9 - São só negócios, certo?

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Eu apenas coloquei um par de tênis e abotoei a camisa para o caso de cruzar com alguma senhora enxerida no elevador. Sentia meu pulso chutar com força e gotículas de suor brotarem na minha testa. Sabia que era porque estava ansioso e um pouco apavorado.

Quando passei pela guarita e cumprimentei o porteiro, me indaguei se ele diria qualquer coisa que visse essa noite pra algum conhecido meu. Eu não tinha família na cidade, apenas alguns amigos e a Laura.

Pensar nela não ajudou muito. Coloquei na minha cabeça que estava apenas atendendo ao desejo de um cliente e que isso era trabalho, não prazer. Não era uma traição receber um cliente para conversar.

Absolutamente não.

Porque, claramente, não havia sentimentos envolvidos, então... Eram só negócios.

São só negócios, certo?

Um carro escuro parou na porta. Se meu coração não estava batendo acelerado o suficiente, agora parecia uma metralhadora fora de controle. A reação de fato me surpreendeu porque não me lembrava de ficar desse jeito por qualquer outra coisa antes. A porta abriu e ele desceu. Samuel, parado na minha frente, em carne e osso e claramente me reconhecendo perfeitamente bem dessa vez.

— Olá Samuel. Como sabe onde eu moro?

Foi aí que caiu a ficha. Ele devia ter visto eu entrar no prédio depois de tê-lo assediado. Como eu era estúpido! Não bastasse isso, nem havia considerado a imprudência de estar com esse cara bem na frente de onde eu moro, ainda que eu não tenha dado qualquer informação pessoal a ele.

— Descobri sem querer, há mais ou menos um mês. Trabalho a uma quadra daqui e sempre venho a essa padaria aqui em frente para um café. Pode parecer impossível mas de fato foi uma grande coincidência.

— Sei... há um mês, então. 

Fiquei olhando para ele em dúvida se ficava puto por ele mentir de novo ou preocupado porque ele parecia muito diferente do cara que vi há uma semana. Ele parecia mais magro, cansado e tristonho. Fiquei sem saber o que fazer. Não queria convidá-lo para entrar no meu apartamento porque não sabia nada sobre ele. Seria uma loucura fazer algo desse tipo e, embora geralmente agisse como um, eu não era nenhum idiota.

— Quer dar uma volta? — perguntei. Ele assentiu e dispensou o motorista, provavelmente um Uber.

Caminhamos por uns cem metros até uma praça perto do prédio. Já passava da meia noite então o local estava deserto, salvo por um cão que vasculhava no lixo. Sentei-me num dos bancos e acenei para que ele fizesse o mesmo.

— Me desculpe, Josh. Tudo é bem diferente quando não tem uma tela nos separando. Não sei o que deu em mim pra jogar isso no seu colo desse jeito sem considerar as implicâncias do meu gesto. O caso é que... eu não tinha com quem conversar então, enfim, me desculpe.

Engoli em seco. Eu não sabia que tipo de consolo ele esperava que eu desse a ele. Na minha cabeça só existia um tipo, e achava que não seria conveniente, dada a seriedade do que ele me falara há pouco.

— Sinto muito pelo seu irmão.

Samuel ficou em silêncio. Senti que ele queria esconder as emoções, então evitou falar. O vento frio me fez encolher dentro da camisa fina que eu estava usando, mas não me movi e esperei o tempo dele.

— Quanto isso vai me custar, Josh?

— O quê?

Demorou um pouco para eu sacar que ele estava falando de dinheiro. Eu saí do meu apartamento com o maior discurso furado de que se tratava de um trabalho, que eu estava ali por causa dos negócios e, do nada, já tinha me esquecido completamente de que estava posando de garoto de programa para esse cara. Isso me fez ter ódio de mim mesmo em proporções épicas.

Eu não soube muito bem o que responder. Eu ainda tinha aquela comichão me corroendo por dentro, a maldita pergunta em loop, soando dentro da minha cabeça: "Como será que é?", palpitando constantemente e refletindo no meu pau, sempre sendo lembrado de que estava ali e esperava uma atitude mais ousada do que uma punheta na frente de um vídeo de homens se esfregando.

Vi que ele pegou o celular e abriu o app do Uber. Ele certamente se arrependera de ter ido até ali. A constatação me deixou aborrecido num grau alarmante, então estendi a mão e toquei o braço dele.

Ok. Talvez existisse alguma regra de "não tocar" nesse lance. E eu tinha acabado de quebrar a regra. Eu segurei o braço dele e o senti estremecer. A eletricidade que percorreu meu braço me deixou desconsertado. Ele me olhou de um jeito tão profundo que, mandando a prudência pra casa do caralho, puxei ele para dentro de um abraço e senti quando seu corpo retesou por um instante, para em seguida relaxar dentro dos meus braços.

Senti a barba dele roçar no meu pescoço, e um perfume bom pra cacete subir até o meu nariz, provavelmente um cheiro importado de mais de 1k, sem dúvida. Senti o peito aquecer quando ele soltou o ar e me arrepiei todo quando seu braço deu a volta na minha cintura. Meu pau acordou e eu senti a barriga tremular.

Ele não disse nada. Esse abraço deve ter durado uns dois ou três minutos, e aos poucos, a respiração dele foi ficando acelerada. Percebi que meu ar começou a faltar também, como se estivesse tentando sugar o mesmo ar que ele, como se tivesse ficado tudo muito pesado em volta. Ele desenroscou a cabeça do meu ombro e olhou pra mim.

Bom... quando isso aconteceu, eu confesso que a única palavra que surgiu na minha cabeça foi "Fodeu!". Eu olhei pra boca dele, pra barba e para aqueles olhos meio lacrimosos cor de fumaça, e baixei a cabeça até chegar bem perto, até que o ar dele entrasse pela minha boca aberta.

Ele piscou e ergueu a mão até a minha nuca. Meu coque frouxo estava se soltando e ele terminou o trabalho enroscando os dedos nos cabelos compridos no meu pescoço, depois fechou os dedos e apertou os fios, puxando um pouco. O gesto causou um pinicão de dor que se refletiu no meu pau instantaneamente.

— Quer saber, Josh... estou pronto a me afundar numa dívida por isso...

E me beijou.

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora