Capítulo 8 - Incógnito

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        O mármore xadrez da mansão rachava a cada passo descalço meu, ecoando como um lago congelado no início da primavera. Seus estalos ressoavam como trovões, ecoando pelas paredes de alabastro e acelerando as batidas do meu coração. As fissuras se estendiam, percorrendo do chão ao teto em vãos profundos e escuros, estalando de forma ameaçadora. Em desespero, corri pelo corredor, com a sensação de que, a qualquer momento, tudo poderia desmoronar, cada passo meu provocando um novo e mais poderoso estalo na pedra.

Eu sentia a fera, não Tamlin, mas a essência animal que o envolvia, rondando nas proximidades. Não compreendia como sabia disso, não fazia ideia, mas estava lá. A sensação de ser observada por ela se assemelhava a de ser caçada por um predador, com olhos selvagens em cada canto, examinando, avaliando, à espreita. Eu parecia não avançar; o corredor se estendia sem nunca terminar, e as rachaduras aumentavam, me forçando a precisar saltar entre elas. Os adornos do teto desabavam ao meu redor em prata e ouro, explodindo no mármore como estrelas. E eu estava...

Rolando.

Rolando e colidindo com degraus ásperos de mármore. Puxando respirações entrecortadas, tentando me segurar no que encontrasse pela frente enquanto caia. Tentei alcançar o corrimão, mas minhas unhas se dobraram na pedra, repuxando da pele e impedindo qualquer chance de me estabilizar.

Fui arremessada para fora do sonho e das escadas, aterrissando no hall principal da mansão. Deslizei um pouco pelo piso entre as pétalas de rosas secas e raízes retorcidas.

Não, não, não. Isso não podia estar acontecendo.

Gemendo, me ergui apoiada em quatro apoios, meus braços tremeram ameaçando ceder, e meus joelhos quase se recusaram a tocar o chão devido à dor, mas, mesmo assim, me forcei. O hall estava mergulhado na escuridão, quase em completo breu, sendo iluminado somente pela luz tênue da lua cheia filtrada pelas portas de vidro. Tossi um pouco, ajeitando minha camisola de volta para cobrir meus quadris enquanto me sentava com cautela, sentindo dores latejarem em vários pontos do meu corpo.

Isso não podia estar acontecendo de novo.

Minha respiração acelerou, pregando minha traqueia como um grude, obstruindo o caminho para meus pulmões. Me sufocando com aquilo que deveria me manter viva.

Não podia acontecer. Não podia acontecer. Não podia acontecer... mas estava acontecendo.

Examinei meu corpo em frenesi, com a respiração agitada e os olhos atentos, apalpando braços e pernas em busca de sinais de sangue ou ossos quebrados. Eu ficaria extremamente roxa, tão marcada que seria praticamente impossível evitar perguntas quando o Grão-Senhor me visse no dia seguinte. Os tons de roxo seriam tão intensos que uma explicação simples não bastaria; nenhuma mentira seria capaz de encobrir, e eu não possuía nenhum vestido que cobrisse os ombros o bastante para fingir que nada aconteceu.

Funguei, um som trêmulo e choroso que ecoou pelo hall enquanto eu me levantava cambaleando, puxando novamente a camisola para baixo. Percebi um rasgo na costura lateral, subindo acima dos quadris, justificando a sensação de estar nua do lado direito e a ardência da minha pele ali.

Como eu explicaria isso para o Grão-Senhor? Expirei rápido, inspirei devagar. Como seria capaz de convencer Azriel que nada disso tinha sido obra do Tamlin? Qualquer um que me visse pensaria... todos achariam que o Grão-Senhor tinha...

        Meus olhos encontraram os seus enquanto me virava. Ele estava ali, bem diante de mim no meio da escada, me observando com as sobrancelhas franzidas, pisando entre um degrau e outro. Mesmo na escuridão, pude ver seus olhos brilhando com genuína confusão e temor, seus ombros rígidos por uma preocupação que beirava o irracional. Ele desceu um degrau na minha direção, seu olhar avaliando meu estado de cima a baixo com atenção diversas vezes em um único segundo. Recuei um passo, puxando meus cabelos para frente do corpo, usando as mechas grossas para cobrir as rendas finas do busto da minha camisola e todo o corpo que ela não conseguia esconder.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐏𝐫𝐢𝐦𝐚𝐯𝐞𝐫𝐚 𝐞 𝐋𝐮𝐚𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora