Boa noite, minha linda.

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Com medo por ter gostado?- a frase de Verônica ecoava na cabeça da loira, a delegada estava a mil por segundo, era um beijo e nada mais. Não sabia o motivo de tanto desespero, era a escrivã idiota fazendo isso apenas por necessidade, era trabalho, e isso tinha que se grudar em sua cabeça, apenas trabalho.

Verônica sentia seu interior queimando, não sabia que tinha tanta vontade de Anita, como estava tendo agora. Não deveria ser assim, sabia bem oque podia ser falado a respeito disso caso sobrevivessem para um futuro julgamento. Ainda era trabalho, mas e se ninguém soubesse? A verdade era que Verônica estava embreagada no cheiro de Anita, no gosto dos lábios da loira e nada mais fazia nenhum sentido.

-Chega, eu vou subir.- Anita diz antes de desgrudar as testas. Não concluiu nem 2 passos e Verônica tocou seu braço.

-Anita, pelo menos uma vez na vida não finge que não foi nada.- a morena falava baixo, pacífica, e calma. A loira não disse nada, o olhar dizia mais do que qualquer palavra, e Verônica sabia muito bem identificar medo. Era o mais genuíno medo, com toques de receio, e pitadas de tristeza. Com certa relutância, Berlinger apenas concordou com a cabeça. Se iria falar de sentimentos, não poderia estar sóbria, a delegada pega a taça e entrega a Verônica que aceita de primeira, a garrafa ficaria com Anita.

Berlinger guiava Torres até a sala de astronomia, queria respirar do lado de fora mas o pânico de não saber dos vizinhos a impediu. O silêncio gritava nos seus ouvidos, Anita ainda tinha o coração acelerado e as mãos suadas, ja Verônica sentia que podia explodir, precisava ouvir oque a loira teria a dizer, e ao mesmo tempo também tinha medo.

Ao chegar Anita precisou abrir as janelas, mais um pouco sem respirar e iria acabar a 7 palmos. A loira pega o maço de cigarros do bolso com a mão trêmula, o fogo queimando na ponta dos seus dedos a dava mais controle, e isso era oque mais precisava. Uma coisa que nunca teve durante a vida, por isso criou o hábito de fumar, sentir a vida queimando seus pulmões, era melhor do que mares queimando seus olhos.

Verônica entrou com cautela, como quem vai para algum abatedouro. Se sentia como uma tartaruguinha tentando desviar dos gaviões, apesar de não ter oque se defender, por não ter feito nada demais, se sentia apreensiva. Era o habitat de Anita, a loira se encostava contra a janela, esperando Verônica começar a falar. Torres tomava seu tempo, os fios loiros balançando pelo vento, a roupa amassada, os dedos longos tentando se manter retos, a fumaça que banhava o cheiro amadeirado do ambiente. Anita bebe um gole da garrafa, e diz:

-Não vai falar nada?- ainda de costas a Verônica.

-Eu não quero brigar, só quero entender oque ta sentindo para não chegar no fim e eu me machucar sozinha.- Verônica diz, sua voz era tremula, partes dela não queriam ouvir a resposta.

-E oque você ta sentindo?- Anita pergunta depois de um longo suspiro.

-Eu não sei, ainda é confuso, só estamos a uma semana aqui e eu não sei oque pensar.- Verônica passa as mãos nos seus fios, estava tentando ser o mais sincera possível. Anita deu um leve sorriso e virou em direção a morena.

-Eu sabia, esse é o seu problema, tudo é motivo de questionamento. Sentimento não aparece em uma semana, sentimento é construção.- Anita diz, enquanto tragava seu cigarro.

-Eu sei, mas é que.- Torres tenta.

-Não é nada, Verônica. Nós trabalhamos juntas a bastante tempo para você ter pelo menos um pingo de noção do que sente, seja lá oque você sinta. Não é mais fácil dizer que ta carente, e quer me usar de objeto?- Anita pergunta, sabia que era um pouco rude, mas era oque sentia em relação a isso.

-Não, não, você não é resultado de carência. Definitivamente, não.- Verônica diz, cruzando os braços.

-Não? E o Nelson? Era?- A loira rebate, ja estava começando a se incomodar com a postura de Verônica.

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