Primeiro beijo

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Raely Helena



O que aconteceu comigo?


Onde estou?


Abro meus olhos lentamente, vejo uma luz acima de mim, é uma lâmpada fluorescente, daquela finas, que geralmente só escolas e hospitais possuem. Espere... Hospital? As paredes deste quarto são brancas, há uma cortina à minha esquerda, me separando de outro alguém.



Busco olhar para minhas mãos, meus braços estão enfaixados, não consigo me mover, estou anestesiada. Até minhas pernas, não as vejo, estou coberta com um tecido azul claro. Minha cabeça também está enfaixada, meus dentes ainda estão nos lugares, eu pensei que tinha quebrado eles durante a luta, mas então devem ter colocado alguma prótese em mim. Minha gengiva dói, consigo compreender o motivo.



Há quanto tempo estou aqui, nesta cama? O torneio já acabou? Quem venceu? Ninguém vai entrar aqui para me ver? Quem será a outra pessoa, que está na cama ao lado? Tento mexer meu corpo, de alguma forma, gemo de dor, não consigo falar nada. A pessoa do outro lado percebe que estou me mexendo, ela se levanta e caminha para fora da cortina. Me surpreendo.



- Você já acordou? - É a lutadora Gil, se apoiando numa muleta, com sua perna direita amputada.



Isso foi por causa da picada de cobra que recebeu na luta contra o Raj? Foi tão ruim que a fez perder a perna. Mas ela está bem, é o que importa, ainda está de recuperação aqui no hospital. Pensei que eu veria a Nathalia, mas ela foi levada para um hospital melhor, quem sabe, o mais caro do país.



- Você ainda não consegue falar, né? - Sua voz é tão calma e me sinto bem por não estar sozinha aqui. - Já se passaram 4 dias desde que você chegou.



4 dias?


O torneio então acabou! Eu quero perguntar para ela quem venceu, eu quero saber, mas eu não consigo.



- Não fique se mexendo muito, se não suas feridas vão se abrir. Está tudo bem agora, pelo menos a gente sobreviveu. O Máquina da Morte venceu o torneio, por pouco ele não matou o Dantalion. A melhor parte disso, é que pudemos ver o rosto dele. Eu assisti tudinho pela TV que colocaram neste quarto. - finaliza, apontando para o objeto que está na parede.



Eu quero saber como é a aparência deste lutador, mas acho que infelizmente Gil não pode me mostrar ainda. Agora que está mais próxima de mim, vejo que o veneno da serpente afetou bem mais do que apenas sua perna, em torno de seus olhos está roxo, ela está com a boca seca e algumas manchas vermelhas na pele. As sequelas lhe deram uma aparência enfraquecida, isso é muito triste.



- Você foi uma excelente lutadora! - sorri, ajeitando uma mecha de seu cabelo cacheado para trás. - Torci por você desde o início.



Quero responder obrigada.


Mas meu sorriso é a única coisa que posso lhe oferecer. Ela retorna para sua cama e através da cortina a vejo sentada, pegando alguma coisa e rabiscando naquilo. Ela caminha de volta até mim, me mostrando seu caderno digital e um desenho que acabou de fazer. Sou eu lutando com minha espada, mas ela caprichou tanto em meu rosto que me faz parecer mil vezes mais bonita do que já sou.



- Quando puder falar, me diga se gostou. Vou deixar aqui na sua mesinha.



Que fofa.


Tenho a sorte de estar com ela agora. Este desenho ficou incrível, queria ter essa habilidade. Talvez eu até tenha, mas nunca tive a oportunidade de pôr em prática. Um médico entra e me examina, ele diz que ficarei um mês inteiro aqui, chega a ser assustador pensar que meu estado é crítico, mas eu posso voltar a caminhar e fazer meus exercícios tranquilamente depois que passar por terapia.

The Last GardenOnde histórias criam vida. Descubra agora