—Já vai dar o horário da minha aula. –Poncho levantou-se da cadeira que ocupava na sala dos professores ao conferir o horário no celular —Preciso ir pra quadra.
—Vai lá... Eu tenho o próximo horário vago que vou aproveitar assistindo minha série. –Dulce sorriu conectando os fones de ouvido em seu celular.
Alfonso deu risada e juntou seu material para sair dali, foi quando rapaz caminhava pelo corredor em direção a quadra que avisou uma cabeleira loira saindo de uma das salas.
Seu corpo inteiro travou. Foi como se ele levasse um choque. A moça estava de costas, olhando para a direção oposta a ele mas ainda assim ele a reconheceria.
Dezessete anos haviam se passado.
Mas ainda assim ele a reconheceria.
Então, como se o mundo mudasse a velocidade para lenta, a mulher virou-se e aquele par de olhos azuis tão intensos foi direto de encontro com os dele.
Foi como se o seu coração parasse por alguns segundos e retornasse batendo mil vezes mais forte, mais rápido e mais descompassado.
Nem as fotos de Christopher dizendo que ela estava na cidade o prepararam para aquilo.
—Anahi? –sua voz saiu quase falha e no automático.
Any entreabriu os lábios algumas vezes mas as palavras pareciam entaladas em sua garganta. Nada saia.
Ela era capaz de ouvir as batidas de seu próprio coração.
—Professora? –uma vozinha deliciada tirou a loira de sua transe enquanto a mãozinha puxava a ponta de sua camiseta.
Anahi virou o rosto de uma vez para encarar a criança que lhe chamava, tentando ignorar o quanto suas mãos suavam e tremiam de nervoso.
—O-oi, meu amor? –a moça não foi capaz de controlar suas palavras que saíram gaguejadas.
—Eu posso ir ao banheiro? –a pequena garotinha pediu.
—Ah, claro. –Any assente repetidas vezes enquanto leva uma mecha de cabelo para trás de sua orelha —Pode ir.
A garotinha sorriu e correu dali, Anahi voltou seu olhar para onde Poncho estava parado a segundos atrás porém ele já não estava mais ali.
Um nó forte se formou em sua garganta e ela teve de prender a respiração por alguns segundos. Depois de tanto tempo Anahi não esperava sentir tudo oque sentiu. Foi como se nada tivesse mudado.
*
—Esqueceu alguma coisa? –Dulce ergue os olhos assim que Poncho atravessa novamente a porta da sala dos professores.
Ele passou de pressa, tão desnorteado que mal ouviu as palavras de Dulce Maria. Seu rosto vermelho denunciava que algo havia acontecido.
E Dulce não precisou de muito para saber oque era.
—Ah não... –ela diz tirando seus fones e levantando-se —Aconteceu. Você viu a sua ex?
—Como você sabe? –Alfonso a encara assustado.
—Eu também a vi mais cedo. Não sabia como te falar, imaginei que você ficaria fora de si e...
—E-eu não to fora de si! –ele dispara —De mim. –corrige rapidamente oque entrega ainda mais o quanto estava nervoso.
—Tabom, você finge que é verdade e eu finjo que acredito. –Dulce ergueu seus braços em rendição.
Poncho soltou um suspiro pesado ao mesmo tempo em que apertava os olhos e esfregava uma das mãos no cabelo.
—Oque ela tá fazendo aqui? Porque voltou e porque... justo pra cá? –disparou o rapaz num vacilo de tempo onde não conseguiu guardar para si oque estava sentindo.
—A vida é uma caixinha de surpresas não é mesmo? –Dulce respondeu apertando seus lábios e afagando as costas do amigo.
—Foi só um choque. –Poncho respira fundo tentando recuperar sua postura —A Anahi pra mim já havia morrido e eu vou continuar vivendo como se fosse assim.
—É isso ai garoto! Assim que eu gosto de ver! Mostra quem é o maioral! –Dul exclamou batendo palmas afim de tentar motivar o amigo.
Mas o "maioral" não conseguiu fingir que o encontro de mais cedo não havia rolado. Ele até tentou fingir para os outros que não estava se importando. Tentou até fingir para si mesmo na verdade.
Mas a imagem de Anahi não saia de sua cabeça e foi difícil como o inferno se concentrar no restante do dia de trabalho sem aquele par de olhos azuis insistir em voltou como flashes na sua mente.
O mesmo acontecia com Any. Quando enfim o sinal tocou finalizando as aulas, a moça agarrou seu material e saiu em disparada, sem ao menos passar na sala dos professores.
Seu foco era pegar o carro, buscar Manu na escola e ir embora para a fazenda. Deixar todo o resto para trás.
Any estava tão "fora do mundo real" enquanto caminhava escola a fora que nem percebeu Angelique a sua frente. Deu de cara com a mesma assim que alcançou o portão.
—Any! –Angel abriu um sorriso que mais parecia forçado —Que coincidência boa! Então é nesse colégio em que está trabalhando?
—Ah, sim... –a moça assentiu rápido desviando seu olhar diversas vezes como se sentisse medo de encontrar um certo alguém mais uma vez.
—Você parece nervosa... Oque houve?
—Nada mas... mas eu preciso mesmo ir embora tabom? Foi legal te encontrar de novo. –dessa vez o sorriso forçado veio de Any que apressou os passos para sair dali.
Porém antes que ela pudesse se afastar completamente, ouviu a voz de Angelique atrás dela:
—Poncho meu amor!
Anahi nem olhou para trás tampouco esperou para ouvir a resposta do rapaz. Naquele momento ela só apertou o passo ainda mais e desejou ser teletransportada dali.
O caminho de volta para a fazenda foi quase uma tortura, ela mal ouvia as histórias que Manu lhe contava sobre o seu primeiro dia de aula na escola nova.
Assim que chegou, Any foi atingida pelo cheiro delicioso de bolo saindo do forno. Aquilo a confortou 5%.
—Oi querida! –sua mãe sorriu enquanto desenformava o bolo no balcão. Emi estava sentado no mesmo e sorriu para a mãe.
—Mamãe, eu fiz um bolo com a vovó! –Emi sorriu orgulhoso.
—Que bom meu amor! –ela forçou um sorriso mas não foi capaz de estender o assunto. Seus pés a guiaram de forma desesperada para o banheiro.
Ela precisava ficar sozinha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
NOCAUTE -AyA (EM PAUSA)
FanfictionDezessete anos se passaram desde que Anahí terminou com Alfonso simplesmente do nada. Desde que Anahí foi embora da pequena cidade sem aviso prévio mudando todo o destino do casal. Any viveu uma vida completamente diferente dos planos que a garota...