31 - Você vale muito à pena

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Me deixei ser abraçado. Me rendi porque precisava disso muito mais do que qualquer outro toque no momento. O corpo do Samuel sempre foi firme, quente, tão inteiro e tão perfeito que era como se não houvesse outro lugar melhor para estar. Mesmo ele sendo um pouco mais baixo que eu, conseguia me envolver inteiro e me fazer sentir contido e protegido de todo o resto. Notei que meu polegar acariciava a base de sua coluna, e que ele respirava pesado contra o meu pescoço. Ele não me soltou antes de voltar a falar.

– Você precisa entender que, se fizermos isso, vai ser pra valer, Diego. Não há meio termo pra mim. Não existe uma corda bamba ou topo de muro que eu esteja disposto a andar pra ficar com você. Não vou entrar num armário e me esconder por sua causa, nem vou reprimir ou esconder meus impulsos quando estivermos juntos. Você entende isso?

Apenas aquiesci. Meu peito estava doendo. Percebi nesse momento que a coisa era muito mais séria. Eu não esperava muito, na verdade. Eu nunca imaginei que ele quisesse algo mais profundo ou duradouro porque não me senti ocupando esse lugar, nem notei qualquer evidência de um sentimento assim vindo da parte dele. Quanto a mim, bom, eu já estava obcecado antes de entender que Samuel e Daniel não eram a mesma pessoa, então...

– Eu me preocupo porque você tem essa incerteza impregnada. – Ele continuou, agora olhando para mim. – Eu já vi isso, convivi com isso. Essa insegurança sob a pele como uma manta de medo. A vida inteira eu acompanhei isso no meu irmão. Você ainda não sabe quem é ou está certo do que quer, e isso me assusta porque eu sei o que quero. Não tenho nenhuma dúvida do que eu quero, Diego. Eu estou apaixonado por você desde o primeiro beijo, na verdade, percebi isso quando você me tocou antes de tudo. Foi a primeira vez na vida que eu senti o que sinto por você. 

Buguei. Sério. Senti a garganta secar e as mãos tremerem. Me senti estúpido com a reação vexatória do meu corpo, mas não consegui segurar a lágrima que correu. Porra!

– E..eu acho que... ok.

Eu queria falar para ele. Queria falar como me sentia, mas não conseguia. Estúpido covarde de merda que eu era!

– Diego...?

Percebi que estava arranhando suas costas sem querer. Fiz isso enquanto abria e fechava as mãos num tique nervoso. Confesso que sou muito melhor com atitudes do que com palavras. Infinitamente melhor, no caso. Tentei beijá-lo, mas ele virou o rosto.

– Não desta vez, Diego. Preciso saber o que isso significa pra você. Eu acabei de abrir meu coração. Sei o que quero e não vou seguir com isso sem ter certeza.

Respirei fundo. Merda!

– Eu quero isso. – bom, não foi tão difícil, afinal.

– O que você quer, Diego?

Aaaahhrg! Fala sério!

– Porra, Samuel! O que quer que eu diga? Eu quero tudo! Tudo isso! Eu tô pouco me fodendo com o que qualquer um pensa! Esse nunca foi o problema! Ou você acha que um cara que vende o corpo na internet e tira a roupa online pra ganhar dinheiro liga de ter que andar de mão dada com um homem na rua? Não é isso! Nunca foi isso! Eu travei em você desde que te vi na padaria há meses, você ou o seu irmão, que seja, mas pra mim sempre foi você. Eu sempre quis isso, sempre quis entender o que era estar com um homem, e você foi o primeiro! Eu tenho 30 anos e foi você quem me deu meu primeiro beijo, você tem noção? Eu era um BV gay! Você tomou tudo de mim! Meu corpo, minha mente, minha vontade e até o meu noivado! Eu é que pergunto, o que mais você quer?

– Diego...

– Esse medo que você diz ver em mim não tem nada a ver com sexualidade, com ser gay ou qualquer outro tipo de etecétera-sexual onde a sociedade acha que eu deva me encaixar. Tem a ver com a minha vida inteira lidando com o fato de não ser necessário, não ser imprescindível, não ser suficiente nem pra minha própria mãe achar que valia a pena viver, e a única pessoa que me ajudou a entender que eu merecia qualquer tipo de amor, eu deixei ir embora de coração partido hoje à tarde, porque não fui homem suficiente para ser honesto com ela e assumir minha sexualidade desde o início! Você entende isso? Eu não aguento mais isso!

Aí fodeu, porque não deu mais para esconder que eu estava chorando de verdade. Ele me abraçou daquele jeito de urso, e eu me acabei. Eu molhei sua camiseta puída e me deixei quebrar. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas em algum momento, naquela madrugada fria, entendi onde era o meu lugar. Entendi que havia um lugar para mim, e eu estava dentro dele.

– Sempre disse que você valia à pena, Diego. Você vale muito à pena. 

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora