NOCAUTE -AyA (EM PAUSA)

23

O ventinho fresco da tarde batia no rosto de Maria. O ar ali era com toda a certeza bem mais puro do que o da cidade grande.

Com os cabelos presos num rabo de cavalo alto, a garota estava sentada em um tronco na beira do lago. O quintal da fazenda nunca havia sido seu lugar favorito, na verdade ela passava todo o tempo dentro de casa usando o celular, assistindo series ou navegando no instagram.

Mas depois do que soube, Maria não teve vontade de nada daquilo. Nem mensagem para Ste ou Nicolas ela havia mandado. A garota só queria tomar um ar e quando se deu conta já estava na beira do lago encarando a paisagem bonita da fazenda dos avós.

—Oia só, a Barbie resolveu pisar no mato? –a voz de Caio atrás dela a fez revirar seus olhos azuis marejados.

—Agora não Caio. –seu tom de voz entregou todo o seu estado de humor.

O garoto franziu o cenho. Em seu estado normal Maria teria o xingado de tudo e ele daria risada de sua cara, mas mesmo vendo a garota de costas ele conseguia perceber que ela não estava bem.

—Oque aconteceu? Quebrou a unha? –ele provocou mais um pouco passando os pés por cima do tronco para ficar a frente dele.

Maria revirou os olhos mais uma vez e virou o rosto, foi o suficiente para que Caio notasse o brilho das lágrimas neles.

—Beleza, eu te deixo sozinha. –ele deu de ombros virando as costas para sair dali.

Porém Caio deu no máximo uns cinco passos. Parou e suspirou. Ele não queria deixar ela ali sozinha, estaria mentindo se dissesse que não ficou preocupado.

Então passando por cima de toda implicância e orgulho, ele girou em seus calcanhares e voltou sentando ao lado de Maria. A garota permaneceu calada.

—Quer conversar? –perguntou sem olhar para ela, observando a paisagem da mesma forma que a menina.

—Não... –ela responde minimamente.

Caio até pensou em sair de novo mas era como se todo o seu corpo não quisesse. Como se ele precisasse ficar ali com ela nem que fosse em silêncio.

—Oque você quer Caio? –Maria o encarou após alguns minutos de silêncio.

—Eu? Nada. –ele deu de ombros.

—Porque tá aqui então? –ela suspira voltando seu olhar para o lago —Tá pensando em alguma forma de me zoar?

—Euu? Jamais. –ele brinca —Só to achando você muito calada em comparação com a tagarela chata que eu conheço.

A garota não pode evitar um risinho enquanto negava com a cabeça.

—Chato é você. –ela disse mas aquilo não soou no jeito "Maria de ser".

—Tá vendo? –Caio ergue as sobrancelhas —Cadê a Maria que me humilharia agora?

—Tá sem saco. –ela o encara forçando um sorriso de lábios fechados.

—To curioso pra saber oque deixaria a Maria nesse estado. –Caio a encarou por alguns segundos captando os traços de seu rosto.

Seus olhos azuis feito o céu estava naquele dia. Seus lábios carnudinhos e desenhados e aquele nariz delicado...

O garoto desviou os olhos percebendo que talvez estivesse olhando demais. Instantaneamente suas bochechas coraram e as de Maria também porque ela percebeu. E olha que fazer Maria corar não era algo fácil.

—Acontece que... Eu fui traída por duas pessoas que eu confiava muito. –a garota decidiu contar. Na verdade aquilo saiu quase que espontaneamente, sem muito controle.

Caio a encarou meio surpreso e ela continuou a falar:

—Minha melhor amiga tava ficando com meu quase namorado. –suspirou erguendo as sobrancelhas.

—Nossa! –Caio diz chocado —Isso não combina com você.

—Oque? –a garota franze o cenho sem entender oque ele quis dizer com aquilo.

—Maria, você é você, cara! –ele aponta como se não precisasse dizer mais nada —Apesar de chata você é decidida, segura e... um pouquinho bonitinha também. –ele diz juntando o indicador ao polegar para indicar uma pequena quantidade.

Maria acaba rindo mais uma vez enquanto ergue as sobrancelhas.

—Não combina com a Maria que eu conheço estar triste por isso. Na verdade ela estaria humilhando os dois e dizendo que se colocar um dentro do outro não da metade do que ela é sozinha. –Caio consegue arrancar mais e mais risos da menina.

—Você acha que eu não tenho um coração né? –ela pergunta entre o riso e ele estreita os olhos.

—Acho... –os dois acabam rindo juntos daquela resposta.

—Talvez você tenha razão. –ela suspira como se estivesse se recompondo —Quer dizer, com certeza você tem razão. Se colocar um dentro do outro eles não dão nem metade da metade do que eu consigo ser sozinha. –disse aquilo de forma confiante.

—É isso, garota. –ele ergue a mão para fazerem um toque e Maria acaba enlaçando seus dedos aos dele depois daquilo.

—Ah não, mas tem uma coisinha que você errou. –ela diz sem soltar a mão dele e ele fica calado esperando ela continuar —Eu não sou só um pouquinho bonitinha, tabom? –ergue as sobrancelhas.

Caio entreabre os lábios para responder mas fecha de novo como se repreendesse a própria fala. Seus dedos ainda estavam enlaçados e era como se eles não quisessem se soltar.

—Tá, eu acho que exagerei mesmo... –o garoto abre um sorriso zombeteiro —Um pouquinho ainda é muito.

—Idiota! –Maria xinga soltando suas mãos para lhe dar um tapa mas não consegue conter uma risada.
Aquela conversa com Caio havia melhorado seu humor.

Mas é claro que isso não é uma coisa que ela admitiria em voz alta.

***

Será que a trégua vem? 👀

•Um editzinho do Caio 🫶🏻: