Carne exposta!

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Anita estava a mil por hora, sentia que seu coração ia acabar saindo pela boca, não podia demonstrar nada, não importasse oque fosse, como iria tirar eles de la? Se era a mafia, nunca sairiam vivos. Ela estava morta, Verônica estava morta, começava a considerar os meninos seus afilhados, e mesmo assim seriam mortos. A loira fingiu costume e voltou ao quintal, a passos lentos. Verônica ria de algo forçadamente, em conjunto com Alessandro e dois desconhecidos. Lila e Rafa estavam mais distantes, conversando entre si. Anita sentia o peito começar a ficar pesado, e a cabeça rodava. Se sentia culpada, desesperada e velada, sabia que tinha levado sua falsa familia ao abate, e sabia bem oque podia ser feito, quando se traia a mafia, sabia oque os seus corpos virariam.

Na mente da loira passava um filme, todos os pequenos gestos que teve com eles. O sexo com Verônica, o selinho na cozinha, como o cabelo dela nunca se espalhava pelo rosto, os orgulhos que Verônica teve que engolir para não matá-la em pouquíssimo tempo, Anita ja começava a sentir saudade dos selinhos roubados, e de como a língua de Verônica parecia seu encaixe perfeito. Tinham dormido juntas em alguns dias, mas abraçadas? Não. Apenas um, e a voz que sussurrava dentro de Anita, dizia que seria a última vez.  Anita não queria acreditar nisso, mas a realidade estava batendo a porta.

Sentia falta de todas as fotos que sua mente tirou de Lila lendo, todos os títulos que a menina gostou, como ela sempre fazia a expressão de acordo com oque lia, sempre sorria com os olhos, da mesma forma que a mãe. Todos os abraços inesperados que a menina dava durante a semana, e mesmo que não falasse para não desrespeitar a loira, Lila sentia que Anita precisava de afeto, e de saber que não estava só. Berlinger pensava em como seria sua relação com a maternidade, se sua mãe tivesse sido boa, se sua vida fosse normal.

Com Rafa Anita se entendia, mesmo que tenham tido apenas uma conversa um pouco mais profunda, entendia o menino pelos ares. Os olhos eram a melhor forma de ver a alma, e Anita conseguia ver ele, e sabia que ele a via também. A consciência que Rafa nunca poderia dizer que é gay, começava a pesar seu estômago, uma ansia foi lhe subindo, e sua garganta ja queimava. Ele era seu menininho, e Lila sua garotinha, não saberia explicar o desespero que começava a bater, Verônica nunca irá perdoá-la, não podia.

Passando por Lila e Rafa, a loira fez um leve carinho na bochecha de cada um, Rafa notou sua mão gelada, mas ignorou e seguiu conversando com a irmã, se o menino soubesse proximos passos, teria abraçado a loira ao menos mais uma vez. Anita notava quem estava proximo de Verônica, Alessandro, um cara alto com roupas casuais, e cabelo lambido, e uma mulher morena com vestido florido. Se ela bem se lembrava, e pelo português misturado com inglês dos demais participantes, podiam ser células.

Células consistiam em pessoas da mafia, dormentes em qualquer canto do mundo, eram acionadas de vez enquanto e somente isso. Ninguém sabe, ninguém vê, ninguém entende. Mas eles existem, e faziam bases em qualquer esquina, células eram geralmente crianças traficadas, todas as que não serviam para ir a um lugar "melhor". Ja que ninguém jogaria mercadoria fora, as pessoas compravam, as mercadorias iam, quando não era para outra máfia, acabavam em prostituição. Independente de onde, lhe foi concedido a palma do Senhor, e ninguém consegue burlar as marcações.

A loira pensava em como iria contar, se era mesmo Matias, alguém tinha que ser torturado. E quem cuidava dessa parte, era Júlia. Matias não usava tortura a todo tempo, mas sempre que usava, não era ele que fazia o trabalho sujo. Nunca era. Na adolescência, Anita tentava acalmar os ânimos de Matias, tentava impedir que a irmã fizesse as coisas brutais que sabia fazer. Ao contrário de Júlia, Anita se sentia errada o tempo todo, odiava sentir e ver oque faziam de ruim. A carioca simplesmente não ligava, sabia que era errado, mas não tinha como não fazer, era melhor desligar os sentimentos. E era exatamente por isso que Júlia torturava e não Anita, a loira vez ou outra pensava a respeito, mas algo a bloqueava, como a patética marca de cigarro na mão de Júlio Torres. Não tinha nenhuma ordem direta de não matá-lo, Matias o julgava inútil, ninguém podia impedi-la, mesmo sofrendo todas as consequências pelos atos do homem, Anita não conseguia. Já tinha matado tanta gente, mas foi bloqueada.

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