Senta em algum lugar

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— Alô, Catarina? Tudo bão?

— Oi amiga, tudo! E contigo?

— Tô bem grazadeus.

— Tem certeza? Tua voz não tá muito boa. — Forçou a percepção, não tinha realmente nada de mais na voz da morena.

— Ai, só um negócio qui aconteceu hoje mais cedo mais já tô melhor.

— O que foi?

— Eu passei um pouco mal na casa do Minas. Num sei ainda o qui foi.... — Pelo silêncio Matinha percebeu que a loira queria mais detalhes. — Eu injoei cum o chero do piqui credita?

— É aquela fruta do cerrado que você gosta néh? Amarelinha.

— Essa mesma. Num sei o qui deu nimim mais num foi nada divertido. — Um silêncio desconfortável se instalou. — Mais ocê ligou por causa di que mesmo?

— Ai guria eu não sou boa em disfarçar essas coisas.... O Minas me pediu pra te ligar, ele está preocupado contigo. E eu também agora.

— Uai, num precisava di tudo isso não, tô beim! O Minas as veiz si preocupa dimais sô.

— Mas amiga, não é estranho tu ter passado mal justo com pequi que tu gosta tanto?

— ....

— E ele me falou também que tu comeu todo o doce de leite dele. Justo tu com o discurso de menos açúcar na dieta!

— .... Tá bão, ocê mi pegou. Ocê falando agora desse jeito é tudo muito estranho mesmo. Mais o qui podi sê? Num parece di eu precisa í no postinho nem nada assim....

— Amiga.... — Respirou fundo tomando coragem. — Quem sabe ir na farmácia comprar um teste de gravidez?

Catarina ouviu um estardalhaço do outro lado da linha.

— Ai caralho! — Mais barulho. — Disculpa amiga, derrubei minha xícara di chá aqui. Ocê ia dizendo....

— Meu Deus guria! Tá tudo bem? Se queimou?

— Eu tô bem! A xícara é qui iscorregou da minha mão direto pro chão. Num pegou nimim não.

Novamente o silêncio desconfortável.

— Matinha. — A sulista falava com cuidado e preocupação. — Você escutou da primeira vez néh?

— .... Sim.... Mais num podi di sê isso Catarina! Nois si cuida.

— Eu sei amiga! Mas tu sabe que camisinha só é 89% efetiva néh? E eu sei que tu não toma anticoncepcional também....

— Mai num podi sê isso! É outra coisa! Certeza.

— Mesmo que seja. Me promete que vai fazer o teste. Pro seu próprio bem.

— Num é isso.

— Matinha! Me promete!

— .... Tah bão....

— Hoje ainda!

— Tah amiga. Tchau.

Não adiantava mais insistir, só iria irritá-la. Catarina murmurou sua despedida.

— Tchau guria.

A loira desligou a chamada e sentou no sofá preocupada. Talvez seja uma boa ideia ir até lá acompanhar isso de perto. Independentemente do resultado Matinha precisava de uma presença feminina por perto, ela provavelmente não se sentiria confortável de discutir aquele tipo de coisa com o irmão, fora toda a questão dele não gostar do Goiás.

SC suspirou cansada. Precisava organizar a própria agenda para conseguir se ausentar por uns dias. Mandou uma mensagem para o mineiro avisando que falou com ela e que seria bom já pensar em falar com o goiano.


_____ _____


— Opa! Bão Catarina? A que devo a honra? — Goiás atendeu o celular curioso e alegre, nunca a loira o havia ligado.

— Oi Goiás. Tudo bem? — SC respondeu sem muita energia. — Tá em casa guri?

— Uai, mais qui pergunta...? — Estranhou. — Tô sim, cabei di chegá na verdade. Aconteceu alguma coisa?

— É a Matinha.... — Falou quase sem voz. Isso imediatamente preocupou o cantor.

— O qui aconteceu?! — Era notória a diferença de comportamento dele.

Catarina apoiava a mão no rosto sem ainda saber como falar. Conhecia a amiga e sabia que ela não falaria as coisas pro moreno com a urgência que deveria. Tadinha, ela também devia estar apavorada.

— C-calma Goiás. É importante mas não é desesperador. — Ouvia o outro inquieto do outro lado da linha. — Ninguém se machucou e ninguém morreu. Bem o contrário disso na verdade. — Comentou baixinho quase que pra si mesma.

— Intão o qui é?! Ocê tá mi deixando nervoso Catarina!

— T-táh! Eu vou falar. — Suspirou. Não era ela que deveria estar naquela posição, mas não tinha muita escolha. — Tu tem que saber que era pra ser a Matinha que tinha que te falar isso. Mas você vai entender.

— Fala logo mulhé.

— É possível que ela esteja grávida. — Soltou rápido. — Ela não fez nenhum teste ainda, mas passou mal na casa do Minas e ele ficou preocupado e as coisas parecem bater... — Percebeu o silêncio do goiano. — Goiás? Tá aí?

— O-oi, disculpa é qui a pressão baixô aqui di repenti I eu num devo di te iscutado direito. — Tinha a voz trêmula. — Podi repiti por favô? — Parecia forçar uma calma e positivismo.

A sulista suspirou preocupada.

— Goiás, senta em algum lugar. — Mandou autoritária, ouviu o farfalhar da movimentação que indicava que o moreno a obedecia. — Sentou?

— S-sim.

— Eu vou repetir e tu me escute bem. Pode ser que Matinha esteja grávida. — Falou claramente. — A catarinense ouviu barulhos indistintos vindo do outro lado. — Goiás? O que aconteceu?! Fala comigo! — Prestou atenção e conseguiu ouvi-lo murmurando alguma coisa parecida com "estou morto" e "é agora que o Matin mi mata". Ouviu novamente alguns ruídos e em seguida a voz do maior.

— O-oi, disculpa, é qui eu derrubei o celular no chão.

— Goiás. Você tá bem?!

— E-eu tô um tiquin surpreso. Num posso negá. — Sua voz tremia e a mulher podia apostar que ele estava pálido e suava frio. — Mais como qui ocês chegado nessa conclusão? O Matin sabe? Ela feiz o teste?

— Não, o Matin não sabe. Não, ela ainda não fez o teste. E ela passou mal na casa do Minas e a coisa estava muito suspeita. Muito parecida sabe.

— I-intendi. — A voz dele quase falhava. — O-olha Catarina, obrigado por mi contá isso, mais a-agora eu tenho qui í. — Pelos barulhos parecia que se levantava do assento. — Mais tarde nois fala di novo. — A loira tinha o pressentimento que ele ia fugir de casa.

— Não some! — Conseguiu falar antes de ouvir a linha sendo cortada.

Suspirou novamente. A reação dele não a surpreendia, o problema era onde ele ia parar e como as coisas iam ficar depois disso. Precisava atualizar o Minas, pelo menos avisar Brasília e falar com Matinha de novo pra ver se ela já tinha feito o teste.

Amanhã sem falta iria para a casa da amiga.

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