O acordo

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Eu ainda estava meio amargurado andando pela rua ao lado de Ramiro indo pra algum lugar que nem eu mesmo sabia, podia só ter me despedido e pedido um uber pra voltar pra casa e ficar preso sozinho na minha bolha de autodesprezo mas continuei andando ao seu lado.

A verdade é que eu poderia ter só sido gentil, um sorriso ou outro por algumas horas e convenceria o Ramiro de que sim, eu sou um cara minimamente aceitável pra namorar, acabei de provar que não sou.

Fui rude com o único homem de São Paulo que estava disposto a ter um encontro comigo e agora ele provavelmente não vai mais querer me ver e eu vou ser demitido.

- Bom...valeu por...isso?

O encaro, seu terno ainda perfeitamente alinhado, sempre achei brega homens de terno, nele fica bom, bem diferente do meu jeans rasgado com moletom.

-Eer...Eu tenho que...- Ele começou.

Não, Eu definituvamente não poderia deixar as coisas ficarem assim, eu não podia perder essa chance.

Precisava de um plano.

Não tinha um plano.

Fazer o que eu fiz estava longe de ser o melhor, longe de ser a escolha correta, longe até mesmo de ser uma decisão aceitável, mas por algum motivo ligar o foda-se me pareceu bom.

Me joguei contra aquela parede de músculos, colei meus lábios aos seus como se minha vida dependesse disso, um selinho extremamente duro e desajeitado, não foi de todo ruim, por um segundo foi até mesmo agradável, mas foi só isso que durou, segundos, antes de ele me afastar.

Quase consegui sentir o calor de suas mãos na pele sob o moletom quando elas agarraram meus braços me forçando a separar aquele selinho que em seu momento mais doce teve gosto de mousse de maracujá.

- Mas que... merda foi essa??! - Ele pergunta visivelmente irritado.

Droga.

Na pressa de se afastar, esbarrou em vaso próximo à uma porta, por sorte ele conseguiu segurar a tempo de ele não se espatifar no chão.

Conclusão, ele passou mais tempo encostando por vontade própria em uma planta do que em mim.

- Foi um beijo...tipo, as pessoas fazem isso em encontros né?

- Eu sou algum tipo de piada pra você? O que a Berenice te disse?

- N-não não é nada disso!!...

- Me diz agora o que tá acontecendo!

Começamos a caminhar desajeitadamente pela calçada enquanto ele me empurrava só com sua presença pois sem nenhum toque físico me senti acuado o suficiente pra começar a andar pra trás enquanto ele avançava em minha direção.

-agora!- Seus olhos estavam em chamas.

Encontrei algum tipo de bloqueio no caminho já que tropecei e ia cair em cheio se não fossem suas mãos ágeis e fortes me segurarem, ele agarrou minha cintura e apertou meu corpo contra o seu, me tratando, acredito eu, como uma planta, e enquanto meu cérebro pensava em mil coisas percebi como seu terno era macio ao toque.

- Por favor para de brincar comigo Kel...só me diz o que está acontecendo...- Agora ele não parecia mais bravo mas sim...cansado ou talvez até triste.

Caralho...já tinha chegado a hora de parar com essa palhaçada.

-Apareci na mídia de novo sem querer e agora preciso de um namorado respeitável, educado e bonito pra não ser demitido por ser um "gay perverso"-Falei tudo tão rápido que não me surpreenderia se tivesse ficado vermelho.- Berê me indicou você...

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora