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—Tchau amor, bom primeiro dia de aula. –Any curvou-se na janela do passageiro da pampa para beijar a bochecha de sua filha.

—Vou tentar ter... –disse a garota completamente desanimada com as novidades da vida.

—E ah! Não comente sobre a nossa família, evite falar de onde veio e não se esqueça que aqui você não é uma Portilla Velasco! –reforçou pela segurança e privacidade da família.

—Sim senhora... –suspirou —Vai ser péssimo não ser conhecida por aqui por quem sou. Mas ok, é tudo pelo papai.

Any sorriu minimamente e se afastou enquanto seu pai dava a partida no carro. Uma nuvem de fumaça subiu e a pampa arrancou dali fazendo um barulho do qual parecia que ia se desmontar a qualquer instante.

—Que horror... –Maria murmurou encolhendo-se no banco do passageiro.

—Sua mãe também não gostava nadinha de morar nesse lugar. –Enrique começou a falar diante do silêncio da neta —Só teve uma coisa que quase prendeu ela... Mas ai ela decidiu ir embora do nada. E você sabe né? Quando sua mãe coloca uma coisa na cabeça fede. –ele riu e Maria também não pode conter uma risadinha.

—Mas eu não preciso de nada pra me prender aqui vô... Meu pai vai ser solto logo. Ele é inocente. Então eu vou poder voltar pra cidade grande e pra minha vida de verdade. –disse tentando convencer mais a si mesma de suas palavras.

Enrique não respondeu nada. A verdade é que ele e sua mulher nunca foram a favor do relacionamento de Anahí com o político. Mas a filha alegava estar feliz então eles decidiram aceitar.

Por livre e espontânea obrigação.

O caminho para o colégio parecia eterno. Até que enfim a estrada de terra foi substituída pelo asfalto e o verde do mato começou a ser substituído por casas e mais casas.

A cidade não era nem um pouco parecida com onde Maria morava. Para ela aquilo ali ainda era a roça.

—Chegamos! –Enrique exclamou estacionando a pampa barulhenta.

—Esse é o colégio?? –Maria franziu o cenho encarando a estrutura que não era nada parecida com o colégio particular onde estudava antes —Não acredito que estou prestes a cursar meu último ano aqui! Que desperdício! E meu pai falou que era um dos melhores! –dispara a garota encarando o avô.

—E é! –Enrique exclama orgulho sem entender a oposição da neta.

—Não é possível que isso tudo esteja mesmo acontecendo comigo! –ela ri de sua própria desgraça —Olha vô, se eu pudesse dizer uma coisa que me define super agora é... é... –ela procurou palavras —É muito difícil ser eu!

Maria bufou ajeitando a bolsa nas costas e quando estava prestes a sair seu avô a chamou para dar mais um recado.

—Ah, combinei com o fi do ajudante lá da fazenda de te dar uma carona depois da aula. –avisou.

—Ok. Pelo menos carona pra casa eu vou ter. –suspirou saindo do carro —Tchau vô, obrigada.

—Imagina fia! Boa aula! –então ele arrancou com o carro velho deixando uma nuvem de fumaça para trás.

—Ai que horror! –Maria tossiu abanando o ar.

Logo a garota caminhou escola a dentro, sua cara não escondia o desgosto de estar ali. Maria olhava para os lados encarando oque agora seriam seus "colegas" de escola.

—Oi! –a loirinha teve seus passos interrompidos por uma garota que praticamente saltou a sua frente.

—Ai que susto maluca! –Maria arregalou seus olhos azuis sobressaltando levemente —Quem é você?

—Camila! Prazer! –estendeu a mão e antes que Maria pudesse falar qualquer coisa ela foi disparando: —Você é nova né? É claro que é nova. A cidade é pequena, todo mundo se conhece e você eu não conheço. Você é linda uau! –elogiou sinceramente descendo seus olhos castanhos para observar Maria.

—Obrigada. –a outra garota respondeu seca dando um mínimos sorriso e nem se quer correspondendo ao tentativa de aperto de mão da tal Camila.

—Bom... Tabom! –ela sorri dando de ombros e recolhendo a mão —Em que turma você vai entrar? Espero que seja no terceiro porque ai você vai ser da minha sala! –Camila continuou abrindo um sorrisão.

—Segundo. –mentiu só para se ver livre da "super simpática" —Agora se me der licença... –ela aponta fazendo menção de passar porem mais uma vez Camila se coloca a sua frente.

—Posso te levar na sala do segundo então! –exclamou animada enquanto Maria apertava os olhos e respirava fundo.

—Não precisa. –ela força um sorriso segurando a garota pelos ombros e a tirando de sua frente —Eu aprendo o caminho.

—Ah... tudo bem. –Camila assentiu virando-se para observar a garota se afastar no corredor —Ei só mais uma coisa! –ela grita fazendo Maria parar e encara-la novamente por cima do ombro.

—Oque? –perguntou mas seu interesse era zero em saber realmente do que se tratava.

—Se quiser passar o recreio comigo, eu sempre fico na quadra! –convidou sorridente.

—Recreio... –Maria repetiu com uma careta de desgosto —Pode ter certeza que eu vou lembrar disso. –forçou um sorriso.

E ao virar-se novamente para sair dali Maria deu literalmente de cara com o peitoral de uma pessoa bem maior do que ela. Um líquido quente se espalhou entre eles fazendo a garota se afastar num grito.

—VOCÊ NÃO OLHA PRA ONDE ANDA NÃO? –ela berrou chamando atenção de todos a sua volta enquanto erguia os olhos para o rapaz parado a sua frente.

—Como é? –Alfonso ergueu as sobrancelhas, em sua mão o copinho descartável onde antes estava seu café, agora se encontrava todo amassado.

E o café espalhado pela roupa de ambos.

***

NOCAUTE -AyA  (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora