Capítulo: 24

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Só restava uma poção na gaveta da mesinha de cabeceira. Draco percebeu isso na noite anterior, o que o deixou nervoso. Ele não conseguiu beber, pois estava em pânico com a ideia de não beber nada no dia seguinte.

Ele mal dormiu naquela noite, pois quando o fez foi pontuado por pesadelos, ataques de pânico e pensamentos sombrios que ele gostaria de nunca ter tido.

Várias vezes durante a noite, ele se sentiu tentado a sair do quarto para pegar a navalha que encontrara semanas antes no banheiro. Ele conseguiu se conter. Wynn entrou pela janela quando estava prestes a abrir a porta. Salvo no último segundo.

O resto da noite foi um desastre. Draco andou por seu quarto por horas, o tempo todo lembrando a si mesmo que logo amanheceria e ele poderia voltar à sua rotina sem se preocupar.

No entanto, depois que o sol nasceu, ele não conseguiu sair da cama, onde se deitou depois de resistir à vontade de pular pela janela por trinta minutos. Ele sabia que não teria caído muito, mas talvez a dor fosse suficiente para acalmar os demais. Sua cabeça girava e suas mãos tremiam.

Então, quando Granger veio trazer o café da manhã para ele, ele não reagiu. Não é a primeira vez, nem a segunda. Ela bateu pela terceira vez, sem sucesso. Ele não conseguia se mover. Foi demais para ele.

Era como se todos os seus membros se recusassem a se mover, como se lutassem para permanecer imóveis. Draco era Amorfo.

Ele se perguntou se Granger abriria a porta sozinha, se ela ousaria entrar na privacidade dele. Ela não fez isso. Ele a ouviu chamá-lo, sem sucesso, antes de ela colocar a bandeja no chão do corredor e o som de seus passos chegar até as escadas.

Ele agora podia visualizar o chão com muita clareza. Havia outros quatro quartos, de acordo com as portas, além do seu. Ele ainda não os havia visitado, com muito medo de descobrir algo perigoso. O chão do corredor era revestido de madeira. Havia exatamente trezentas e trinta e duas ripas de madeira. Algumas paredes estavam cobertas com papel de parede floral laranja e cinza. Novecentas e cinquenta e sete flores. Havia dois abajures, também laranja.

Granger desceu o primeiro degrau da escada, depois o segundo, até o final. Ele contou treze passos. Ele nunca havia caído em nenhum deles.

Contar o ajudou a relaxar. Isso o fez se sentir melhor. Lembrar de todos aqueles números fez com que ele sentisse que conhecia melhor o lugar. Se ele soubesse que os treze degraus de madeira terminavam em outro andar, que – pelo que podia contar lá de cima – continha pelo menos trinta e três ripas, então ele tinha a sensação de que estava se acostumando com esse novo ambiente. Talvez isso fosse uma ilusão.

Se tivesse que ser racional, sabia que não faria muita diferença. Mas ele poderia se convencer disso.

Sua tarefa seguinte e mais urgente era voltar ao banheiro. Ele tinha que encontrar mais frascos de poções a todo custo, estava convencido de que não conseguiria sobreviver sem eles. Seu corpo já estava clamando por mais. Ele sentiu como se suas veias estivessem procurando a dose diária, como se seu estômago estivesse queimando em busca de uma gota de poção. Sua cabeça girava e suas mãos tremiam.

Foi insuportável.

Mas ele estava com medo. Medo de não encontrar nenhum, de secar, de abrir armários vazios com frascos que Granger teria limpado. Porque ela tinha que ter feito isso, não tinha?

Ele se perguntou várias vezes se ela notara o desaparecimento de todos os outros. E ela deve ter notado. Ela sabia que ele havia roubado poções dela. Não havia como ela não ter visto, ele havia roubado tudo dela.

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