my kind

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Luna

Desde que Richard terminou com Luana, o que já se fazem algumas semanas, ele tem ocupado seu tempo nos treinos. Nós falamos algumas vezes sobre isso, ele diz que não sente falta dela, mas que se sente um tanto estranho por não tê-la por perto.

Era ainda mais estranho como, de alguma forma, eu tinha vontade de ocupar esse espaço e de tentar fazer com que ele dormisse pelo menos uma noite completa, ou que ele comesse alguma coisa que não chegasse em uma moto. Eu não sabia como fazer isso.

Mas eu tentei.

Piquerez tinha feito o almoço dessa vez. Eu arrumei um prato e enchi um copo com suco. Eu tinha acabado de dar banho na Sol, mas Murilo já tinha levado ela para o jardim.

Respiro fundo antes de empurrar a porta de madeira. Ele ergue o olhar por breve segundos, solta um risinho e volta a aproximar o rosto da tela do computador.

— Eu trouxe comida pra você. — Murmuro, descendo os poucos degraus e colocando o prato em cima da madeira fosca, ao lado do mais velho.

— Uhum. Eu vou comer depois. — Diz, um pouco desinteressado. O assisto mexer no cabelo e jogar as correntes em seu pescoço para trás de seu ombro. — Senta aí.

Puxo a cadeira acolchoada e me sento de frente para ele. Estava me irritando.

— A Sol? Onde ela está? — Questiona, pegando uma das almôndegas, com os dedos e mordendo.

— Com o Murilo. — Digo, encolhendo as pernas e apoiando o queixo nos joelhos. — Quanto tempo você não sai daqui?

— Eu tomei banho agora a pouco. — Tenta, ainda focado naquela tela. — Está tudo bem? A Sol está bem? Você? Precisa de alguma coisa?

— Está tudo bem com a gente, Richard. — Bufo. — Você quem não come nada além de besteiras, não dorme, não sai daqui. É sério, você precisa fazer alguma coisa!

— Ah é... Sim. Eu vou. Quando eu terminar essa fase do jogo. Quando entrar você pode pedir o Veiga pra aparecer aqui? Ele vai querer ver isso.

— Come só um pouquinho, por favor. — Empurro o prato, chamando sua atenção finalmente.

— É assim que você fala com a Sol? — Ergue as sobrancelhas, num tom bem humorado e um sorrisinho.

Ele finalmente desliga o monitor e se vira de frente pra mim, pegando o prato e tomando um gole do suco.

— Você já comeu?

— Não tô com fome. — Dou de ombros. Me surpreendo quando ele me estende uma garfada do macarrão com algum molho perplexo demais para os meus conhecimentos. — Eu não tô com fome, eu já falei.

Ele ergue as sobrancelhas novamente, dessa vez em um tom mais sério. Apenas reviro os olhos e aceito.

— Eu estava pensando, que os meninos vão pra casa no Natal e vamos ficar só nós dois aqui. — Acrescenta, gesticulando com o garfo. — Meus pais e o meu irmão também vão vir, minha irmã já está aqui. A gente podia ir para a Disney.

Richard insistiu que eu começasse as aulas. Eu as comecei, alguns dias atrás. Ele também fica pagando todas essas consultas médicas desnecessárias, a esse ponto eu só queria fugir de fazê-lo gastar dinheiro comigo ou com Sol. Eu estava ficando constrangida.

— Não sei. — Resmungo, aceitando outra garfada. — Eu tenho muita coisa pra estudar, e...

— É, eu devia só te colocar no avião e a gente aparecia lá. — Dá de ombros, terminando de mastigar para continuar. — Eu não quero que você se preocupe, tudo bem? Eu estou fazendo isso porquê eu quero, porquê eu gosto muito de você e gosto muito da Sol. Pode ficar tranquila.

alright, richard rios.Onde histórias criam vida. Descubra agora