11 - Paralisia

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— Diego... Diego!

Eu ouvi a voz da Laura vindo de muito longe. Senti um chacoalhão no meu braço, mas não conseguia entender por que meus olhos não abriam. Havia como que um peso segurando meu corpo contra o colchão, como se houvesse uma chapa de ferro me oprimindo contra a cama. Senti minha respiração ficar mais difícil e meu coração disparou. Senti cheiro de fumaça e de óleo, e tive vontade de gritar, mas a voz não saiu.

— Ss... soco.... Ss

— Diego! O que está havendo? Pelo amor de Deus! Você bebeu alguma coisa? Usou alguma coisa? O que foi?

Eu comecei a entrar em pânico. Tentei erguer um braço, mas meus músculos não obedeciam aos comandos do meu cérebro. Eu queria gritar, chutar, fazer qualquer coisa, e então me lembrei de que tentar sair do torpor não ia ajudar. Eu precisava manter a calma e esperar. O cheiro de fumaça e óleo não eram reais. Eram fruto da minha imaginação. Eu fiquei repetindo isso dentro da minha cabeça e esperei. Ao menos não estava sozinho dessa vez... Laura estava ali comigo e não me deixaria sozinho.

Aos poucos, comecei a sentir meus membros inferiores formigarem. Uma sensação horrível de dor generalizada tomou meus braços, como se eles estivessem há muito tempo presos e tensionados em um ângulo incorreto. Consegui abrir meus olhos e vi o lindo rosto da minha noiva pairando sobre o meu. Sua expressão era de pavor.

— Lau...ra...

— Meu Deus, Diego! O que está havendo? Você está doente? Está drogado?

Eu consegui mover os braços. Puxei o ar com força e tentei recuperar a pulsação. Aos poucos, fui me movendo e consegui me erguer no travesseiro.

— Paralisia do Sono...

— O quê?

Respirei fundo. Consegui me sentar e senti meu corpo todo molhado de suor. Não me lembrava da hora que conseguira dormir, apenas que já estava clareando. Não que não tivesse tentado, o fato é que fazia tempo que eu não pensava na morte, então fazia tempo que eu não tinha um episódio desses.

Pensar na morte do irmão do Samuel me levou a lembrar da minha mãe, e consequentemente, me jogou de volta no passado. Eu não queria falar disso com a Laura, nem com ninguém, então resolvi me erguer e tentar explicar a coisa pra ela sem entrar em detalhes.

— Paralisia do Sono. Eu tenho isso às vezes. É como tentar acordar e não conseguir. É bem ruim e dá um certo desespero quando acontece, mas não é nada demais. Fazia tempo que eu não tinha um episódio desses.

— Desde quando você tem isso?

Desde a adolescência. Definitivamente não queria falar disso com ela.

— Não sei desde quando. Tem um tempo. Não é nada demais, não precisa ficar grilada com isso.

— Desde que a gente se conhece e está junto, você nunca me falou disso.

— É porque fazia tempo que não acontecia. Esquece esse assunto, Laura.

Ela se calou. Senti que ela ficou chateada e eu não conseguia entender o porquê. Seria por que nunca falei do assunto, ou por que fui grosseiro sem perceber?

Minha cabeça estava uma zona nessa manhã. Eu não esperava que a Laura fosse aparecer no meu apartamento, sequer me lembrava de ter marcado alguma coisa com ela. Eu estava irritado, confuso e louco pra ficar quieto com meus próprios pensamentos, como se uma noite insone não fosse suficiente pra pensar tudo o que eu tinha direito, tanto de coisas certas como de coisas erradas.

Deixei-a sentada na minha cama e me tranquei no banheiro. Eu não era um cara de portas trancadas, mas me sentia vulnerável tendo ela por perto enquanto me afundava em confabulações sobre um terceiro elemento.

Abri o chuveiro e me enfiei sob a água na esperança de lavar a sensação esquisita impregnada no meu corpo. Uma mistura de desejo, repúdio, tristeza e euforia estava transformando minhas entranhas num guacamole confuso e indistinto. Eu definitivamente não queria falar com a Laura sobre isso ou qualquer coisa. Eu não queria falar com ela, por mais que eu a amasse.

Mas daria qualquer coisa para falar com o Samuel.

Porra! Que merda estava acontecendo comigo? Eu sentia que já tinha a resposta para isso, mas me recusava a aceitar que era algo tão ridículo como dar a bunda para alguém para resolver meus dilemas.

Saí do banho e encontrei Laura em pé no meio da sala. Ela tinha aquela expressão de D.R. que eu odiava do fundo da minha alma. Tudo o que eu não precisava era discutir a relação, então eu fiz o que sempre fazia quando queria me safar de qualquer merda que se aproximava. Coloquei o sorriso mais lindo que consegui no meu rosto e deixei a toalha cair de propósito. No mesmo instante, ela desviou os olhos pro meu pau e eu senti que ganhei vantagem.

— Por que você tem que ser tão fodidamente bonito? — ela sussurrou, já bem mais perto de mim. Me senti inflar de satisfação.

— Porque você não merece menos. Posso não ter muito pra te agradar, mas isso aqui vale de alguma coisa, certo?

Ah... valia muito. Se ela soubesse o quanto estavam dispostos a pagar só pra ver o que ela tinha de graça...

— Odeio e amo quando você é arrogante assim.

— Confessa que me ama... — peguei um dos seus peitos e apertei. Ela gemeu e começou a desabotoar a blusa.

— Eu te amo, Diego. Agora, me mostra o que isso aí pode fazer.

Ah, isso era algo do que podia me gabar. Um pouco de normalidade, para variar. Foder minha noiva, seguir com a vida, esquecer os dramas dos outros, as dores do passado e tanquinhos sarados aleatórios. Era isso. Selei a boca dela com a minha e gemi quando ela fechou a mão em volta do meu pau.

Fomos nos arrastando aos beijos de volta pra cama, tombamos sobre os lençóis e em menos de um minuto estávamos os dois pelados e nos esfregando. Beijei a barriga dela e fui lambendo a pele do umbigo até o meio das pernas torneadas. Quando minha boca chegou ao triângulo de pelos macios e minha língua tocou suas dobrinhas quentes, fui puxado para a memória de uma barba macia e cheirosa.

Caralho! Mas que merda!

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora