Aprendendo a ser pobre

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Segunda feira de manhã. Não há realmente alguém animado para colocar um uniforme e ir para qualquer lugar que seja, independente de ser trabalho, escola, faculdade. Jungkook concordou veementemente com essa afirmação durante vinte e quatro longos anos de sua existência. Não hoje.

Nessa segunda em específico, logo nos primeiros raiares do dia, envolvido em um roupão felpudo preto, Jeon se decide entre cinco camisas e três calças, deixando no fundo de sua mente uma vaga lembrança de questões matemáticas como essa na escola, quantas combinações eram possíveis? Qual o deixaria mais pobre e bonito?

Não pela primeira vez desde que viu seu futuro marido, os números de telefone do seu irmãozinho mais novo. Jeon Junghyun era o nome do pior pesadelo de Jeon Jungkook, e também um de seus maiores amores.

— Pirralho?— Soltou o telefone na cama ao acionar o viva voz no aparelho, dividindo o olhar entre as peças.

—  Eai Hyung meu, o que manda?

Lembra daquela blusa que você me deu?

Aquela que eu juntei o dinheiro do lanche por dois meses pra te dar e você nunca quis usar?— Jogou na cara o que para si era imperdoável, poderia muito bem ter pedido dinheiro pra comprar, eram milionários, mas fez questão de juntar o seu próprio. Bom, não era cara o bastante para seu hyung usar.

— Ela mesmo— Tocou o tecido maleável, não era tão ruim mas também não era uma gucci— Acha que o hyung ficaria bonito usando?

Um suspiro derretido do outro lado da linha. Será que enfim seu irmão usaria algo comprado por si?

— Ah hyung— O moleque realmente ficou feliz, até um pouco emocionado— Claro que não, com esse seu narigão nada fica bonito.

Enfim soltou a gargalhada maléfica de vingança que guardou por meses, desligando o telefone na cara de um adulto chocado com o quão a opinião de um adolescente que ainda precisava trancar a porta pra bater punheta o afetava. Notou isso quando é aproximou do espelho do seu closet e ficou demoradamente encarando o nariz, de perfil, de frente, as narinas, nada passou batido por seu olhar analítico, então concluiu. Era um bom nariz.

Algum tempo gasto com mais crises inéditas de insegurança depois, Jungkook desceu os andares usando o elevador, escolheu o andar subsolo, onde todas as suas máquinas foram cuidadosamente nomeadas de acordo com alguma característica marcante. Tinha sua Ferrari chamada Loba, tinha sua Masserati de nome Feroz, agora também tinha seu Fiat chamado Tilango.

— É amigão, espero que a gente se dê bem.

O primeiro problema foi abrir a porta emperrada pela ferrugem, teve que forçar com o pé e puxar a maçaneta com a não. Claro que não mais problemático que mexer em algum caro sem câmbio automático, câmera de ré, sensor de aproximação...

Saindo dali até entrar alguns minutos depois em uma rua já mais conhecida, Jeon se sentiu estranho, nenhum dos olhares que estava tão acostumado a receber chegavam a si pela janela aberta. Quando dirigia um carro luxuoso ele se sentia assim, luxuoso, mas agora que tinha em suas mãos um  volante descascado, num carro cheirando mofo, ele se sentiu comum.

Estacionou o carro no estacionamento pequeno do mercado e mais uma vez se lembrou das diferenças enormes de sua vida quando notou que não era necessário acionar o alarme, quase riu com isso. Entrar no mercado pequeno ainda fechado não foi mais tão estranho, até era legal chegar e ver os funcionários arrumando algum produto em prateleiras, mesmo ainda não tendo visto sua razão de estar ali.

— Jeon?

Era um cara que o chamava, um rosto  esbobe tão bem conhecido por si. Não conhecia o cara, obviamente, mas conhecia essa feição esnobe, ele também tinha, ou tem, não tinha certeza.

O que eu não faria por Park Jimin?Onde histórias criam vida. Descubra agora