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Richard

— Isso é um desacato. — Cruzo os braços, encostando na parede ao assistir meus amigos, minha mãe e meus irmãos ajudarem Luna a carregar suas coisas até o carro.

Era véspera de Natal, ela podia ir outro dia. Sei lá, daqui uns anos.

— Fala menos, ajuda mais. — Meu irmão sorri sem mostrar os dentes, me entregando uma caixa cor de rosa.

Ele veio para o Natal mas não estava muito interessado nisso agora. Em poucos minutos ele e Luna já eram amiguinhos e conversavam como se conhecessem há anos.

Reviro os olhos e apenas faço o que devia fazer, seguindo minha mãe até seu carro e acomodando a caixa junto com as poucas outras no porta-malas.

— Está com o coração na mão, né? — À mais velha ri fraco, se sentando no começo da grama do jardim e me convidando pra fazer o mesmo.

— Não sei. — Resmungo, tirando os óculos e dobrando os joelhos. — Você sabe que eu quero que ela consiga, não sabe? A Luna merece o mundo todinho, eu oro que tudo dê certo. Mas ela não precisa ir embora, eu vou sentir saudades!

— Isso é um tanto egoísta, filho. — A mais velha ri fraco, apoiando o tronco nos braços, inclinada para trás. — Você não quer que ela vá porquê vai doer em você. Bem mais do que nela. Luna está colocando as coisas no lugar e você nem está tentando mostrar apoio! Você a tirou da rua e você a adaptou, você mostrou carinho e foi quase um pai para a Sol. — Continua, suas palavras fazem um caminho lento até o meu entendimento, eu não queria reconhecimento por isso.

Eu queria reconhecimento pelo futebol, por jogar bem e por gols e assistências. Mas a jornada de Luna é totalmente dela. Ela é uma mãezona e cresceu um tanto em um ano e pouco, desde que conheceu a maternidade. Luna cuidou de Sol sozinha e foi a pessoa mas corajosa que eu já vi. Eu precisava dar os créditos por tudo o que ela conquistou, por ter andado com as próprias pernas mesmo quando eu a ofereci tudo o que podia.

— Mãe, — Murmuro, me levantando num pulo e dando um beijo em sua cabeça. — Eu te amo. Você é incrível.

Atravesso o jardim e entro em casa. Minha irmã estava saindo com o berço desmontado, Luna vinha atrás, apenas a acompanhando.

— Eu posso carregar isso, avisa a ela. — A menor cruza os braços, minha irmã ri e termina o que devia fazer, saindo da casa. Luna ainda parada na minha frente.

— Parabéns. — Tento, segurando seus ombros e recebendo um olhar confuso. — Por ser tão incrível e tão especial, por ser tão independente e fazer tudo o que fez sozinha. Eu sei que foram circunstâncias que te fizeram assim mas, porra, Luna, eu me apeguei tanto a vocês duas que eu mal consegui dormir essa noite pensando que não vão estar aqui amanhã! Me desculpa por ser um babaca e não ter te apoiado desde primeira.

Recebo um sorriso antes de receber um abraço. Não hesito em apertar meus braços em sua volta, seu rosto contra meu peito e os braços em minha cintura.

— Você que é incrível.

alright, richard rios.Onde histórias criam vida. Descubra agora