22 - Daniel

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Ele se curvou e pegou a cueca no meio das roupas do chão. O seu silêncio estava me dando nos nervos, mas eu fiquei na minha. Nunca fui um cara de falar muito, e não ia começar do nada a tagarelar como o lado frágil da relação só porque era ele quem comia a minha bunda. Ele se vestiu e se sentou no sofá. Me vesti também e fiz o mesmo, já que estávamos brincando de "vaca-amarela".

De repente, ele apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos. Parecia que o mundo inteiro estava em suas costas. Fiquei tentado a tocá-lo, mas não o fiz. Ainda estava chateado e meio cansado do suspense que ele sempre fazia, então suspirei e estava prestes a me levantar e mandá-lo embora quando notei que ele estava chorando.

– Ele era meu gêmeo... – ele murmurou, a voz embargada – você tem noção do que é isso?

Confesso que fui um pouco lento para absorver que ele estava falando do irmão morto.

– Não... não sei nem o que é ter um irmão, quanto mais um gêmeo.

Ele fungou e limpou o rosto. Percebi que estava constrangido, tentando a todo custo se manter apresentável. Às vezes esse orgulho masculino é uma coisa foda de lidar, mas somos assim, não há o que fazer. Enquanto der para envergar sem quebrar, a gente tenta manter a coisa toda sob controle.

– Você começa sua vida colado a alguém, e tem cada instante da sua existência acompanhado por uma sombra ou uma luz que te ofusca dependendo da situação. Você nunca está sozinho mesmo que queira. Você sente o que a outra pessoa sente e ela sente o mesmo que você, e quando ela se vai...

Ele engoliu em seco e apertou os olhos. Eu balancei minhas pernas por mais alguns segundos, mas acabei me rendendo. Me ajoelhei na sua frente e segurei suas mãos. Ele entrelaçou nossos dedos e olhou para mim.

Eu afundei. Sério. Senti um buraco abrir e me sugar para dentro de mim mesmo. Me senti pequeno e inútil, e tão angustiado que não me lembrava da última vez que me sentira assim, a não ser quando...

– Você não precisa estar sozinho se não quiser. – Comecei a falar com ele. Claramente minha tentativa de consolo não ia ajudar muito, eu era péssimo nisso, mas eu juro que me esforcei. – Você é um cara tão... foda. Tão bonito e... não é tão difícil encontrar alguém pra estar ao seu lado. Um amigo, ou algo mais.

Você seria uma opção?

Senti minhas entranhas colapsarem. Não foi o que eu quis dizer, mas sei que foi o que pareceu.

– Não sei se sou uma boa opção, Samuel.

Eu fui sincero. Eu fui honesto e transparente. Sabia que tinha muita coisa mal resolvida na minha cabeça, na minha vida, e eu seria um tropeço maior do que um apoio. Ele suspirou, soltou minhas mãos, recostou no sofá e fechou os olhos.

– Eu conheci você por causa dele.

Fiquei confuso. Não sabia nem o que pensar, então me sentei de volta no sofá ao seu lado.

– Como?

– Daniel. Esse é o nome do meu irmão gêmeo. Foi ele quem me apresentou o site. Foi ele quem me mostrou o seu perfil e me disse que estava fascinado por você. Eu sequer tinha o hábito de consumir esse tipo de coisa até me deparar com o seu vídeo. 

Lentamente, os fios começaram a se entrelaçar na minha cabeça, e quando tudo se ligou, foi como uma bomba.

– Então, o primeiro que entrou no meu canal... não foi você?

– Não.

Puta que pariu. 

Do lado de lá (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora