Basorexia

Capítulo 61

Pansy colocou o dedo na garrafa de plástico e sentiu seu umbigo sendo puxado para trás. Ela conhecia esse sentimento de cor agora. Já não era desestabilizador, nem mesmo um prenúncio de um momento difícil. Ela apreciava isso, significava que ela viajava, que reservava um tempo para si mesma, para os amigos. Foi bom.

Ela soltou a chave de portal quando as paredes da Casa Granger apareceram ao seu redor, e logo seus pés finalmente tocaram o chão. Ela rapidamente reconheceu a decoração datada da sala de Hermione.

O papel de parede ultrapassado e mal instalado em alguns pontos, os sofás danificados que pareciam capazes de nos engolir entre as almofadas, ou o chão de parquet rangente. Havia algo para todos. Pansy não conseguiu datar esse estilo de decoração, parecia uma mistura de várias épocas de um antiquário menos conceituado. Mas ela gostou. Ela preferia esses tipos de casas que pareciam vivas, em vez de réplicas perfeitas de lojas de móveis mágicos que exalavam limpeza e perfeição. Ela amava a perfeição, mas não tanto.

Ela ficou na frente da televisão e isso a fez querer assistir Mary Poppins pela enésima vez. Ela nunca quis ver outro filme. Era o melhor, ela tinha certeza disso. E Pansy só queria o melhor.

Ela começou a tirar o casaco, não surpresa por não ser cumprimentada por ninguém. Ela não os avisou de sua visita, algo que ela nunca teria ousado fazer se Draco não tivesse prometido que ela faria isso. Segundo ele, eles ainda precisavam se acostumar a receber pessoas em casa, fossem amigos ou não. Um grande passo em frente para ele. Ela se sentiu muito orgulhosa ao ouvi-lo dizer isso. Ela não estava com tanto medo por ele como antes. Ele estava melhor. Muito melhor.

Ela não comentou o fato de ele se referir à casa como seu lar . Esta foi outra novidade. Sua vontade de se abrir, a maneira como ele se expressava com Hermione e com ele – e vice-versa – ou o fato de falar dela sempre que tinha oportunidade. Pansy ficou satisfeita com isso. Eles estavam felizes e isso era tudo que importava.

A única coisa que manchou todas essas boas notícias foi a distância que o marido havia se distanciado dos amigos. Blaise havia se retraído desde o Natal. Ao contrário dela, ele não desmaiou, mas se afastou de todos os outros. Se a princípio ele havia afirmado que era apenas uma maneira de dar algum tempo a Draco e Hermione, Pansy percebeu que agora era muito mais do que isso. A única pessoa com quem ele interagia regularmente era Harry, que o ajudava na maioria de suas missões profissionais.

Caso contrário, Blaise não enviava mais cartas a Draco ou Theo, nem os visitava. Mas não foi por falta de pressão para fazê-lo. Pansy tentava todas as semanas motivá-lo a acompanhá-la à França, fosse à Dordonha ou aos Pirenéus. Ele recusou todas as vezes, alegando exigências de trabalho ou fadiga. Pansy estava ciente, entretanto, que apesar do tempo que passava no trabalho, tudo eram apenas desculpas.

Ele estava com medo. Assim como ela estava com medo de perder seus amigos. Ele estava com medo de como seu retorno seria recebido, pelo menos foi o que aconteceu nos primeiros meses. Agora Pansy suspeitava que ele achava que era tarde demais. Ele não queria mais correr riscos, preferia supervisionar as coisas de longe, para ajudá-los da melhor maneira que pudesse, sem que o relacionamento deles sofresse ainda mais.

Ele não percebeu que era por permanecer tão silencioso que esse era o caso.

Ela tentou apoiá-lo tanto quanto pôde, e ele fez o mesmo por ela, mas ela não conseguiu ajudá-lo nesse ponto. Ela duvidava que pudesse fazer alguma coisa, de qualquer maneira.

Então ela se contentava em estar o mais presente possível para ele, em ouvi-lo quando ele se abria para falar sobre isso e em agir como a esposa que ela era: amorosa. Ela o amava muito.