— Alô?— a voz rouca soou no telefone, sob o olhar curioso da progenitora. Jieun dividia o olhar entre cortar os maracujás do molho e bisbilhotar a conversa de seu filho, pelo tom de voz que ela reconhecia bem, só podia ser algum assunto envolvendo negócios, ou compras, será um helicóptero outra vez?— O senhor é o dono do Fiat Uno que tá no anúncio?O som da faca caindo no balcão moderno reverberou na enorme cozinha silenciosa, a mulher nem sabia que seu menino tinha conhecimento desse tipo de marca de carro.
—– Hm, entendo, certo— pigarreou, prestando atenção no que o outro homem dizia, até demais— Certo, queria pra amanhã.
— Amanhã não posso, domingo né meu parceiro.
Jungkook bufou, esfregando as mãos suadas num gesto frustrado, sua única esperança de fingir de pobre era essa, um carro velho. De maneira alguma tinha apenas um porshe, mas esse era um dos mais humildes que possuía, então os outros eram impossivelmente caros.
— Domingo supermercado funciona?— Perguntou curioso, recebendo a resposta "só na parte da manhã"— Eu preciso pra hoje então.
— Hoje tem jogo mata-mata do meu time do cora‐
— Eu te pago duzentos mil a vista por esse carro e um par de roupas velhas tamanho G masculino, escuras de preferência— Negociou, agora com um sorriso que sempre procedia os bons negócios— Endereço te mando por email, foi um prazer fazer negócios com o Senhor.
Com um olhar cada vez mais espantado, com o maracujá ainda em mãos, Jieun não conseguiu formular palavras o suficiente para questionar a compra tão inusitada de um carro popular.
— Endoidou?
Com um suspiro encantado, Jeon se aproximou da mulher, estendendo a folha A4 para que ela lesse, e se tudo não estava esquisito o bastante, aquela oferta de emprego coroou a situação.
— " Contrata-se atendente de supermercado— ela leu em voz alta, enfim soltando o fruto para ler melhor, já que estava sem seus óculos— Meio período, um salário mínimo"? Que isso?
Outro suspiro dramático depois, Jeon tomou cuidadosamente o papel das mãos da mãe, desamassando um pouco seu tesouro.
— Isso senhora Jeon, é o meu futuro.
— Vai investir no ramo alimentício outra vez?— ela finalmente entendeu, suspirando aliviada ao ter enfim a prova que seu filho não seria levado amarrado a um manicômio— Você comprou algumas filiais do Subway?
— Não vou investir em nada além de botar um anel no meu dedo.— Jungkook explicou paciente, sem se importar com a nova síncope nervosa de sua mãe— Conheci meu futuro marido agorinha.
— Tá bom— Jieun caminhou até a mesa da cozinha, onde os funcionários comiam quando o chefe não estava, e se sentou, sentindo sua pressão repentinamente ficar baixa— Eu quero ouvir?
— Não sei se quer ouvir, mas eu quero falar— Jeon se sentou próximo, colocando os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos abertas, um olhar sonhador de quem se lembrava de algo muito bom— Eu conheci um cara tão lindo mãe, tão lindo que eu nem tinha certeza se eu tava mesmo acordado até bater meu dedo no sofá quando eu cheguei.
— E ele vai ser seu marido porque é bonito?— a mulher riu, achando graça na situação— Belo romance.
Jeon coçou a nuca sem jeito, levantando de novo o papel para ela, como se explicasse tudo.
— Por enquanto sim, mas pra conhecer meu chuchu melhor vou trabalhar com ele— apontou pra o titulo escrito no papel— Vou ser o mais novo atendente do supermercado tanajura.
A mulher o olhou consternada, sem saber realmente o que falar, ela queria que o filho fosse um pouco mais humilde, mas tanto assim?
— Você que sabe— deu de ombros— Mas e a empresa?
— Meio período ganhando mil e pouco, meio período ganhando vinte milhões e pouco— piscou um olho, ficando de pé para procurar outro peixe em sua geladeira enorme — Equilíbrio é tudo mamãe.
○●○
— Park, se sente— o dono do estabelecimento exigiu, sendo pouco cuidadoso com o tom de voz ao se dirigir ao rapaz. Jimin não podia não obedecer.
— Gostaria de falar comigo senhor Byul?— questionou olhando para mesa de madeira, evitando seu chefe.
— Você anda fazendo mais horas extras que posso pagar garoto— Não era verdade, ele podia pagar, mas entre poder e querer existe um abismo notório.
— Eu realmente preciso dessas bonificações senhor— puxou os fios para traz. Jimin realmente não sabia o que fazer agora, sem esse dinheiro extra que recebia, o remédio que aumenta a imunidade de seu pai e impede o câncer de metastasear mais rápido ficaria fora de seu orçamento ainda mais do que já estava.
O homem barrigudo assentiu, tirando uma calculadora básica de uma das gavetas de madeira e abrindo uma agendinha que já estava em cima da mesa, fazendo cálculos e os repassando para o papel.
— Não vou estar podendo, pode ir.
Jimin odiava gerundismo, mas odiava ainda mais seu chefe, ele realmente pensava que o ruivo não o viu desenhando o Kakashi no papel em que ele fingia fazer contas? Mesmo enraivecido Jimin apenas se curvou saindo da sala sem nem notar em quem esbarrou quando passou pelo corredor.
Jeon notou em quem esbarrou, sorrindo largo ao sentir o perfume que provavelmente tinha sido comprado numa promoção de revista da Avon. Alguns minutos de reflexão depois, o moreno entrou na sala do Byul alguma coisa que ele não se deu o trabalho de decorar.
— Senhor Byul– se curvou, sentando-se na cadeira onde Jimin estava alguns minutos atrás— Gostaria de apresentar meu currículo pra que o senhor me dê uma chance de trabalhar aqui.
O barrigudo apenas tomou as cinco folhas totalmente preenchidas, sem acreditar nas informações contidas em cada um daqueles tópicos.
— É o bastante?— Jeon coçou a nuca inseguro, nunca tinha entregado currículo na vida, já que desde cedo trabalhou na empresa de Petroquímicos do seu pai, agora sua— Eu só coloquei cinco idiomas porque os outros eu não tenho muita segurança de falar com nativos...
— Você diz aqui que tem duas faculdades, fala cinco idiomas, intercâmbios diversos, cursos complementares em administração, relações internacionais...— o homem continuou falando por minutos tudo que lia, casa vez mais impressionado— E quer trabalhar aqui?
— Querer não quero— foi sincero, seus dedos casualmente tocando os buracos de sua "nova" blusa preta puida— Mas preciso.
O homem enfim entendeu, só podia ser aquele baixinho com rosto de modelo e corpo de alguém que facilmente apareceria em revistas adultas, não seria a primeira vez que alguém pediria emprego por isso, mas pela primeira vez contrataria.
— Certo— o homem assentiu, assinando um papel e entregando-o para Jeon assinar também, obviamente depois de ler todas as linhas. Depois de conversaram mais um pouco sobre horários e regras, o moreno foi em direção a porta— Jeon?
— Sim?— olhou pra trás, onde o homem o encarava com seriedade.
— Park Jimin está passando por uma série de problemas financeiros— explanou a situação, não queria ajudar com seu próprio dinheiro, mas não faria mal alguém fazer— Converse com ele, tente ajudar.
Jeon não poderia fazer diretamente ainda, mas com certeza pensaria em algo para ajudar seu pequeno anjo de cabelos vermelhos.
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O que eu não faria por Park Jimin?
FanfictionJungkook sempre teve tudo que o dinheiro pode comprar e uma convivência nula com pessoas de classes sociais diferentes. Até que um dia, movido a um engano da sua mãe, foi parar no mercadinho Tanajura, onde trabalhava Jimin, o homem mais bonito que j...