falar apenas quando o príncipe bufou e virou-se para o padrinho.
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O Cassino Tosuhosue
Fantasy🏆 Primeiro Lugar na Terceira Edição do Concurso Cósmico - Categoria Fantasia Eldrey, um feérico, é o príncipe de Ecsuji, enquanto Puri é a dona do maior cassino da periferia do reino: o Cassino Tosuhosue. Seus caminhos se cruzaram quando Eldrey, a...