Basorexia

Capítulo: 48

Draco piscou e encontrou o olhar de Hermione. Ela o observava com curiosidade. Ela não parecia tão perturbada como antes, nem tão torturada pelas perguntas difíceis e traumáticas que ele lhe fizera.

Ela estava curiosa, interessada no que ele tinha a dizer.

E quem era ele para recusá-la? Ele não achava que poderia recusar se tentasse. Ele queria se abrir com ela e contar tudo. Ele queria contar, explicar. E ele queria que ela estivesse ao seu lado, para confortá-lo, para continuar acariciando seus cabelos.

"Minha mãe e eu tentamos fugir da Inglaterra assim que V-Voldemort caiu. Meu pai foi pego, mas minha mãe sempre teve um plano para me tirar de lá. Ela esperava que Potter vencesse. O frenesi da vitória nos permitiu sair de Hogwarts despercebidos. Tínhamos que sair do país o mais rápido possível para nossa casa suíça em Gruyère. Estávamos quase lá, havíamos recolhido toda a nossa bagagem e nos preparávamos para partir. Mas-"

Sua garganta se apertou ao relembrar os acontecimentos daquele dia. Isso deixou um gosto amargo em sua boca, um gosto de angústia e terror. Divididos entre o medo dessa mudança drástica em suas vidas e o medo de serem pegos pela Ordem. Eles eram os bandidos, aqueles que queriam capturar, os únicos culpados de toda essa guerra. Esse medo não era um sentimento que ele jamais esqueceria, um sentimento que continuava a assombrá-lo.

Sua mãe nunca lhe disse que o amava tanto quanto naquele dia. Ela não soltou a mão dele nenhuma vez.

Hermione passou a ponta do dedo indicador sobre os lábios dele e ele estufou o peito, antes de expirar.

"Eles invadiram a mansão. Não sei quem estava no comando depois que partimos, mas o objetivo deles era garantir que não restasse uma única pessoa da resistência dos Comensais da Morte que não fosse jogada atrás das grades. Eles nos trancaram no Ministério assim que Shacklebolt assumiu o poder, onde esperamos pelos julgamentos."

Ele fechou os olhos e cerrou o punho em volta do cobertor. Era macio sob seus dedos. Ele respirou fundo e se concentrou na sensação do cobertor em sua mão, nas sensações que cercavam seu corpo, seu rosto.

"Acho que aquela foi a cela mais bonita em que já morei", admitiu ele com uma risada triste. "Potter exigiu que mamãe fosse bem tratada e durante aquele primeiro mês essa generosidade foi estendida a mim pela proximidade. Mas não durou."

Ele se lembrou de comer e beber até se fartar. Ele pôde usar um banheiro limpo e recebeu lençóis e uma cama bastante confortável. Ele até teve acesso a um banheiro, um luxo que ele considerava natural na época.

Ele conseguiu abraçar a mãe e apoiar a cabeça em seu peito, como fazia quando era criança. Ela o embalou por muitas noites, prometendo-lhe que tudo ficaria bem. Ela contou a ele sobre seus anos em Hogwarts para passar o tempo. Ela lhe contou sobre um futuro feliz, um futuro na Suíça onde poderiam reconstruir suas vidas livres de quaisquer preocupações. Ele foi capaz de olhar para ela e imprimir seu rosto em sua mente uma última vez. Ele foi capaz de dizer a ela o quanto a amava.

Os guardas foram educados, não o insultaram nenhuma vez. Eles foram autorizados a receber visitas de algumas pessoas selecionadas, para seu prazer, essas reuniões aconteciam à luz do dia, longe de sua cela escura. Essa foi a última vez que ele viu Blaise e Pansy, ou até mesmo falou com eles antes de ser preso. A última vez que ele conseguiu ter uma conversa decente com alguém, a última vez que sentiu que estava no controle de sua mente antes que ela ficasse presa em um monte de ruminações. A última vez que ele sorriu.

Naquela época ele mal via Theo. Eles não se cruzaram durante a Batalha e quando ele foi preso já haviam se passado vários meses desde a última vez que ele teve notícias dele. Eles perderam contato durante a guerra e não conseguiram entrar em contato um com o outro. Draco às vezes se perguntava o que aconteceu com ele.