Meu ex drogado pai

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Pelos próximos dias estávamos ocupados demais, esse maldito caso em que Ramiro estava trabalhando tomava grande parte de seu tempo e isso significava que mal tinha tempo pra me dar atenção.

Com isso já era quinta feira e eu ainda não havia conseguido o mostrar meu, felizmente ainda limpo, apartamento, além dele continuar se recusando a me deixar fingir que o caso o qual ele trabalhava era um assassinato.

Estava assustado com o fato de ter que ver meu pai no domingo e passava grande parte do meu tempo pensando sobre isso, mas como desgraça pouca pra pobre é bobagem, fui obrigado a almoçar num restaurante vegano em plena quinta feira só pra bancar o diplomata com riquinhos veganos que era a última coisa que eu precisava no momento.

Mas lá estava eu, entrando em um pequeno restaurante, bem arejado e branco, se você ignorasse a parte de que tudo era coberto por planta, pronto pra sorrir e fingir que melhorei meus desvios de caráter.

Fui atendido por uma recepcionista que não devia ter mais do que 17 anos e era a definição perfeita do que o Twitter chamaria de e-girl, pelo crachá que havia em sua roupa descobri que seu nome era Valéria, ela confirmou minha reserva, feita diretamente pela dona do lugar.

Me sentei na mesa de três lugares que me foi indicada e logo em seguida um jovem chamado Júlio, colocou uma pequena tigelinha de barro com algumas castanhas na minha frente, dizendo que era o aperitivo.

Polerina, a dona, veio me cumprimentar um tempo depois, conversou um pouco e me deu indicações do que pedir pra não parecer que não fazia a menor ideia do que estava fazendo.

Deixou também mais do que claro seu descontentamento com as práticas de meus convidados, em suas palavras:

"Eu sou vegana e faço comida vegana por que sinto pena da crueldade com animais, já eles só querem pagar de espiritualizados e vender o máximo de coisas que conseguem, ajudam o veganismo mas também o capitalismo."

Pra minha felicidade as castanhas oferecidas eram extremamente gostosas, comi a tigela inteira em minutos, então Poli gentilmente pediu mais uma pra mim antes de se retirar para a cozinha.

O almoço com o casal Ferreira foi tão agradável quanto minhas expectativas, então já se pode deduzir que eu queria enfiar um pedaço de pau nos meus ouvidos antes de ter que ouvir aquele lixo.

A parte boa era que a comida era realmente muito boa, eu não saberia dizer o nome de nada que comemos mas estava incrível, principalmente por eu ter ouvido Polerina e evitado pedir coisas que me fizessem parecer uma pessoa que só queria estar no Mcdonald's.

Depois de um "Não tem nada a ver com a coisa de você ser gay."

E um " nós temos até amigos que são."

Aqueles dois insuportáveis foram embora, pra minha sorte aceitando novamente o convite para o voo das abelhas, missão diplomática cumprida com sucesso.

Quando pude finalmente respirar, pedi um brownie vegano de sobremesa só por que eu merecia e fiquei mexendo um pouquinho nas redes sociais pra matar tempo de trabalho.

- E aí como tava a lasanha de tomate? - Polerina perguntou já sentando novamente ao meu lado.

- Tava ótima, na verdade tava tudo uma delícia.

- Fico feliz que tenha gostado, viu não precisa envolver bicho morto pra comer comida boa.- Deu uma risadinha, sei que ela só queria implicar com o fato de eu comer carne.- E a conversa funcionou?

- Funcionou, acredita que eles realmente usaram a frase " temos até amigos que são gays" ?- Indaguei ainda incrédulo.

- Meu Deus, eles não podiam ter deixado mais claro que desistiram pela sua sexualidade.

Procura-se um namorado- kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora