21 - Interfone

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Recoloquei minhas roupas e me deitei no sofá. O apartamento estava escuro, tal qual o meu interior. Tinha uma coisa entranhada na minha garganta, um aperto dolorido e ácido que me fazia tentar engolir a água que ameaçava encher meus olhos. Eu estava triste. Destroçado. Eu não sabia por que estava me sentindo assim, se era por ter afastado a Laura, por ter aberto mão do perfil, por ter cortado minha chance de alcançar o Samuel ou porque já não me reconhecia mais.

Fiquei um tempo ali, remoendo minha mágoa e deixando o buraco se expandir ao imaginar tudo o que eu estava perdendo: amor, carreira, respeito, integridade, sanidade...

O interfone tocou. Eu pulei do sofá com o susto. O interfone nunca tocava porque ninguém me visitava. Laura tinha a chave do apartamento e eu sabia quando alguma entrega estava para chegar. Fui até a cozinha e atendi, nervoso.

— Senhor Diego? Boa noite. Tem um homem aqui no portão perguntando pelo senhor. Ele não sabia o número do seu apartamento, mas disse que te conhece. O nome dele é...

— Samuel?

— Isso mesmo!

— Deixa ele subir.

Desliguei com tanta força que quase quebrei o interfone. Onde eu estava com a cabeça? Fiquei andando de um lado pro outro e, quando ouvi o som do elevador, abri a porta.

Ele estava mesmo ali. Na minha frente. No meu apartamento. No meu santuário. Sem tempo para pensar, sem ideia do que estava fazendo, eu o puxei pelo colarinho e colei minha boca na sua. Com um chute, fechei a porta e puxei o seu pescoço com tanta força que devo ter arranhado a pele. Ele gemeu e colocou as mãos no meu peito, não para me empurrar, mas para segurar minha camiseta. Senti suas mãos apertando meus mamilos e mordi sua boca com força suficiente para fazer sangrar.

— Diego... — ele sussurrou quando o deixei tomar ar, enquanto arrastava minha boca pela extensão do seu pescoço. 

Eu queria sentir a pele, sentir o cheiro, sentir tudo outra vez, e não quis saber por que estava agindo assim. Eu tava pouco me fodendo com a ideia de entender qualquer coisa no momento.

Em menos de um minuto nossas roupas estavam no chão. Tropecei nas botas dele enquanto ele me puxava até o sofá. Não acendemos as luzes, nem recolhemos as roupas, nem os livros da estante que vieram ao chão quando esbarrei neles. Ele se sentou no sofá e me puxou para sentar em seu colo. Eu me encaixei sem desgrudar as bocas, e meu pau bateu no dele.

— O que você quer aqui? — a pergunta escorregou dos meus lábios em meio aos suspiros pesados.

Ele segurou meu pau junto com dele num aperto só. Projetei meu quadril para frente e dei um soluço. Ele me olhava com as pálpebras abaixadas e uma ruga entre os olhos que me fez ter vontade de arrancar com os dentes, então começou a mover a mão para cima e para baixo com nossos membros colados, e eu entrei em colapso.

De repente, eu estava me esfregando nele sem o menor pudor. Os sons que ecoavam na penumbra eram ruídos brutos de vozes rasgadas e pele batendo com pele. Era sujo, visceral, intenso. Era tudo e mesmo assim não era suficiente. Ele acelerou o ritmo e eu apertei seus ombros até os nós dos meus dedos ficarem brancos. Senti seus dentes no meu mamilo e arfei com a fisgada de dor. Senti sua mão no meu cabelo, puxando e fazendo arder meu couro cabeludo. Eu queria morder e apertar a pele dele até marcar, como ele fazia comigo, mas ele era mais forte e, caralho, aquilo era muito! Era demais para suportar! Eu urrei quando senti o calor subir pelo meu pau e jorrar sobre nossos corpos grudados. Não demorou nada, ele gozou logo depois de ver minha liberação.

Olhei para baixo e ri quando vi a sujeira que havíamos feito. Ele olhou para mim e não riu. Ele estava realmente muito sério, e eu fiquei sem graça.

— O que foi? — perguntei. Achei que ele estava acostumado a esse tipo de coisa. Ele continuou sério e eu comecei a sacar que o problema não era a sujeira.

Lentamente, tudo começou a voltar pra minha cabeça. Nosso encontro, o afastamento, a última videochamada, tudo. Me lembrei de que estava puto com ele, que ele não deveria estar na minha casa, e vasculhei minha cabeça tentando entender como eu fui parar no colo dele, pelado e todo sujo de porra.

Ele me soltou e ficou de pé. Pensei que ele faria como fazia nas lives, daria as costas e me deixaria falando sozinho. Ri por dentro quando imaginei a cena. Ele se fodeu, porque não ia conseguir fugir como covarde que era. Não tinha nenhum botão de "sair" nessa porra, então ele ia ter que ficar e lidar comigo.

E lidar conosco. 

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora