Doces nadas

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POV Henry
Estávamos todos no salão de festas da mansão pra comemorar o aniversário da Sara, a decoração estava incrível, e não é querendo me gabar, mas foi tudo por minha causa, junto com Thomas e Guilherme, claro. A festa era em branco e vermelho, e todos estavam vestidos a caráter, todos de branco, exceto a aniversariante.
No meio daquela multidão, eu procuro pela Manuela, mas não a encontro em lugar algum. Acabo desistindo e indo pra um canto enquanto Sara recepciona os convidados, ela usa um vestido longo vermelho ombro a ombro com uma fenda na perna.
Eu tomo um gole do champanhe que eu seguro, e me encosto na parede. Alguns minutos depois escuto uma risada familiar, juntamente com outra voz que também é familiar.
Me viro pra olhar e vejo Manuela conversando com o Sam, não parece ser nada demais, mas ainda sim me tira um pouco a paciência.
Eu me aproximo e ela nota minha presença, sorrindo.
- Vem cá, Henry - ela me chama e eu vou, como um canto de uma sereia hipnotizando o pescador.
Eu coloco minha mão em cima da dela que está apoiada na mesa de aperitivos e ela tira rapidamente, o que me deixa confuso e magoado. Mas ela continua rindo com o Sam, alguma coisa que eu não presto atenção.
- Né, Henry? - É Sam quem me desloca dos meus pensamentos.
- Hm? - Eu tomo um gole do champanhe que já está acabando.
- Nós éramos grudados desde criança, e sempre tivemos desavenças, sempre.
- Uhum - me sinto desconfortável, como se eu não pertencesse àquela conversa, mesmo que meu nome estivesse sido mencionado.
- Eu queria ter crescido com vocês, seria divertido ver. - Manu ri baixo e flashbacks de ontem tomam forma na minha cabeça, pelo menos alguma coisa eu tenho que Sam não tem.
Um garçom passa com taças de champanhe cheias e eu percebo que a minha já está vazia. Eu pego outra e no mesmo instante dou um gole.
Vejo Luna andando pelo salão sozinha, se encosta na parede igual eu estava e toma o champanhe, exatamente igual a mim. Eu aceno com a cabeça em empatia e ela acena com a mão pra mim. Observo o jeito que Thomas está nervoso com a situação. Mesmo que nós tenhamos o acalmado porque Guilherme já tinha entregado a carta e provavelmente estaria tudo bem hoje, é de certa forma engraçado de ver.
Eu observo tudo ao meu redor tentando desviar o pensamento da falta do calor da mão dela, e o fato de ela ainda estar conversando com Sam.
- Desculpa interromper - eu pigarreio e tomo a atenção dos dois - eu vou atrás do Guilherme.
Com passos rápidos eu saio da vista deles, e então paro do outro lado do salão, mas não demora muito e a Manuela me acha.
O batom vermelho contrasta com o vestido branco, e ela está mais linda do que nunca, não que ela já estivesse feia algum dia.
- Aconteceu alguma coisa? - "Sim", eu quase me atrevo a dizer. Em vez disso, coloco a taça na boca mais uma vez.
- Não, está tudo bem.
- Ótimo. O que você comprou pra Sara? - ela puxa assunto comigo, visto que eu não havia falado há alguns minutos.
- Tive que pedir ajuda do Thomas pra isso na verdade. Ele me disse pra comprar qualquer coisa relacionada ao Príncipe Cruel, então mandei fazer um bonequinho da Jude como se fosse a Sara. Inclusive, meu livro edição limitada sumiu.
Manu parece pensar por um instante antes de rir.
- Foi a Sara quem pegou, no dia que mandou o Thomas se foder porque ele disse que fantasia era ruim.
- Nossa! Ele ficou choramingando por muito tempo depois. - eu rio junto, e algo naquilo ali faz a tensão anterior se dissipar.
- Quer fugir um pouco? - ela diz de repente - A Sara está recepcionando 400 convidados, não vai notar um ou dois a menos, e a gente volta antes dos parabéns.
- Vamos - eu nem hesito em respondê-la, parece que tudo que ela fala eu sou hipnotizado a aceitar.
Nós passamos nos esmagando por entre as pessoas e então vamos para o jardim.
- Manu - eu digo e ela se vira pra mim, é quase insuportável ver o quão linda ela é.
- Oi.
- Nem todas as palavras mais lindas do mundo poderiam descrever você hoje.
Ela ri e passa as mãos pelos meus ombros, segurando na minha nuca, eu seguro a cintura dela com alguma firmeza, tenho medo de que ela escape se eu fizer algum movimento brusco demais. Eu a olho e é tentador acabar com aquele batom perfeitamente colocado.
- Se você continuar assim eu vou acabar borrando seu batom.
- Não vai, não vou deixar, estou linda demais pra ficar com batom vermelho no rosto inteiro.
Eu sorrio e beijo a testa dela, o nariz, a bochecha, o canto da boca, sinto a respiração dela pesada. Desço meus beijos pro pescoço dela e a clavícula, sinto ela estremecer nos meus braços e sorrio, paro imediatamente antes que meu autocontrole falhasse e a solto.
- Vem comigo - ela segura minha mão em concordância e eu levo ela pra um pequeno ateliê que existia na mansão.
- São tantos lugares aqui que é até fácil de se perder.
Eu faço que sim com a cabeça, procuro um caderninho de desenhos meu que existia ali e mostro pra ela.
Ela folheia algumas páginas antes de se deparar com o desenho que eu fiz dela. É uma memória que eu tenho dela assistindo Modern Family, e naquele mesmo dia tentei colocar no papel, pra não perder nenhum detalhe pelo esquecimento.
- É lindo, nossa. - Ela passa os dedos pelo desenho e eu vejo seus olhos brilhando - Eu amei, você é muito talentoso. - Nós nos encaramos por um tempo, uma fina corrente elétrica persiste até que ela mesma o quebra - Vamos voltar, os parabéns já vai começar.
Eu a sigo de volta pro salão, onde ela acaba sumindo da minha vista. Cantamos os parabéns como sempre, algumas horas depois vejo Manuela sair com Sam pra algum lugar, e voltar sem batom nenhum. Tomo o restante que existe na minha taça de uma vez.
Pov Sara
O parabéns tinha acabado de acontecer e a chuva de presentes veio, curiosamente não recebo nada de Thomas, o que me parte um pouco o coração.
- Sara... - Sinto o ar da sua respiração perto de mim, me viro.
- Oi.
- Comprei um presente para você. - Ele me entrega uma sacolinha da Tiffany, fico animada mas tento não demonstrar.
- Ta bom, obrigada. - Ele visivelmente parece muito mais chateado do que eu esperava, mexe um pouco comigo.
- Eu vou para o meu quarto. - E então some na multidão, me apoio na mesa para não cair no chão.
Pov Thomas
Ela recebeu a carta e não falou nada, ela continua fria, eu perdi ela. Me sento na escada com as mãos apoiadas na cabeça tentando me recompor, Luna chega tombando na escada.
- Oi, Thom. Já planejou o homicídio da Alicia hoje? Eu já, umas mil vezes. - Me tira uma risada mas ela consegue perceber a tristeza no meu rosto. - Meu Deus, o que aconteceu?
- Coisas.
- Pode falar.
- Fiz uma carta para a Sara, dedicando todo meu amor e ela simplesmente não ligou. Me tratou como nada. - Ela me abraça.
- Olha, você vai ficar bem. A Sara é assim, sonsa, ela não sabe demonstrar nada bem. Já volto. - Enquanto ela sai, eu subo as escadas e vou ao meu quarto tomar um banho para tentar recobrar meus sentidos.
Pov Sara
Luna vem furiosa em minha direção, não falando nada com nada no caminho.
- Sara, fala sério? Precisava deixar o menino chorando? Você não tem compaixão? Você não sente nada?
- Meu Deus, o que aconteceu? - Digo me espantando com a agressividade nas palavras dela.
- Aconteceu que você não tem amor nenhum pelos outros.
- Licença, você ta defendendo o Thomas? Caralho, ele literalmente disse que não se casaria comigo e agora ta querendo pagar simpátia. - Começo a gritar e ela também.
- Incrível que você só liga para si mesma, ele teve que aturar semanas vivendo no mesmo teto que você tendo que esconder que você é o amor da vida dele! Você sempre disse que não queria se casar para ele e quando ele disse de volta, você tratou como se fosse tudo sobre você! - Eu fiz isso?
- Ah, Luna. Você não sabe nada mesmo.
- E nem teve a coragem de responder a carta que ele entregava o amor inteiro dele para você. Caralho você tem... - Tudo ao redor fica como um chiado, que carta?
- Que carta, Luna?
- Não vá se fazer de lerda.
- Luna, que carta é essa? Eu não recebi carta nenhuma.
- Como não? - Eu saio correndo em direção ao quarto dele, não sei o que está escrito naquela carta, acho que nem quero saber. Precisava de uma desculpa, para descontar nisso. Abro a porta e não tem ninguém lá, escuto o barulho do chuveiro, bato três vezes na porta.
- Se for a Ritinha, pode deixar os lençóis em cima da cama e eu arrumo depois. - Ele grita de lá de dentro.
- Não é a Ritinha. - Ele desliga o chuveiro na hora que escuta minha voz.
- Sara? - Não digo nada, espero ele sentada na cama. Ele aparece com a toalha branca ao redor do quadril. - O que você tá fazendo aqui? Não devia estar na festa?
- Quem liga para a festa? - Jogo ele contra o armário fazendo a estrutura de madeira se estremecer, ele se assusta com o impacto.
Eu passo minhas mãos pelos ombros e desço até a barriga definida, isso é o suficiente pra que ele me segure pela cintura e me vire.
- Como caralhos tira esse corset, eu vou acabar rasgando, Sa. - Ele tenta afrouxar o vestido e é o suficiente pra que ele caia do meu corpo, a lingerie vermelha exposta, sinto uma vergonha crescendo pelas minhas bochechas.
Eu seguro o rosto dele e o beijo com uma urgência necessária, uma paixão incontrolável correndo por dentro de nós, meu batom acaba na boca dele. Não demora muito até que ele me deite na cama, os beijos dele percorrendo por todo meu corpo, e os suspiros ofegantes cada vez mais altos. Ele sobe até meu ouvido e o que ele diz me arrepia inteira.
- Eu sou seu se quiser me manter, seu se quiser me largar, mas hoje eu vou te fazer minha.
- Eu não fiz de propósito.
Ele beija meu pescoço, um gemido como pergunta soa contra minha pele.
- A carta, eu não sabia dela, eu não sou uma garota ruim. - Ele ri com a minha frase e volta pro meu ouvido.
- Eu sei, mas você faz coisas malvadas comigo, querida.
Isso é suficiente, pra eu descer as mãos pra toalha e desenrolar, sinto as mãos dele descendo por minhas últimas peças de roupa, uma última pergunta antes do ato é feita.
- Posso? - a voz rouca dele me estremece inteira e eu balanço a cabeça em afirmação, sem conseguir falar algo que não sejam barulhos incompreensíveis.
Em questão de segundos, minhas últimas peças estão jogadas em algum canto da sala, e ele faz o mundo ao redor de nós desaparecer. Somos só eu e ele. Noivos, futuros marido e mulher.
POV Luna.
Já tinha perdido as contas de quantas vezes vi o Guilherme e a paquita do capeta da Alicia juntos essa noite, e cada vez que eu lembrava do que aconteceu eu ficava com vontade de cortar meus pulsos na frente dos dois. Queria fazer algo que o irritasse tanto que ele tivesse uma síncope no meio de todo mundo. Ou arrancar os cabelos daquela resto de aborto também seria uma boa, mas não tô afim de ser expulsa da mansão perto do casamento da minha amiga...
Mais uma vez ela estava passando as mãos pelos braços dele de uma forma sútil e ele não se afastava ou impedia ela. Não sei se foi o álcool subindo para minha cabeça ou a raiva que eu estava sentindo, talvez uma mistura do dois, mas eu agarrei o braço do Sam quando ele passou na minha frente e o beijei, tendo certeza que o Guilherme estava olhando.
- Ei, gatinha... - Sam de um sorriso de canto e eu olhei com uma cara feia para ele.
- Só sai daqui. - fiquei encarando ele, que estava me olhando confunso e não saia. Dei uns tapinhas no ar sinalizando pra ele ir. - Vai, vai.
Quando ele saiu vi Guilherme me encarando e depois saindo nada contente. Dei um gole na bebida dando um sorriso.

Pov Guilherme.
Eu não podia ficar bravo com ela, eu não tinha direito nenhum. E eu sei que ela fez aquilo por causa do que eu tinha feito no lago. Sai de perto daquela cena e fui para outro canto que eu não conseguisse ver ela.
Passei a festa inteira perto da Alicia, não porque queria, por mim eu jogava ela da janela (sem machismo), mas porque queria tentar fazer ciúmes na Luna. Talvez ela voltasse a falar comigo desse jeito, nem que fosse pra me xingar. Mas pensando bem foi uma ideia meio estúpida... Enfim, o truque se virou contra o feiticeiro porque eu tenho certeza que ela só beijou o Sam porque eu estava olhando.

Estava andando pelos corredores indo em direção ao meu quarto quando sem querer esbarro em alguém, quando abaixo o olhar e vejo que é a Luna cambaleando. Seguro nos braços dela para tentar equilibra-lá.
- Não toca em mim! - ela protestou, mas não tirei as mãos se não ela cairia no meio de todos.
- Acho que já tá na hora de você parar...
- De você parar de encher meu saco? Eu concordo.
Segurei a mão dela e puxei para meu quarto, alguns passos de distância. Ela tentou resistir e ficar parada mas estava tão lelé que não conseguiu.
- Luna. - digo quando fecho a porta.
- Me arrastou pra cá por qual motivo?
- Se você tentar andar sozinha até qualquer outro lugar tem grandes chances de você bater a cabeça em algum lugar e morrer. - ela cruza os braços olhando para mim.
- Tenho certeza que isso é melhor que ficar olhando pra sua cara.
- Luna, por favor, me ouve. Só essa vez. - eu sabia que ela esqueceria tudo o que eu estou prestes a dizer, mas se eu não sei quando terei essa oportunidade de novo.
- Vai dizer o que? Um milhão de desculpas inúteis de novo?
- Olha, eu sei que errei. E muito. O que eu fiz não tem perdão... - ela me encarava e eu levei como um sinal de continuar. - Não sei como vou consertar isso contigo, ou se você vai me perdoar. Se você não me perdoar, tudo bem, não exatamente, mas vou entender seus motivos pra isso.
- Guilherme, você passou dos limites de uma forma que meu amor próprio não me permite pensar em te dar outra chance. - ela me olhou de uma forma que as estrelas em seus olhos me permitiam dar uma explicação, e ela esperava uma ótima. Eu queria dar isso para ela, mas eu não tenho.
- Nada do que eu falar vai melhorar nossa situação, Luna, e eu me odeio por isso. Me odeio por te magoar. Me odeio pelo que fiz. Odeio te ver triste e saber que o motivo fui eu. Eu sou um estúpido, babaca, todos os xingamentos que você conseguir pensar sobre mim. - suspirei procurando palavras na minha cabeça. - Posso te implorar de joelhos pra me dar outra chance, e mesmo assim você não aceitar, porque não tenho argumentos suficientes pra te fazer acreditar que eu sou bom pra isso.
- Você disse que me confundiu com ela! - disse se sentando na beira da cama.
- Mal uso de palavras. - ela levantou uma das sombrancelhas para mim. - Não vale a pena explicar. Desculpa.
- Sinceramente, Guilherme? Você fez uma merda gigantesca. Eu não deveria te perdoar. Mas meu coração é meio mole demais pra você. - solto uma risada.
- Sabe, quem gosta da lua, gosta dela mesmo quando ela não está por perto. Você é minha lua, Luna.
Ela se joga para trás na cama e suspira alto, fechando os olhos.
- Por que você teve que ser canalha? Seria tão mais fácil. Estava tudo perfeito.
- Não posso te responder essa pergunta. - digo me sentando em uma cadeira no canto do quarto. Tudo ficou em silêncio por alguns minutos antes que ela falasse.
- Me pergunto quantas coisas você pensa antes de pensar em mim. - demoro alguns segundos pra responder.
- Nenhuma. - sussurro, mas ela não ouve porque já caiu no sono.

So long, London.Onde histórias criam vida. Descubra agora