Capítulo: 11

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Ele não se mexeu durante toda a manhã. Deitado de bruços no meio da cama, com os braços cruzados e a cabeça voltada para a janela, Draco Malfoy dormia profundamente.

Parada na porta, Hermione se perguntou sobre a qualidade do sono do jovem durante aqueles sete anos de prisão para ele dormir tanto tempo, e sem interrupções. Ela se perguntou como tal coisa era fisicamente possível.

Reunindo coragem e concentrando-se na lista que havia deixado na cozinha, colocou um pé na frente do outro e entrou na sala. Albert estava no jardim, então ela não teria que ver como ele estava.

Ela entrou a passo de lesma, ainda não pronta para que seu novo colega de quarto – e marido por extensão, embora tivesse o cuidado de não pensar nisso – acordasse. Ela colocou a bandeja do jantar na mesa de cabeceira e respirou fundo. Ela estava na metade da tarefa.

A parte mais difícil ainda nem acabou. Ela não ousou virar a cabeça na direção do corpo adormecido de Malfoy. Seus músculos estavam tão tensos e dormentes de ansiedade que ela tremia. Quem diria que era possível tremer os dedos dos pés?

Ela fechou os olhos e agarrou-se à mesa de cabeceira, apertando as mãos em volta do armário de madeira. O quase silêncio que pairava sobre a sala era assustador. Isso a lembrou de coisas que ela queria esquecer para sempre, algo que ela nunca se permitiu fazer.

Um silêncio mortal, apenas perturbado pela respiração irregular de Malfoy.

Hermione pensou na enfermaria improvisada no Salão Principal durante a batalha final. O silêncio que reinava ali ainda a assombrava. Apenas se ouviam os soluços abafados das famílias e a respiração entrecortada dos feridos ainda vivos.

Ela mordeu o lábio para não chorar. Ela havia se afastado de seu objetivo principal. Ela deixou seus pensamentos tomarem conta dela e sentiu-se sendo puxada para as profundezas de sua mente pelas memórias que a assombraram dia e noite durante os últimos sete anos.

Ela ficou tentada a fugir, a sair do quarto, a ir ao banheiro e beber uma garrafa de Poção Calmante. Mas ela se conteve. Ela tinha que fazer isso. Ela queria.

Ela finalmente percebeu o cheiro de sangue e carne infectada que flutuava pela sala. Um cheiro que ela conhecia muito bem.

Ela rapidamente abriu a janela da sala. Ela precisava de ar fresco.

Ela estava lá. Ela teve que encarar seu objetivo novamente: lidar com Malfoy.

Ela finalmente se atreveu a virar a cabeça na direção dele e teve que conter um soluço de surpresa ao ver seus ferimentos – embora a maioria estivesse coberta por bandagens – tão de perto. Nem um centímetro de sua pele permaneceu intocado. Todo o seu corpo estava manchado de arranhões, cortes, hematomas ou, em alguns casos, mutilações muito mais profundas. Algumas das feridas estavam claramente infectadas, a julgar pela cor que sobressaía das bandagens maiores.

Ela engoliu em seco, colocando a mão trêmula sobre a boca.

O que poderia ter acontecido com ele para fazê-lo parecer tão lamentável? Foi culpa dos guardas da prisão? Os outros prisioneiros? Ele havia infligido todos aqueles hematomas a si mesmo?

Hermione duvidava, os ferimentos eram sérios demais para que seu cérebro permitisse que ele infligisse tanta dor a si mesmo.

Ela respirou fundo e desviou o olhar. Ela não poderia deixá-lo nesse estado. Estava além do que ela poderia fazer. Ela não podia se dar ao luxo de esperar Blaise chegar para que Malfoy pudesse ser tratado. As feridas maiores pareciam mais recentes que as outras, como se tivessem sido infligidas como um último adeus.

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