O Kelvin sempre estraga tudo

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Pov Kelvin

O que eu tô fazendo com a minha vida?

Em que intervalo de tempo vim parar nesse lugar, rodeado de pessoas numa festa insalubre, vestido com uma fantasia deplorável e provavelmente cheirando a algo como maconha misturada com um perfume doce demais pro meu gosto, mas que infelizmente foi o único que encontrei.

Em minha defesa, eu simplesmente não tenho defesa, sempre faço isso, coisas como, decidir em cima da hora, ir à uma festa a qual fui convidado há um mês e ter ido parar em um sexshop esquisito pra comprar essa tentativa esquisita de fantasia de coelho, enquanto um vendedor triplamente esquisito me mostrava os benefícios de adquirir um vibrador em formato de golfinho.

Uma esquisitice sem fim.

Bom, pelo menos a música era boa, o Dj é Jorge, um conhecido meu, que se tornava o ponto em comum entre todos aqueles jovens, todos conhecem o Jorge, todos amam ele, talvez seja o sorriso que ele lança enquanto toca uma música estridente fantasiado de chapeleiro maluco gostosão.

Quem me visse ali parado, sentado naquele sofá de couro num canto escuro da festa, pensaria que não tenho amigos, mas na verdade tenho, o problema é que não consegui encontra-los ainda.

Enquanto olho ao redor, me pergunto se vale a pena estar aqui, eu poderia simplesmente ir pra casa, não que minha casa seja melhor, só que lá não tem centenas de estranhos bêbados suados e uma música de estourar os timpanos com uma letra no mínimo duvidosa.

Me pergunto também se Jorge perceberia que eu sai, afinal ele convidou todos aqui pessoalmente, lembrou de cada conhecido, eu também não quero ser lembrado como "o cara que não foi na festa do Jorge"

"Meu Deus por que tudo é tão complicado?"

Resolvo, no fim, me esforçar minimamente, talvez eu possa passar uma hora, beber dois drinks e ir pra casa, assistir algum desses programas de auditorio esquisitos que passam na Globo aos domingos.

Pego meu celular no bolso e abro meu Whatsapp, o grupo de amigos, que fora intitulado alfabeto+ pela nossa única amiga hetero numa tentativa de piada ruim, já explode de mensagens como:

"alguém viu o Kelvin?"

"@Kelvin Vc veio pra festa?"

É então que mando apenas um:

"eu tô aqui já onde vcs estão?"

Mas aquele relógio infernal aparece ao lado da mensagem o que significa que meu plano de dados provavelmente acabou.

Enquanto massageio a minha testa me perguntando se deveria sair do escuro, ir no bar e pedir um drink, até que por sorte um dos meus amigos me encontre, sinto uma mão no meu ombro e me viro.

- Oi - Diz o desconhecido.

- Oi? Eu te conheço?- Pergunto lançando um olhar à mão em meu ombro que é retirada rapidamente.

- Bom...não, quer dizer eu meio que sei quem você é, mas você definitivamente não me conhece.- Ele sorri de lado.

- Curioso, mas não é a primeira vez que eu ouço isso, e qual seu nome?

- Ah é Frank, mas eu atendo por qualquer nome americano curto q termina com k.- Brinca e bebe um gole de seu drink.

A festa ao nosso redor continua, até então nenhum sinal de meus amigos e eu fico curioso por esse desconhecido.

- Bom saber Mark.- Sou eu quem brinco dessa vez e isso parece o instigar a continuar uma conversa.

Nem eu acreditava, essa era provavelmente a primeira vez que eu passava tanto tempo conversando com alguém o qual eu tinha interesse e ainda não tinha estragado tudo, falado coisas babacas que iam o afastar, por que eu sempre falo coisas babacas que afastam todo mundo.

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora