5 - Festinha

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— Onde você tá, gatão?

Laura estava me olhando do outro lado da mesa. Senti uma pontada de emoção quando olhei de volta. Ela de fato era um espetáculo de mulher. Alta, magra e com uma bunda de dar inveja. Tinha peitos redondos, de silicone, mas isso de longe representava algum problema pra mim. Ela entrelaçou os dedos aos meus e pressionou levemente as unhas nas palmas das minhas mãos. O gesto fez meu corpo acordar da cintura para baixo.

— Tô aqui, só tô com o corpo cansado.

De fato, depois que parei de procurar jobs de designer e passei a usar minhas tardes para me exibir na frente da câmera do computador, meu cansaço mudou de lugar. Ao invés de ficar com os ombros queimando, os olhos ardendo e a mente fodida, agora ficava com um cansaço físico muito bem-vindo porque passava as manhãs malhando o corpo para ficar com tudo em cima para as minhas sessões privadas com meus fãs.

A coisa já vinha desenrolando por quase dois meses. Descobri que não precisava me esforçar muito para ganhar dinheiro e passei a fazer cada vez menos esforço para ter mais de cada fã. Meu perfil começou a ser bem requisitado depois que subi uns vídeos mais insinuantes, e o resultado disso era que eu estava com a minha noiva num puta restaurante caro, tomando uma Veuve Clicquot com frutos do mar e alguma redução de molho de nome esquisito.

Laura não questionou a escolha do restaurante. Ela era uma mulher bem-sucedida, gerente de uma corporação multinacional e estava acostumada a certos luxos. Eu nunca pude dar muito a ela, sempre transitei na esfera do medíocre, mas ela nunca se queixou. Ela quase não pôde esconder a surpresa quando sugeri o local do jantar e agora eu estava olhando para ela, linda e perfeita, mas com a mente em outro lugar.

Fazia duas semanas que Samuel não acessava o meu perfil. Depois que ele desapareceu atrás da tela na nossa live super quente, entrou no dia seguinte, depois na semana seguinte, e vinha mantendo uma média de duas visitas por semana. De lá para cá, devia ter tido umas oito sessões com ele. Eu acordava esperando ele chamar e terminava o dia pensando no nosso encontro online. De fato, ele era criativo, delicioso e, por que não dizer, generoso. Ele era o mais lindo dos meus fãs, o mais misterioso porque nunca me deixava ver nada do seu corpo além do tórax esculpido, e era de longe quem me deixava com mais tesão.

Provavelmente ele já havia se cansado de mim. Eu sabia que aconteceria eventualmente, mas o fato me aborreceu muito mais do que gostaria de admitir, e por essa razão, à vezes eu voltava a pensar no cara com certa nostalgia e em péssimos momentos, como agora.

Além dele, cheguei a receber outros rapazes no meu perfil que quiseram um pouco mais de mim. Um sugeriu que eu arrumasse um daqueles paus de borracha, outro queria que eu ficasse enfiando meu dedo no ânus, mas eu não fiz isso para nenhum deles. Me resignei a tirar a roupa, dar algumas massageadas no meu pau e deixar o resto pra imaginação. Cheguei à conclusão de que estava sendo um puta de um esnobe, mas não pude evitar, porque, salvo as lives com Samuel, a diversão dos primeiros dias foi perdendo a graça e nos últimos tempos, sem "Paulínia" na espera, tenho entrado cada vez menos no meu canal.

— Você tá indo bem com os jobs! Conseguiu alguma coisa nova?

Ah... consegui. Se ela soubesse! Consegui ficar com a conta cheia e um tesão no rabo que não conseguia imaginar quando iria poder aliviar.

— As coisas estão indo bem. Vamos?

Paguei a conta escandalosamente alta do restaurante sem deixá-la ver o valor, depois fomos no carro dela até um motel top que escolhi para passarmos a noite. Assim que entramos no quarto, fui logo arrancando suas roupas sem dar muita chance pra conversa. Ela entendeu o recado e depois de poucas preliminares, já estava cavalgando meu pau na enorme cama de dossel. A imagem refletida no espelho do teto era divina: os seus longos cabelos batendo nos meus joelhos enquanto ela inclinava o corpo para trás, projetando os seios dignos de capa da Playboy pro alto.

Senti sua entrada cada vez mais escorregadia e inchada em volta do meu falo, e o êxtase começou a desenrolar no meu baixo ventre e apertar meus testículos. Levei meus dedos ao seu clitóris e a senti derreter e vibrar, só então me soltei e liberei meu orgasmo, e para minha surpresa, nesse exato momento, a imagem do Samuel surgiu diante dos meus olhos, num flash.

Fiquei puto com isso. Eu estava com a minha noiva, caralho! Não era para trazer ninguém pra festinha!

— Você está bem? — ela murmurou, arfante, contra o meu pescoço. Devia ter notado minha contrariedade.

— Tá tudo bem. Só lembrei do nada de um rolo do trabalho.

— Isso porque você trabalha sozinho... imagine ter que gerir equipes como eu faço. Você ia ver o que é um bom rolo de trabalho.

Fiquei chateado com isso também. Não gostava quando Laura ficava comparando o trabalho dela com o meu. Não tinha um ego frágil a ponto de ficar magoado porque ela era bem mais inteligente e sempre ganhou muito melhor do que eu, mas não precisava ficar esfregando na minha cara as vivências que eu não tinha por minha própria escolha.

— Tenho andado de olho em você, Diego. Notei que tem algo te incomodando há dias. 

E por falar em vivências que eu não tinha por minha própria escolha...

— Não é nada, Laura. Eu só preciso tomar umas decisões nos próximos dias e isso me deixa tenso. Logo as coisas voltam ao normal.

Bom, se eu ficasse repetindo isso para mim mesmo, podia até ser que virasse verdade.

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora