Eu não tava pronto pro pior

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Contra todas as impossibilidades, convidei Ramiro pro meu apartamento, não sei o que tinha me dado na cabeça mas pelo menos ele não morreu instantaneamente como achei que aconteceria.

- Sei que você odeia o fato de julgar muito tudo...- Ele olhava ao redor enquanto falava.- Mas definitivamente não consigo entender como você consegue viver assim...

- Ah nem é tão difícil, a regra que eu sigo é, se eu toco em alguma coisa deixo exatamente onde tá, não importa o que seja.

- Acho que a vigilância sanitária desaconcelharia qualquer pessoa de encostar em qualquer coisa aqui.

Tirei minha jaqueta jeans e joguei em cima de uma pilha de roupa no canto do sofá.

- Olha eu tentei te alertar, você que não quis me ouvir.

- Achei que não queria que eu subisse por que tinha vergonha de mim... mas acho que você tem vergonha de si mesmo.- Ele encarou a quantidade surpreendente de embalagens de comida e fast food espalhadas.

- Que nada, vergonha é privilégio de pessoas que têm amor próprio.

Ele fez aquela coisa de massagear as têmporas que eu definitivamente não achava fofo e nem estava me apegando.

- Ramiro...eu sei que você deve tá muito decepcionado com nosso namoro de mentira agora, mas por favor não termina comigo de mentira...de novo.

- Que? Não não. - Ele ajeitou a postura.- Eu precisei de um tempo pra digerir mas acho que consigo superar.

- Você ainda pode ir embora se quiser.

Ele pareceu tentado a aceitar mas então voltou pro seu mood salvador da pátria.

- Eu tava pensando, que não devemos cometer os mesmos erros do jantar de hoje, e percebi que a gente não pensou em como agiriamos em público.

- Nossa.- Pulei no sofá que estava relativamente limpo tirando uma ou outra meia e um cobertor.- Não achei que fosse dar tanto trabalho.

- Sim, mas como os jovens dizem " Você vai precisar tankar " agora vamos falar de como andar, o que acha de mais dadas?

- Você disse mesmo "tankar"?

- Achei que aliviaria o clima, e tudo que tinha a dizer iria virar um monólogo, que você provavelmente iria implicar comigo estou certo?

- Definitivamente.

- E aí? Mãos dadas?

- Hum...sei lá.

- Acho que é bom, envolve um ato mínimo de intimidade mas pra qualquer que tire uma foto demonstra que estamos juntos.

- Uhh eu adoro um ato minimo de intimidade.

- Pare de brincar Kelvin e segura a droga da minha mão.

Me levantei bufando e depois de atravessar o labirinto de coisas eu segurei a droga da mão dele.

- Hummm.- Ramiro tentou ajustar a posição de nossas mãos três ou quatro vezes. - Parece forçado.

- Também, você é gigante, parece que você tá arrastando seu filho birrento pelo mercado.

- Então nada de mãos dadas, agarra meu braço.

- Corringindo, é na droga do seu braço.

Ele respirou fundo.

- Só...pega logo.

Peguei em seu braço, ainda parecia estranho.

- Isso ainda tá esquisito.

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora