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—Por favor mamãe! Me deixa faltar! –Manu insistia enquanto Any o arrumava para a aula.

—Manu, você precisa ir a escolinha filho!

—Mas eu sinto falta da minha antiga escola! Eu quero ir pra lá! Eu quero voltar! –disparou o garotinho sentindo seus olhos marejarem.

—Filho, acontece que não tem como agora mas eu prometo que voltaremos ok? –assegurou Any curvando-se e segurando seu rosto —E não vai demorar. –ela falou mais para si mesma.

Logo deixou um beijo no topo da cabeça do filho do meio e se colocou de pé.

—O almoço já deve estar pronto, vai comer que mamãe já está indo.

—Tabom... –Manu suspirou saindo do quarto.

Anahi suspirou agarrando sua bolsinha de maquiagem e encarando seu reflexo no espelho mas não conseguiu concentrar-se rapidamente.

Sua cabeça martelava o episódio de Sábado a noite e ela temia ter falado demais. Falado coisas das quais ela tentava negar e esconder de si mesma.

—Porque eu fui tão burra? –Any falou sozinha afundando o rosto nas mãos.

Desde que seu pai lhe deu a noticia de que ela chegou bêbada e carregada pelo ex em casa na noite de Sábado, Anahi nem dormia direito.

—Anahi Giovanna Puente Portilla. –ela dispara para si mesma de olhos fechados —Você não falou nada demais. Se houvesse falado, Alfonso já estaria aqui na porta afim de satisfações. Mas não está! Ou seja... Tá tudo bem. Tudo continua em seu devido lugar.

Após o longo discurso sozinha, Anahi respira fundo afim de acalmar-se mas uma batida na porta faz a moça saltar olhando para trás.

—Ai que susto Maria! –disparou a mãe levando uma das mãos ao peito.

—Oi mãe. –a garota cumprimenta jogando sua mochila num canto do quarto.

—Oi meu amor. Estava ai a muito tempo? –pergunta apertando os lábios com certo receio.

—Eu? Eu não. Cheguei agora. –a garota responde prendendo os longos cabelos loiros num coque —Porque? Seria um problema se eu estivesse?

—Claro que não, Maria. –Anahi responde encarando o reflexo da filha através do espelho a sua frente —Eu só estava distraída.

—Eu percebi... –Maria encolheu os ombros deixando o quarto e seguindo para o banheiro.

E assim que fechou a porta, a garota estreitou os olhos pensando alto:

—Mais uma vez esse Alfonso... –bufou pensativa —Qual motivo levaria esse cara a vir tirar satisfações com a minha mãe? –a curiosidade a estava matando—Eu hein!

{...}

Anahi entrou no colégio torcendo para não trombar com Alfonso. Quem sabe um milagre divino o fizesse faltar naquele dia?

Ou talvez melhor: a semana toda!

Seria pedir demais?

Anahi suspirou adentrando a sala dos professores, por sorte Alfonso não estava por lá, apenas três outros professores.

A Loira caminhou até o seu armário retirando de lá alguns materiais que usaria na aula de hoje com os seus alunos. Em seguida os organizava sob a mesa, sua atenção inteira voltada para isso, Any não queria nem erguer a cabeça por medo do que iria encontrar.

Mas mesmo tentando concentrar toda a sua atenção nos materiais da aula, sua mente insistia em pensar no Alfonso, no Sábado, no passado...

Anahi suspirou fechando os olhos enquanto sua mente a levava para algumas lembranças do passado...

—Anahi Giovanna Puente Portilla... –a voz de um Poncho jovem ainda era viva em sua lembrança —Eu te amo cada dia mais. Imagina quando tivermos uns... 50 anos de idade?

Any riu deitada no peito de Alfonso enquanto os dedos do rapaz se perdiam no meio de seus cabelos fazendo um carinho suave em sua cabeça.

—Eu quero congelar esse momento pra sempre. –ela sorriu sentindo um friozinho gostoso na barriga —Nós dois aqui, deitados no gramado, observando a lua cheia e o céu cheio de estrelas...

—Isso é muito brega. –Poncho gargalha sendo acompanhado por ela —Mesmo eu faria mil vezes... –ele segura em seu queixo trazendo o olhar da adolescente para ele —Mas só se for com você.

—E vai ser pra sempre. –ela ergue o dedinho e ele faz o mesmo, enlaçando seus mindinhos —Até porque se for outra, eu mato a piranha!

Poncho gargalhou alto. Mas pouco a pouco, o som daquela risada foi ficando distante.. Distante... Distante...

—ANAHI! –a moça arregala os olhos azuis enquanto é jogada de volta para a realidade.

Escola. Sala dos professores. E um Alfonso confuso a sua frente.

Só ai ela percebeu que talvez houvesse ficado tempo demais naquela posição: em pé e de olhos fechados no meio da sala dos professores.

—O-oi. –Any gagueja sentindo seu rosto corar enquanto ela observa todo o redor.

Os outros professores já nem estavam mais ali, e ela nem havia percebido eles sairem.

—Estava parada ai um tempão. Te chamei várias vezes e você não me ouviu. –Alfonso diz afastando-se dela e tentando disfarçar o quanto aquilo havia o deixado preocupado.

Anahi baixou a cabeça apertando os olhos com força. Com toda certeza suas bochechas já pareciam dois tomates bem vermelhos no rosto.

Um silêncio ensurdecedor pairou entre eles. Any era capaz de ouvir o seu coração e torcia para que, naquele silêncio todo Poncho não o ouvisse também.

—Alfonso? –ela toma coragem para chamar enquanto ergue a cabeça na direção do homem que estava de costas para ela.

—Oi? –ele virou-se. No momento em que fez isso foi como se faíscas fossem sair daquela troca de olhares.

Então ele puxou uns papeis e baixou os olhos fingindo estar ocupado demais com eles.

—Eu... eu fiquei sabendo sobre sábado. –ela disse sentindo as mãos suarem de nervoso —Por favor me fala... Eu disse alguma besteira? –tomou coragem para perguntar.

—Oque? –Poncho não pode evitar olha-la mais uma vez.

"Naquele dia quando eu te vi, eu pensei "uau ele ainda é muito gato!" –a fala de Any repercutiu em sua cabeça.

—Não... Não disse nada. –ele preferiu responder —Porque? Havia alguma besteira que você pudesse deixar escapar bêbada? –ergueu as sobrancelhas.

—Não. –Anahi rapidamente desviou os olhos —É só que... Fiquei envergonhada pelo que aconteceu. Me desculpa pelo transtorno.

—Não se desculpe. –Alfonso disse apenas enquanto voltava a ficar de costas para ela.

Logo ouviu a moça suspirar.

—Alfonso? –ela o chama mais uma vez.

—Hum? –murmurou o rapaz apenas erguendo a cabeça mas não virando em sua direção.

—Obrigada por ter me levado para casa. De verdade.

E em seguida os sons de seus passos deixando a sala dos professores.

NOCAUTE -AyA  (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora