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—Você é cego por acaso? Que saco! –bufou Maria histérica.

—Posso te ajudar a se limpar? –Camila surge rapidamente ao lado da loirinha que dessa vez nem contesta.

Alfonso por sua vez estava paralisado. De cenhos franzidos ele encarava a menina. Aquele rosto. O azul daqueles olhos...

—Vem vamos comigo. –Camila segura Maria pelos ombros a puxando dali em direção ao banheiro. Alfonso as segue com o olhar.

—Meu Deus até de costa... –ele murmura sozinho perdido em seus próprios pensamentos.

—Amigo oque é isso? –a voz de Dulce e seus olhos arregalados encarando a situação de Poncho, o tiraram de seu devaneio.

—Tomei um banho de café logo cedo. –ele bufa —E a mal educadinha nem pediu desculpas.

—TIRA A CAMISA PROFESSOR! –um grito feminino soou acompanhado de risadinhas.

—Apaguem o fogo! Ele tem idade pra ser o pai de vocês! –Dulce brincou encarando um grupinho de meninas que correu gargalhando.

*

—Ai só pode ser um pesadelo! –Maria praguejou esfregando papel molhado em sua blusa manchada mas a única coisa que ela fazia era piorar a situação da sujeira.

—Acho que isso não vai dar certo mas eu tenho um casaco na bolsa e posso te emprestar! –ofereceu Camila prestativa.

—Tá, que seja! –Maria cedeu —Eu só não vou sair parecendo uma mendiga por ai!

—Eu já volto, não sai daqui! –Camila correu banheiro a fora.

Maria bufou apoiando as mãos na pia e encarando seu reflexo no espelho sujo e riscado da escola.

—Eu ODEIO esse lugar! –murmurou entredentes antes de puxar seus fios loiros para trás enrolando-os num coque.

Não demorou muito para que Camila voltasse com um casaco. Maria achou brega mas era melhor do que sair por ai com uma mancha de café em sua roupa, então ela não disse nada. Só aceitou.

—Você disse que é do segundo ano né? Posso te ajudar a encontrar sua sala agora? –Camila perguntou animada.

—Eu sou do terceiro.

—Mas você disse que era do segundo... –Camila franziu o cenho.

—Me confundi. –inventou Maria encolhendo seus ombros e enfiando as mãos nos bolsos do casaco que usava.

—Tudo bem, melhor ainda! –a garota de cabelos lisos e castanhos sorriu abertamente com a noticia —Somos da mesma sala então!

—Vem cá, com todo respeito... Você não tem amigos não? –Maria ergueu suas sobrancelhas. Ela poderia ter guardado aquela pergunta pra ela mas Maria não era disso.

De qualquer forma, Camila não pareceu ofendida quando respondeu.

—Eu tenho vários! Sou amiga de todo mundo aqui oque é muito bom, assim posso te apresentar a turma e...

—Eu dispenso. –Maria foi logo cortando a fala da outra garota.

—Mas porque?

—Não vou ficar por aqui muito tempo. Não tem porque criar laços. –foi só oque respondeu encolhendo seus ombros.

—Tabom... –Camila apertou os lábios contendo as mil perguntas da qual gostaria de fazer agora. Ser uma pessoa curiosa e tagarela não era fácil nessas ocasiões.

As garotas caminharam lado a lado até Camila parar em frente uma determinada sala e sorrir apontando para dentro.

—Aqui é a nossa sala! Vem? –chamou enquanto entrava.

Assim que Maria entrou foi como se todos os olhares fossem levados a ela. A garota amava ser o centro das atenções mas não ali.

Com todo seu descontentamento, ela disparou sentando-se na ultima cadeira de uma fileira, bem a frente de um garoto que virou-se para trás no mesmo instante.

—Você deve ser a tal da Maria. –ele nem pergunta, ele afirma enquanto desce os olhos castanhos pelo rosto delicado da garota.

—Quem é você garoto? –Maria dispara impaciente, ela já estava em seu limite e não se passavam nem das oito da manhã.

—Caio. Meu pai trabalha na fazenda do seu avô, eles me falaram pra te fazer companhia. –o menino passou uma das mãos pelos cachinhos em sua cabeça.

—Acontece que eu não preciso de caridade. –ela força um sorriso.

Nu! Trocou a ferradura, garota? –ele ergue as sobrancelhas.

—Como é? Com quem você pensa que tá falando garoto? –enfatizou no mesmo tom.

—Sei lá. Com uma Loirinha metida a besta?! –deu de ombros fazendo a garota entreabrir os lábios de forma chocada.

Que moleque ousado! -seu subconsciente xingou.

—Olha aqui meu filho, se for pra ficar me perturbando pode virar pra frente e ignorar a minha existência tabom? –abanou as mãos para que ele o fizesse.

—Tabom vai ser um prazer. –Caio deu de ombros —Mas acho que você vai precisar de mim pra ir embora.

—Nem morta! –Maria desprezou enquanto o menino encolhia seus ombros e vira-se para frente despreocupado.

***

NOCAUTE -AyA  (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora