28 - Uma chance

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– Seu trabalho é excelente, Diego!

Estávamos no sofá. Samuel tinha meu notebook no colo e navegava pelo meu portfólio artístico. Havia meia pizza esfriando sobre o balcão e dividíamos a segunda long neck.

No fim, ele tinha voltado pro meu apartamento antes do combinado. Eu não o incentivei a isso, mas me pareceu que era ele quem estava ansioso para voltar, então demorou menos de uma hora e ele já estava na minha porta.

Não nos engalfinhamos dessa vez. Ele só me deu um longo abraço, pedimos uma pizza e vimos um filme juntos. Quando terminou, demos uma navegada no website do SD Palermo, o estúdio dos irmãos, e conheci os trabalhos fotográficos foda que eles produziram juntos. Palermo era o sobrenome deles, e o portfólio dos gêmeos era bem abrangente, além de atuarem com modelos, tinham muitos trabalhos espalhados, principalmente relacionados a registro de lugares e situações. Algumas fotografias mereceram menções na mídia e outras chegaram a ser premiadas.

Um pouco enciumado com a imagem de Samuel recebendo aquela fila de modelos deliciosos que compunham o casting do estúdio, eu acabei mostrando um pouco dos meus projetos.

– É lisonjeiro dizer isso sobre meu portfólio. Obrigado.

– Sempre enxerguei em você muito mais do que massa e beleza, Diego. Embora, saiba que você entraria no meu casting sem nenhuma ressalva. É um dos homens mais bonitos que já conheci.

Acho que corei. Pelo menos, senti meu rosto esquentar. Parecia que ele tinha lido meus pensamentos. Sempre soube que era bonito, mas o elogio vindo dele teve muito mais significado, por várias razões. Ele sorriu e colocou o notebook de lado.

– Eu preciso te contar uma coisa. – Comecei meio acanhado. Precisava resolver logo essa pendência já que as coisas pareciam se aprofundar cada dia mais entre nós.

Ele me olhou com atenção. Me lembrei da primeira vez que usei essa frase e tenho certeza de que ele também se lembrou. Não dava para sacar o que ele estava pensando, era praticamente impossível ler ele e eu sempre me via patinando na minha incerteza.

– Pode falar. Não se preocupa, eu não vou te julgar.

Caralho! Bonito, gostoso, inteligente, talentoso e perspicaz. Por que, meu Deus?

– Tenho alguém na minha vida. Há um bom tempo.

Ele me olhava sério. Ainda não havia nada no rosto dele, para variar. Tive um pouco de medo mas não deixei isso me deter.

– Certo. Não é de surpreender.

– É uma mulher.

Ele suspirou.

– Surpreende menos ainda.

Não perguntei por que não o surpreendia. Era obvio para ele que eu não tinha experiência com outros homens.

– Bem... amanhã vou ter uma conversa com ela. Vou contar sobre mim... sobre nós. Vou ser honesto, pela primeira vez na minha vida vou ser totalmente honesto com ela.

– E o que vai fazer depois?

Senti uma ponta de ansiedade na pergunta. Deu para perceber que ele tentou esconder. Algo dentro de mim se aqueceu com a constatação.

– Isso vai depender...

– Do quê? – Um fiapo a mais de ansiedade.

– De como ela vai reagir.

– Você diz... se ela vai te aceitar como você é e ficar com você mesmo assim?

Ouvi a recriminação nas entrelinhas. Não podia julgá-lo, absolutamente.

– Quero que você entenda. Ela é minha amiga muito antes de ser minha noiva.

Ela é sua noiva?

Ok, esqueci desse detalhe. Puta merda.

– Estamos dando um tempo...

– Diego... – ele se levantou. Me bateu um certo desespero.

– Espera, Samuel. Escuta o que tenho a dizer.

– Porra, Diego!

Ele estava nervoso. Com todo o direito do mundo. Sou um bosta, sempre fui, mesmo quando tentei não ser.

– Eu não consigo mais ficar com ela. Não assim. Não depois de tudo... de você.

– Não me coloca nesse lugar, Diego! Não posso ocupar essa prateleira na sua estante! – Ele falou entredentes. Parecia tentar se conter.

Suspirei. Esfreguei meu cabelo e suspirei de novo. Ele pareceu pronto a ir embora. Senti ele se afastando antes de se mover. Inferno! Fiquei de pé na sua frente.

– Eu só preciso entender... se eu e você, se a gente...

Senti a eletricidade subir. Quase pude ver a força que ele fazia para não se mover, só não entendi se era para longe ou para perto de mim. No geral não sou um cara medroso, mas o Samuel fodeu meu circuito.

– Entender o quê, Diego?

– Se existe uma chance de a gente... de nós...

– Fala, porra!

– De tentarmos uma coisa. Eu e você. Se existe uma chance de sermos amigos... ou mais.

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora