Isso é bem pior

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Três dias depois ali estava eu, me arrumando, pra um encontro com Ramiro Neves, o advogado bonito e respeitável que, por algum milagre desconhecido do universo, tinha topado ter um encontro comigo.

Ainda tenho certeza que Berê deve ter chantageado ele com alguma segredo sexual obscuro, mas de qualquer forma, me tranquiliza saber que funcionou tirando o fato de que eu preferia estar cavando o chão com as unhas ao invés de ir nesse encontro.

Meu grupo do Whatsapp teve seu nome trocado pela milésima vez agora intitulado como " Missão um gay extra."
Todos mandavam mensagens felizes com a remota possibilidade de eu desencalhar, e claro, também mandavam listas de roupas que eu definitivamente não devia usar.

Na verdade a humilde lista deles excluía praticamente cem por cento do meu guarda roupa o que me leva a recorrer ao básico, conforto, bonito e descontraído.

Vesti meu moletom bege com uma calça de lavagem clara muito rasgada e meu all star preto, o amarelo era especial demais pra gastar com o Ramiro e se esse encontro desse errado, meu tênis favorito manteria seu status de só fazer parte de minhas memórias mais felizes.

Consegui me atrasar quinze minutos por que por algum motivo todos os ubers decidiram cancelar a corrida, quando um finalmente aceita agradeço a Deus e peço aos céus que Ramiro tenha desenvolvido algum tipo de tolerância à atrasos no tempo de amizade que já teve com Berê, pois ela pode se atrasar cinco minutos ou nem chegar, marcar algo com ela sempre era uma roleta russa.

Quando cheguei no endereço indicado por Ramiro, percebo que se trata de uma cafeteria, não qualquer cafeteria, óbvio, na verdade era daqueles lugares que só de respirar ali dentro alguém poderia te cobrar.

O vi sentado em uma mesa mais afastada, ao lado de uma janela enorme de vidro com muitas flores, checava a hora no celular e por sua cara de descontentamento, aquela já não era a primeira vez.

- Oi, tô atrasado. - Anuncio como se já não estivesse óbvio o suficiente.

- Tudo bem.- Ramiro se levanta pra me cumprimentar tal qual um cavalheiro nos anos cinquenta.

Demos um aperto de mãos meio desajeitado, sua palma grande cobre quase a minha toda, tudo inorgânico demais, nada parecido com um date.

- Eu... posso me sentar? - Indago.

- Bom, sim, a não ser que tenha outro compromisso.

Isso foi uma piada?

- Ah não, eu sou todo seu pelo resto da tarde.

E quando nos sentamos o silêncio se instaurou, parei pra reparar nos detalhes de seu rosto e confirmo que ele continua ridiculamente lindo como sempre, sua pele preta bem cuidada com a barba aparada nos lugares certos sem ficar muito artificial e seus cachinhos que estavam definidos e alguns pensando sobre a testa.

Me pergunto como não é crime alguém ser tão bonito, eu mesmo, sou só um amontoado de partes aleatorias dos meus pais, cabelo ruivo, olhos castanhos, branquelo com sardas, não tem nada de especial em mim, mas ele parece uma pintura renascentista.

- Parou de usar maquiagem?- Ele quebrou o silêncio.

- Eehh não... mas já tava muito atrasado pra fazer alguma coisa e num queria te deixar esperando muito.

- Entendi.

"Aí meu Deus será que ele ficou chateado por eu não ter me esforçado pra impressionar ele? Na única vez que fomos para o mesmo lugar eu estava com um delineado milimetricamente perfeito, costumava esconder minhas sardas com base e corretivo, mas que droga isso vai ser um desastre."

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora