Quatro anos depois...
Eu estava de pé, apoiado contra o gradil de proteção da plataforma de salto. Ao meu lado, Samuel colocava o equipamento com o auxílio do funcionário do parque. Estávamos no Parque Nacional da Serra Geral, no Rio Grande do Sul. Viemos para uma viagem relâmpago, um misto de trabalho e lazer.
Ao longo dos últimos dois anos, Samuel tem se dedicado a reunir material para o seu próprio livro de fotografia, intitulado "As aventuras do lado de lá". O projeto que era um sonho dos gêmeos consistia em viajar pelo Brasil realizando o registro de paisagens dentro do contexto dos esportes radicais, captando as impressões a partir da ótica de quem está no meio da aventura, fosse numa canoa, numa tirolesa ou pendurado numa corda de escalada. Era um projeto desafiador que envolvia milhares de cliques e muitas aventuras repetidas e ousadas.
Samuel quis levar a cabo o projeto a fim de homenagear Daniel. Ele entendeu que seria uma forma de eternizar algo no qual eles realmente eram bons juntos, algo que tinham em comum, além de tantas outras coisas.
Samuel passou um período muito difícil nos primeiros meses depois da morte do irmão, meses que se estenderam por mais de um ano. O projeto foi uma forma de ajudá-lo a lidar com a depressão que o atingiu, e o manteve motivado nos anos posteriores. Ainda ocorrem altos e baixos, tanto no quadro depressivo dele quanto nos meus transtornos causados pelo meu trauma de infância, mas estamos enfrentando e vencendo juntos, a cada dia, apoiados pelo amor e pela amizade.
— Queria que a Laura pudesse ter vindo — ele mencionou enquanto conferia os ganchos e as alças de segurança da câmera fotográfica.
— Ela teve que ficar no hotel mas disse que vai levar o Nicolas para brincar nas cachoeiras.
Laura estava nos acompanhando na viagem. Ela nos acompanhava sempre que podia. Seis meses depois do nosso rompimento, nos reaproximamos e renovamos a nossa amizade. Depois de um tempo, ela decidiu que queria viver o amor, mas de uma forma diferente, então botou na cabeça que queria ser mãe. Ela cogitou a possibilidade de eu ou o Samuel doarmos o esperma — sim, porque ela ficou tão amiga do Samuel que até eu tinha ciúmes — mas mudou de ideia porque disse que não queria nenhum de nós babando em cima da criança nem metendo o bedelho na criação, então recorreu a um banco de esperma anônimo.
Não adiantou de nada porque, há dois anos, ela teve um menininho, o Nicolas, e eu e o Samuel praticamente adotamos a criança. Ela não teve opção, não demos a menor chance a ela de se esquivar, e hoje somos uma família estranha de quatro membros.
— Espero que ela não coloque ele na água. Ele é muito pequenininho — Samuel mencionou ao ficar de pé. Ele sempre foi superprotetor comigo, com a Laura e, obviamente, com o Nicolas também.
O vento rugia ao nosso redor. O cabelo do Samuel estava todo espetado, com um aumento significativo de fios prateados nas têmporas e agora na barba também. Olhando o caos no topo de sua cabeça, dei graças a Deus por ter cortado o meu e ultimamente usar ele sempre curto. Como se pudesse ler meus pensamentos, ele sinalizou com a cabeça para o meu capacete já colocado.
— Sinto falta do seu cabelo.
— É claro que sente. Mas eu não aguentava mais você puxando e arrancando meus fios o tempo todo.
— Promete que vai deixar crescer de novo?
— Promete que não vai tentar arrancá-los quando ficar empolgado?
Ele riu, e aquela covinha me atingiu com tudo. Desde que estamos juntos, o impacto nunca diminuiu. Continuamos meio brutos um com o outro, mas o carinho se entranhou entre nós, e hoje existe um equilíbrio bom. Mas confesso que ainda gosto mais quando as coisas saem um pouco do controle.
— Tudo pronto? — ele perguntou.
Olhei para baixo. Ali, no Alto do Mirante, a altitude era de mais de 1000 metros em relação ao nível do mar, e o percurso de tirolesa entre os cânions até o ponto de chegada era de mais de 700 metros.
— Mais pronto impossível — brinquei e chacoalhei os braços. Samuel sabia que eu morria de medo de altura, mas eu nunca dava para trás. Nunca mais dei para trás em nada na minha vida depois que ficamos juntos. — Como será que é do lado de lá?
Ele sorriu amplamente e me deu um beijo nos lábios.
— Só saberemos como é do lado de lá se tivermos coragem de pular.
E com isso, ele soltou o cabo e deslizou. Fui logo atrás dele no cabo paralelo, e deslizamos juntos rumo ao desconhecido, com coragem, confiança e esperança, como devia ser.
Como a vida deve ser.
--
- FIM -
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E obrigada por chegar até aqui.
Se quiser conhecer essa história a partir do POV do Samuel e saber um pouco mais sobre os gêmeos e sobre a personalidade enigmática desse lindo fotógrafo, confira:
DO LADO DE CÁ , disponível aqui no wattpad:
https://www.wattpad.com/story/361982449
Até a próxima!
![](https://img.wattpad.com/cover/361329559-288-k144298.jpg)
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Do lado de lá (romance gay)
Historia CortaGAY - LGBTQIA+ 🌈 🥇 #1 Sensível (Fev/2024) 🥈 # Homoerotico (fev/2024) POV: Diego Torres. ---- SINOPSE Meu nome é Diego Torres. Tenho 30 anos, sou designer gráfico e estou noivo há um ano de uma mulher incrível, linda, bem sucedida e boa de cama...