Crises

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Anita acordou com Verônica dando tapinhas leves em seu braço, a cabeça da loira estava bem mais pesada que o normal. Anita tinha problemas com enxaqueca, e bom, digamos que ela tenha tomado 3 ou 4 comprimidos para passar e conseguir dormir mais rapido. Oque apenas auxíliou, ja que a delegada havia dormido cerca de menos que 2hrs na madrugada anterior.

A loira não disse nem expressou nada, nem uma mísera palavra, mas ela sentia. E sentia bem mais do admiraria. Saindo do aeroporto pararam para comprar um cartão de viagem, apenas por minutos, as crianças adoravam colecionar. Anita não discordou, não concordou. E isso estava assustando Verônica, que resolveu se convencer que passaria.

Rafa notara as orbes da loira, num tom mais cinza que o normal, as olheiras, o esmalte levemente descascado, os ombros mais pesados do que Anita se permitia demonstrar. Não era o normal de Anita, nem ela mesma ja tinha se visto nesse estado.

No taxi a loira não fez nada, de novo. Colocou suas malas e foi em total silêncio, no banco da frente a unica coisa que se passava na cabeça da mulher era que talvez o ouro de seu colar fosse falso, e que amor doía.

Todas risadas, piadas, implicâncias, choros, abraços, bolos, banhos, tudo era falso??? Anita sabia que Júlia não iria a Amsterdam coisa nenhuma, a cacheada faria tudo sozinha. E se tem uma coisa que Anita odeia, é não poder controlar as coisas, e oque a mais irritava era saber que a irmã sabia. E mesmo assim preferiu ser o Robin Hood.

O caminho ate o local onde ficariam foi feito em 3 carros diferentes, oque durou boas 2:30hs. Anita estava completamente exausta, tanto de pensar, como de respirar. Anos nisso para chegar a hora e ir a baixo? Que confiança era essa? Claramente só existia na cabeça da loira, e mesmo depois de pensar muito em jogar o próprio colar em qualquer bueiro, Anita não conseguia.

Se sentia culpada, o peito pesava e sua respiração era contida.
As crianças falavam e falavam, como melodias. Daqueles filmes tristes que você acaba vendo na sessão da tarde de uma quinta feira, anos depois do lançamento, simplesmente por não ser algo importante na época. E isso se torna parte da sua melancolia, você se pergunta como foi parar ali, e se merece mesmo ficar solitário.

Quando chegaram Anita não fez questão de reparar em nada, seu mundo estava monótono, e mesmo sendo seu sonho vistar o lugar, Anita não poderia ligar menos agora. Verônica ficava cada vez mais impressionada com o lugar, o pôr do sol era igualzinho um quadro, as flores, as pessoas, e as bicicletas que a morena gostava tanto. Tanto as crianças como Verônica, se impressionaram logo de cara com o jardim enorme de tulipas presente em volta da casa. Verô não tinha ideia de como a cacheada tinha a chave, e como fez para alugar ou comprar um lugar tão lindo.

Anita tomou a chave de Verônica e resolveu achar um quarto, precisava arrancar o primeiro moletom que achou no hotel de São Paulo, do corpo. Não aguentava mais ouvir nada, era um eterno "pi" sendo gritado em seus timpanos. Anita não repara na casa e sobe as escadas que davam ao segundo andar, acha o primeiro quarto e entra, arrancando roupa fora. Sem nenhum tipo de cuidado, faltando rasgar a roupa de tanta força.

Era uma crise de raiva, mas era o pior tipo dela, e por um segundo a loira entendeu que ja estava com ela presente desde o aeroporto. Era silenciosa. A água caia quente em Anita, o nó na garganta implorava para ser solto, o coração estava acelerado, a boca seca, uma ou duas lágrimas desciam, sua respiração era barulhenta e rapida.

Não tinha oque fazer, precisava fugir, precisava gritar e sair correndo. Mas a única coisa que fez foi desferir arranhões por onde sua unha passava, cobrindo marcas antigas. Anita se odiava mais do que tudo, se sentia usada, desesperada. Como um raio tudo voltou a sua mente, tudo oque tentava guardar.

Matias em cima dela, os gritos que com o tempo nem existiam. O constante pavor de morrer, o desespero em cada vez que ergueu uma arma para um inocente. As brigas que a irmã se metia para protegê-la, e a culpa que sentia por deixar, quando viu a irmã gritar na cara de Matias, implorando para que fizessem tudo com ela se não encostassem em nenhum fio loiro. Os sentimentos que nutria por Verônica, o odio que tinha dela por ter sido feliz, por ter tido escolha de viver o amor ou não, ter filhos ou não, ir para polícia ou não, saber da mafia ou não.

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