Capítulo: 26

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Três semanas se passaram sem que Draco percebesse.

A rotina que se estabeleceu entre ele e Granger, e o fato de que aos poucos ele estava se orientando no primeiro andar da casa, o impediam de pensar na passagem do tempo. Foi simples. Foi natural. Ele não precisava pensar.

Muitas vezes ele acordava na biblioteca no meio da noite com um livro no peito e o corpo apoiado no sofá. Ele então ia para seu quarto, tomava uma poção para dormir sem sonhos por precaução e voltava a dormir como se nada tivesse acontecido. Foi simples. Fazia parte da sua vida, da sua rotina diária, agora.

Ele passou tempo suficiente neste novo quarto e se sentiu tão seguro lá quanto em seu quarto. Ele não tinha medo de ser atacado ou pego ali. Ele se sentia confortável ali, sentia que pertencia um pouco mais ali. Foi natural.

Ele entrava e via os livros que havia deixado espalhados no dia anterior, as almofadas estavam sempre arrumadas para que ele pudesse sentar-se confortavelmente no sofá e seus marcadores não fossem movidos. Tudo o que ele fez naquele quarto ficou depois que ele saiu. E essa era a prova irrefutável de que ele morava ali, de que tinha direito a isso.

O tempo passou e ele continuou evoluindo nesta biblioteca, que se tornou seu segundo quarto.

Os únicos marcadores em tempo real foram as visitas de Pansy. Desde que seus privilégios terminaram, ela conseguiu visitá-lo duas vezes em três semanas. A primeira vez por chave de portal e a segunda por transporte trouxa.

Draco quase riu quando ela lhe contou como tinha sido uma jornada. Então ele se lembrou que não teria escolha a não ser usar o transporte trouxa também, pelo resto da vida. Isso foi o suficiente para atormentá-lo. Um dia ele teria que aprender a usá-la, a parar de usar magia. Ele teria que desaprender tudo o que cresceu.

De acordo com Pansy, foi Granger quem lhe contou como chegar da Inglaterra à França, de trem sob o Canal da Mancha. Só isso foi suficiente para confundir Draco. Um trem no fundo do mar? Não fazia sentido, era até perigoso! Pansy também parecia confusa por usar um método de transporte tão incomum.

Depois disso, ela se contentou em aparatar de Calais para a zona rural dos Pireneus e se juntar a eles.

Draco percebeu que seu melhor amigo e Granger haviam se tornado bastante próximos. Ele suspeitava disso, já que o casal Zabini a havia chamado para libertá-lo, mas a princípio pensou que era tudo por causa de Potter. Ele estava lentamente percebendo o quanto devia ao seu colega de casa.

No entanto, o fato dos olhos de Pansy se iluminarem quando ela falou sobre suas discussões com Granger não era enganoso. Ele a vira descer as escadas para se juntar a ela depois de cada uma de suas visitas, enquanto se contentava em ficar no andar de cima. Ele poderia estar com ciúmes. Mas era simples e natural, então ele não se importou.

Draco não perguntou sobre seus outros amigos. Na verdade, ele raramente falava, o que explicava esse silêncio sobre Marcus Flint, Adrian Pucey, Graham Montague, ou mesmo Gregory Goyle, Astoria e Daphne Greengrass. Seria complicado, seria demais de uma só vez. Ele já tinha o suficiente em mente tentando se adaptar à sua nova vida, ele não precisava complicar ainda mais perguntando o paradeiro de seus outros amigos. Afinal, ele pode não gostar da resposta, como aconteceu com sua mãe.

Ele sabia que os Greengrass eram livres, pois nunca haviam sido marcados. Eles ficaram fora do conflito e nunca se envolveram. Ele se lembrava de quase ter ficado ressentido com eles, com ciúmes porque sua família não poderia fazer o mesmo. Na época em que ele ainda estava convencido de que não havia outra maneira de salvar a si mesmo e sua família. Agora ele entendia a escolha deles. Ele desejou estar no lugar deles.

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