6 - A gente se conhece?

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Quando desci do Uber na porta do meu apartamento, já era de manhã. Depois de ter passado a noite com Laura, mandei ela para casa e resolvi pegar um Uber já que ela parecia cansada e ainda tinha que trabalhar.

Eu não tinha que trabalhar hoje. Por opção, decidi não entrar no site e mantive meu canal fechado para visitas. Depois que a imagem do Samuel invadiu minha mente no meu momento íntimo com a Laura, percebi que precisava colocar limites na coisa, porque a prática estava me deixado um pouco confuso, interferiu na minha relação com Laura e eu não queria isso por nada no mundo.

Resolvi passar na padaria para tomar o café da manhã. Estava cruzando a rua quando me deparei com a figura fodástica do meu cliente saudoso, o Samuel. Dessa vez ele estava sozinho, sentado e apreciando um café longo. Por estar de lado, não me viu me aproximar.

Fiquei me perguntando se era uma piada do destino ou se era algo com o que deveria me preocupar, o fato de encontrá-lo novamente, bem na porta da minha casa. Dessa vez eu não me escondi. Eu fui até ele e parei bem na sua frente esperando que ele olhasse pra mim.

Distraído, ele levantou os olhos do celular e começou a subir o rosto na minha direção. O curioso foi que ele não fez isso de uma vez; ele foi passeando com os olhos pelas pernas, demorou-se um pouco mais na virilha, subiu lentamente pela cintura, peito, pescoço até chegar ao meu rosto. Quando nossos olhos se encontraram, vi a sombra de algo cruzar sua feição, mas foi muito rápido, pois logo em seguida ele vestiu uma máscara de indiferença que eu nunca vi na minha vida.

— Pois não? — ele perguntou.

Eu não sabia onde tinha ido parar minha voz. Devia ter ido dar uma volta no lado do meu crânio onde estavam perdidas as perguntas sem respostas sobre a origem da vida, os dilemas da sociedade e, por que eu queria tanto dar o cu pra esse cara.

— Que coincidência te ver por aqui. — Tinha um certo ressentimento na minha voz, com certeza. E na verdade, não sabia nem o porquê, se foi pelo fato de ele parecer tão indiferente depois de ter causado uma impressão tão forte em mim, ou se foi por que eu realmente estava passando dos limites assediando um cara que vi num site de pornografia. Era certo que o errado era eu.

— A gente se conhece?

Ok, essa doeu. Eu devia saber. Pessoas entram em sites com avatares e nomes falsos por uma razão. Ninguém quer ver suas fantasias ocultas desfilando pelas ruas gritando seu nome.

— Desculpa, cara. Te confundi com outra pessoa.

Dei as costas e deixei o homem mais lindo que já vi sentado como um completo estranho, agindo como se eu fosse o completo estranho. E de fato eu era. Eu não era mais um moleque e deveria saber me comportar. Não ia mais acontecer, de fato, e eu seria mais profissional dali pra frente.

Já no meu apartamento, fui direto para a janela ver se dava para enxergar o deque da padaria. Era possível ver algumas mesas, e a que ele estava ocupando já não tinha mais ninguém. O cara foi embora e eu cheguei a especular se tudo não passara de imaginação da minha mente sonolenta. Aborrecido, fui até o chuveiro tirar o ranço da noite fora de casa, depois caí na cama pelado. Dormi quase que instantaneamente.

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora