Verônica andava rápido em meio ao emaranhado de corredores, queria entender a história, queria saber dos filhos mas mesmo que seu instinto a guiasse, seu coração pensava na loira. Pensava em como Anita era forte e delicada ao mesmo tempo, passava como um jato o que as duas haviam passado e como tudo moldou a personalidade mesquinha da delegada e bruta da outra mulher.
Ao chegar proximo a porta, Verônica ouviu um ruído baixinho, que anunciou como uma gota fina de chuva que acaba caindo diante de seus olhos, que Anita chorava. A escrivã vendo de fora, observou Berlinger na postura forte de sempre, a postura seguiu ereta e os olhos firmes. Mas ao abrir a porta, sem que a mesma denúnciasse sua entrada, possibilitou a escrivã ver a loira chorar abaixada enquanto abraçava suas pernas.
-Sai por favor, eu não quero ver ninguém, eu não posso precisar disso.- Anita dizia com a voz embargada, tentava controlar suas lágrimas mas seu coração mandava nos oceanos cristalinos que caiam ao chão.
-Anita calma, tenta ver o lado dela, vocês duas estão machucadas.- Verônica declara com a voz branda, sem se aproximar. A morena sabia de sua preferência na ausência de contato físico, nesses momentos.
-Quer saber? Ela tem que ver que tá acabando comigo, ela me deixou longe dos nossos filhos, Verô. Das nossas crianças, ela me largou nesse buraco de merda por um ano, ela que eu mais confiei, ela que não sabe oque é buscar respostas todos os dias ao invés de dormir.- Anita falava baixo, o tom vinha de algum lugar obscuro. Anita não sabia de onde era, Verônica também não. Mas a carioca que chegava e acabara ouvindo pela porta entre aberta, conhecia bem o fundo do abismo, em que a loira começava a cair.
-Eu sei, infelizmente, eu sei. E eu tambem não vou ficar quieta, porque você quer silêncio. Eu tratei do Rafa nos melhores hospitais daqui, e hoje ele usa uma perna mecânica, por conta do filho da puta do Lima. Eu ajudei a Lila, ela sofreu bullying além de ser negligenciada, hoje ela faz terapia duas vezes na semana, junto com o Rafa. Além dos esportes físicos e mentais que eu pago, fora os cursos que eles mesmos escolheram. Eu não conseguiria tirar vocês duas daqui, aqui ninguém do Cosme e Damião, sabe onde fica. Foi justamente por confiar em você Anita, que eu fiz oque fiz. Eu me sacrifiquei porque eu sabia que valeria a pena, inclusive tô sabendo que estão noivas.- o tom era calmo, como boa parte do tempo sempre fora.
-Perai porra, meu filho ta com uma perna mecânica?- Verônica questiona, ja sentindo seus olhos marejarem.
-Os pregos estavam enferrujados, e eram muitos, ele fez uma cirurgia mas a pele não aguentou. E de nada por ter os mantido a salvo, na verdade vocês quatro.- o tom não era de afronta, era de vergonha.
-Desculpa mas não é sobre você, você por acaso sabe como foi ficar sem nenhuma notícia? Você fez a merda de tentar resolver sozinha, você ficou para trás por escolha própria, você construiu uma porra de um exército particular. Eles são iguais a você, e você é igual a eles.- Anita despejava seus sentimentos, enquanto se aproximava com o dedo em riste, suas lagrimas ja não estavam presentes, era apenas uma demonstração de como esconder sentimentos.
Por dentro, Berlinger se sentia esgotada, não aguentava mais pensar e pensar a respeito de algo que estava de baixo de seu nariz. Mas por fora, tentava se manter firme, mesmo sabendo dos caminhos que as lágrimas deixaram marcadas em seu rosto.
-E você se acha diferente? Você também né, Verônica?- a cacheada questiona, colocando as mãos no bolso como quem espera o pão sair do forno.
-Nós crescemos juntas, aquela foto sua na piscina tava cortada, a Verônica ta no fundo não muito longe. Era na casa do Matias que acontecia boa parte das transações, mas era mais um dia de brincadeiras para vocês, uhm? Nem se lembra disso, nenhuma das duas lembra. Vocês não se falavam muito, você não era timida e mexia no cabelo para disfarçar, Verônica?.- a mais nova questiona. Torres lembrava vagamente de sua mania, passada por sua mãe, mas não sabia quando parou de fazer.
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Última chance.
RomanceUma história que Anita resolve ajudar de um jeito diferente, será mesmo que a loira é tão má assim?! Verônica nunca poderia pensar em tudo que irá passar.