Violão

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— Matinha, seu irmão e o Minas chegaram amiga. Não quer ir lá pra fora agora?

Via preocupada a morena novamente abraçada ao violão do goiano chorando.

— Í si ele num vié...? — Olhava a loira com os olhos marejados.

— Ele vem amiga. — Se sentou ao seu lado acariciando seu ombro com ternura. — É que está cedo ainda guria. — Suspirou fundo. — Por que não vamos lá pra fora, tu leva o violão e toca alguma coisa pra gente? Que tal? Distrair um pouco a cabeça. — Cutucou-a com o cotovelo brincalhona. — Como tu tava fazendo com o Sul mais cedo.

Matinha foi obrigada a rir e acabou concordando de sair do quarto.

— Tá bom. — Secava as lágrimas enquanto se levantava. — Mais eu num sei tocá di verdade não. Só umas notas aí.

— Já é mais do que eu sei! — Exclamou divertida tentando a animar mais ainda a outra.

Saíram do quarto de mãos dadas, Catarina queria ter certeza de puxa-la para fora sem problemas. As duas rumaram diretamente para a sala da morena, dispensando de cumprimentar quem faltava. Se instalaram em sofás perpendiculares e a morena se ajeitou toda para tocar, ficando com o semblante sério.

As primeiras notas saíram espaçadas, ela deixava que reverberassem completamente antes de tocar outra, devagarinho emendando e fazendo um dedilhado simples. Era uma melodia de improviso, triste, que refletia seu coração naquele momento.

A medida que tocava chamava a atenção dos outros que estavam nos outros ambientes. Paraná e Minas perceberam primeiro, parando de conversar e indo espiar o que estava acontecendo.

Matin percebeu a melodia devagar, ao fundo, um pouco abafada pelo barulho do fogo sendo aceso dentro da churrasqueira. Lançou um olhar para o loiro, ele não havia percebido ainda, estava ocupado. O moreno levantou e saiu, indo em direção ao som. Não era profundamente entendido, mas percebia muito bem a tristeza daquele dedilhado.

Qualquer um perceberia.

Se aproximou devagar da porta que ligava com a sala e viu. Sua irmã tocava, tinha os olhos fechados e as bochechas banhadas de lágrimas. Abraçava o violão com carinho e proximidade, parecia querer proteger aquele instrumento, sua postura estava completamente torta, mas transmitia seus sentimentos melancólicos. Era o violão de Goiás.

De repente Matinha levanta o olhar o fitando perfurante. Sim, a culpa era sua pelo cantor não estar ali agora. E o que menos queria estava acontecendo diante de si. Sua irmã chorava copiosamente e triste.

Matin puxou o chapéu para baixo, para sua linha de visão, não queria ver aquilo, não queria ser visto, mas não conseguia fugir. Ela continuou tocando. Um pouco mais de energia era depositada nas cordas. Um pouco mais de sua tristeza era reverberada diretamente de seu coração.

— Bah. Não sabia que ela tocava.

A fala do gaúcho, por mais que tenha sido suave, fez o moreno despertar e sair andando rápido para o lado de fora da casa. Precisava pensar. Sul jurava que viu uma lágrima em seu rosto.

Droga! Matinha num tava pra brincadeira cum aquilo! Cum ele! Em algum lugar ainda tinha esperanças de poder espantar aquele gado de perto dela e seguir a vida como se nada tivesse acontecido. Chutou uma pedra revoltado. Querendo ou não, uma hora teria que aceitar a presença de Goiás ao lado da irmã.

Sabia que a raiva que tinha do moreno era movida unicamente pela sua proximidade com Matinha. Se não fosse isso o veria com indiferença. Talvez até batesse amigável no seu ombro quando levasse um fora de alguém. Bufou chutando outra pedra para longe.

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