Dois mistérios

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Raely Helena

Já estamos chegando.
Vejo os prédios de Hyoto aparecerem.
Foi uma viagem bastante rápida, logo descemos do trem e caminhamos pela rua à procura de mais um táxi. Estou trêmula, faz um mês que não vejo minha mãe presencialmente. Quero poder abraçá-la, quero estar com ela mais um pouco antes de se arriscar no tratamento.

Não demora muito até Alsel chamar outro taxista. Shizukana aparece no horizonte, o carro se aproxima o suficiente da casa da senhora Maya, para que eu possa descer tranquilamente e não andar muito. A velha e a minha mãe aparecem do lado de fora, sorrindo e também chorando de alegria. Alsel pega minha mala, assim que desço e caminho lentamente para chegar até elas. Agora, sou eu quem mais choro aqui.

— Mãe!

— Raely! — Ela me abraça, com uma força que eu não imaginava possuir. Deve ser a saudade, ela faz isso com as pessoas. — Minha filha, eu fiquei muito desesperada depois que o Guilherme nos contou o que aconteceu… Eu pensei que você tinha morrido… Nunca mais participe desses torneios, está entendido?!

Como sempre, uma boa bronca vinda dela. Também senti falta disso.

— Me desculpe mãe… Eu… pensei que ia ganhar… Eu não consegui…

— O que importa é que você está de volta. Vamos logo para a cozinha, você precisa comer algo.

Não mãe, a senhora precisa muito mais do que eu. O braço dela está mais magro do que antes, de perto ela está pior do que vi nas chamadas de vídeo. Isso me preocupa muito.

Maya abraça Alsel, é uma cena muito linda entre eles. Mas isso acaba quando a mulher lhe dá um tapão na orelha, deixando a região vermelhinha.

— Você quer me matar do coração?! Você quase deixou a garota morrer naquela arena! Eu só não te dou outro tapa porque você pelo menos cuidou dela.

— Me perdoe, eu sei que cometi um grande erro. — ele responde cabisbaixo. É muito raro vê-lo dessa forma, mas o sermão de Maya é o único que consegue deixá-lo tão magoado assim.

Ai, minha perna começou a doer, entro na casa e rapidamente me sento no sofá, jogando as muletas no chão. Levanto minha calça para ver como está minha perna. Ainda está um pouco roxa, o médico disse que preciso fazer massagem diariamente na região até eu melhorar.

— Mãe, onde está o Guilherme?

— Ele está na escola agora. Mais tarde ele chega.

Ah é mesmo, eu quase me esqueci que tenho que voltar a estudar. Droga, eu queria chegar em dia de férias, se bem que não vai demorar muito para elas acontecerem. Estamos no mês de novembro, quase acabando. Só vou ter duas semanas de aula então. Nem adianta ir, ainda mais na situação que estou.

Alsel entra e guarda nossas malas nos quartos. A casa da senhora Maya tem três quartos, um deles é do Alsel, um é da própria e o outro eu vou dividir com minha mãe. Antes nós ficávamos na antiga casa da Jian, mas o lugar agora está habitado por outros moradores. Isso não é nenhum problema, estar no mesmo quarto que minha mãe é até melhor, porque se algo acontecer com ela durante a noite, eu posso ajudá-la facilmente.

Meu mestre retorna para a sala.
Mestre? Eu disse que não mais o chamaria assim, mas ele não quer ser chamado de irmão. Então tanto faz se eu continuar com este termo. Ele senta ao meu lado, me olha de canto. Não estou entendendo o que ele insinua com este olhar. É sobre algo que devemos contar a elas? Ah, sim! Sobre o dinheiro!

— Mamãe, eu... — mas sou interrompida pelo mesmo.

— Senhora Aloana, não se preocupe se sua filha perdeu no torneio. Conseguimos outra forma de pagar seu tratamento.

The Last GardenOnde histórias criam vida. Descubra agora