Capítulo: 38

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Foi a primeira coisa que lhe veio à mente. Draco não tinha pensado nisso por muito tempo. Só que agora que foi apresentado a um fato consumado autoinfligido, ele não sabia o que fazer. Ele estava perdido.

Ele colocou um pouco de água para ferver, mas não tinha certeza se era assim que se fazia chocolate quente. Ele nunca tinha visto uma receita que lhe dissesse como fazer. Por que ele sugeriu isso? Ele sentiu vontade de se enterrar em um buraco e nunca mais sair. Pansy ficaria desapontada. Granger ficaria brava com ele. Ele ia estragar tudo. E ele odiava isso.

A água já estava fervendo há alguns segundos, mas Draco não ousou chegar perto dela. Ele se achava patético assim. Não foi a primeira vez que ele esquentou água, ele deveria ter conseguido improvisar alguma coisa. Mas ele não conseguiu fazer isso, era como se seu cérebro tivesse sido esvaziado de todo o conhecimento culinário.

Com a cabeça apoiada nas mãos, ele se apoiou na mesa central tentando pensar em uma solução. Ele não tinha um livro de receitas em mãos, pois havia deixado todos lá em cima. Ele também não tinha ideia de como fazer o maldito chocolate quente. Chocolate ele tinha, mas o que mais ele precisava? Água? Açúcar? Leite? Ele não tinha ideia!

Todos esses pensamentos o deixaram tonto. Desde quando ele se importava tanto em servir Hermione Granger? Ela não pediu nada, mas aqui estava ele, torturando sua mente para agradá-la. Pansy era uma coisa, mas Granger? Ele não a conhecia! Ela não era amiga dele! E se ela achasse estranho que ele estivesse fazendo tanto em casa, por ela? E se ela discutisse com ele por seu excesso de confiança?

Afinal, ele cozinhava todos os dias há apenas uma semana e só preparava o almoço há três dias. Ele permaneceu moderado, não se impôs. Ele nem se atreveu a sugerir a Granger que fizesse o jantar. Ele tinha medo que ela ficasse com raiva, sem saber bem por quê. Ele sentiu como se estivesse pisando em ovos. Ele esperava todas as manhãs que ela lhe pedisse para parar, que o fizesse entender que ele estava se impondo demais e que não pertencia àquele lugar.

E ainda assim, depois de tão pouco tempo e apesar de todos esses medos, ele já estava assumindo como missão agradar Granger e Pansy. Isto é, se ele pudesse fazer outra coisa senão ferver água. Ele queria consertar as coisas. Ele lhes havia prometido chocolate quente, não chá ou café!

Porém, quanto mais os segundos passavam, mais Draco começava a ter perspectiva da situação. Foi inacreditável. Nada mais fazia sentido, ele estava enlouquecendo. Desde quando ele tomou o lugar dos elfos com quem cresceu? Desde quando cozinhar ou lavar louça se tornou um prazer e não uma tarefa ingrata?

De repente, ele sentiu como se não pertencesse mais à sua própria realidade. Ele olhava a cozinha ao seu redor sem reconhecê-la, sem reconhecer nada. Ele não deveria estar lá. Esta não era a vida dele. Esta realidade não lhe pertencia. Ele estava sendo enganado, enganado.

Ele não pertencia mais ao seu corpo, observava a cena de fora. Ele estava vazio, não se lembrava de ter pisado aqui. Ele piscou várias vezes, como se fosse acordar, mas não fez diferença. O que ele estava fazendo aqui? Este não era ele, esta não era a sua vida, a sua presença aqui não fazia sentido.

Ele podia sentir o pânico aumentando enquanto lutava para colocar os pés de volta no chão. Este não era ele. Ele não cozinhava, nunca aprendeu a fazer isso. Ele era um bruxo, ele deveria usar sua varinha. O que seu pai diria quando descobrisse que estava substituindo os elfos na cozinha? O que sua mãe pensaria dele se o visse fazendo tarefas domésticas? O que seus amigos diriam quando o vissem fazendo isso?

Seu pai provavelmente o puniria. Sua mãe ficaria desapontada, provavelmente. E seus amigos... Ele os perderia, sem dúvida. Ele logo se encontraria sozinho, abandonado. Ele seria ridicularizado e humilhado. Ele próprio se sentia fraco, insignificante, havia caído muito.

BasorexiaOnde histórias criam vida. Descubra agora