Seu colo

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"Seu colo é o meu abrigo."

Só conseguimos um tempo para ir à exposição na sexta, o que pareceu agradar Ramiro genuinamente, já que ele fazia comentários pertinentes sobre o assunto o tempo todo.

Obviamente esse tipo de rolê estava longe de ser algo que eu escolheria pra qualquer dia da semana, em qualquer horário ou com quem quer que fosse, mas até que era legal ser fotografado como a sub da sub celebridade que leva o namorado bonito em exposições artísticas.

O que mais me agradava no entanto era a casualidade de simplesmente sair com alguém que gosto numa sexta à noite, nós nos divertimos e voltamos pra casa comendo o mcflurry que eu obriguei Ramiro a comprar para que pudéssemos dividir, apesar de suas varias críticas sobre como o mc donalds era antiético.

Ás uma da manhã já estávamos devidamente deitados e prontos pra dormir quando um súbito lapso de "preciso conversar com alguém" surgiu em minha mente, bom...ninguém melhor pra conversar do que meu suposto namorado de mentira.

- Lembra sobre aquele lance de eu ser sincero e conversar sobre o que eu sinto?- Eu estava de costas pra ele na cama, era uma noite quente pra dormir de conchinha e estávamos ambos com preguiça de ligar o ar-condicionado.

- Esse seu tom sinistro devia me deixar preocupado?- Ele indagou.

- Foi mal.- Tentei soar o mais calmo e descontraído possível.- Você já devia saber que na minha cabeça sempre é sinistro.

- Oque aconteceu Kelvin?

-Meu pai me ligou na terça, ele disse que quer "conversar de pai pra filho sem plateia".

- E como você tá se sentindo com isso? 

- Nem eu sei direito, eu disse que precisava de tempo pra pensar, acho que ele conseguiu até me fazer sentir culpado por querer que você estivesse lá, só porque nós nunca tivemos uma conversa de pai e filho.

- Levando em conta o estado que você ficou da ultima vez que vocês conversaram, acho que foi muito sábio a decisão de tirar um tempo pra pensar se vale a pena ou não conversar com ele sozinho.

- Você acha mesmo que eu fui sábio?- perguntei por cima do ombro.

A noite ainda estava quente e o ar-condicionado permanecia desligado mas mesmo assim ele me abraçou por trás sem se importar, deixou um pequeno beijinho em meu pescoço que me fez derreter igual sorvete em um dia quente de verão.

- Você já sabe o que vai escolher?

- Não faço ideia, de um lado estou eu mesmo tentando me impedir, dizendo pra mim mesmo que eu tenho direito de recusar e de ser um babaca com ele e que ainda sim isso não pagaria metade do mal que ele me causou, mas do outro lado tá minha consciência me lembrando o tempo todo de que ele está com câncer e que pode morrer a qualquer minuto, no fim acho que isso é realmente algo que eu preciso fazer mais por mim mesmo do que por ele.

- Hum...- Ramiro ponderou, como se estivesse pensando no que dizer para que fosse realmente útil nesse diálogo.

Mal sabia ele que só de ele estar me abraçando e me ouvindo reclamar dos meus problemas com meu pai, já era mais do que suficiente.

- Eu te entendo.

- Obvio que entende, você sempre entende né?

- Isso foi sarcástico ou eu já devia ter me acostumado com seu jeito?- Perguntou, eu tinha certeza que ele estava sorrindo mesmo que eu não pudesse ver.

- Hum...acho que não tem como se acostumar, você por exemplo é perfeito sempre e nem por isso eu me acostumei.

- Obrigado..? Agora podemos voltar a pauta principal desse diálogo no meio da madrugada? eu quero deixar claro que apesar de te apoiar no que quer que você decida, ainda sim não me sinto cem porcento seguro em te deixar sair sozinho com seu pai, você vai me achar babaca se eu disser que não gosto muito dele?

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora