Praia

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Pov Sara
A insônia mais uma vez batendo na nossa porta, de nós 3.
- E se nós...
- Não, não vamos bater na porta dos quartos e sair correndo, Manuela. - Luna logo a interrompe.
- Aff, tá.
- Como vocês conviveram com a pessoa? - Eu deixo escapar, elas entendem o assunto.
- Ah, normal. Depois perde a vergonha e fica tudo bem. - Antes que eu possa responder, Manu pula da cama.
- VAMOS PARA A CASA DE PRAIA.
- Que? Ta maluca? Por que fariamos isso? - Eu respondo.
- Por que não? É seu ultimo final de semana solteira. Podemos ficar lá ate sua despedida.
- E quem vai levar a gente? Quem vai ter a chave?
- Oxe, o Thomas vive por você. Tudo que você pede, ele faz. Ainda mais que faz uma semana que você fez tudo que tinha para fazer com ele e nem olhou na cara dele depois. - Não sei se foi o impulso de ser 3 horas da manhã e eu não conseguir dormir, mas eu aceitei. Quando vi, minhas malas já estavam prontas e eu estava prestes a bater na porta do Thomas. Bati, 3 vezes.
- Sara? - Ele diz sem abrir a porta.
- Como você sabe?
- As três batidas. - Droga, verdade. Ele deu 3 batidas uma vez e desde então sempre são 3 batidas quando é ele do outro lado da porta. Ele abre.
- Vamos fugir. Eu, você e as meninas, pode chamar os meninos também. - Ele parece confuso.
- Para onde? O casamento é em alguns dias.
- Voltaremos a tempo, vamos para a casa de praia. Topa?
- Qualquer coisa com você. - Ele levanta a mão e eu bato. Em 40 minutos todos estão no carro.
- Eu escolho a música. - Manu diz empolgada pegando no controle de música.
- Claro que não, seu gosto é péssimo. - Henry diz tentando tirar o controle da mão dela, ela bate na mão dele.
- Gosto péssimo? Não sou eu que tava no jardim com uma vagabunda um dia desses.
- Ah pelo amor de Deus, já faz mais de 1 mês. Seu gosto musical é péssimo mesmo, fazer o que?
- Meu gosto é esplêndido, agora para de encher o saco. - Ela colocou todos os tipos de músicas possíveis, de Mc Kevin a Folklore da Taylor. Chegando lá, ninguém se propôs a levar as malas.
- Sério? Ninguém? - E então eles fogem para a praia, só sobrando eu e Thomas.
- Vamos rápido fazer isso. - Sua voz me causa uma eufória estranha. Eu acho uma espuma de carnaval no porta malas.
- Olha que legal!
- O que é isso? - Diz ele tentando pegar, mas acaba triscando seus dedos nos meus e deve ter sentido o mesmo choque que eu.
- Ta brincando? Você nunca brincou disso?
- Não. - E assim que ele responde, jogo nele.
- É assim que se brinca. - Digo rindo, ele pega a espuma da minha mao e joga em mim, eu me escondo dentro do carro mas não funciona, pois ele entra junto e continua me sujando.
- CHEGA. - Tento pegar de sua mão e acabo em cima dele, uma onda esquisita sobe em mim e quando vi, suas mãos estavam ao meu redor enquanto ele beijava meu pescoço, me arrepiando inteira.
- As malas, Thom. - Solto essas palavras em uma tentativa de formar uma frase completa.
- Depois resolvemos isso. - Me sento no colo dele e...
- Sara? - Manu bate no vidro.
- Oi... - Saio de cima dele.
- O que é isso...?
- Nada. Vai embora. - Acabo correndo após isso, eu acabo indo embora no final das contas. Vou até a praia e fico refletindo lá nos próximos 10 minutos.

Pov Luna
Molhei meus pés na água, chutando uma conchinha que bateu nele. Olhei ao redor e vi Guilherme sentado na areia rabiscando alguma coisa no chão. Eu não queria ficar muito tempo perto ele, mas sabia que precisava conversar. Pelo menos resolver isso a tempo do casamento, que vai ser quando minha mãe vai chegar crente que eu estou namorando um empresário. Tive alguns flashbacks da noite em que acabei dormindo no quarto dele, não o suficiente pra entender o que aconteceu, mas sei que a gente conversou sobre algo. Me aproximei dele e chutei areia na perna para chamar atenção, ele olhou para cima.
— Luna.
— Oi. Podemos conversar?
— Claro. — me abaixei e sentei do lado dele, também olhando pra mar. — Logo minha mãe vai chegar, não quero ela suspeitando do meu desconforto perto de você.
— Uhum. — ele resmungou.
— Você tá me devendo muitas explicações.
— Vai me ouvir falar? — viro meu rosto e encaro ele.
— Se você não falar merda.
— Não garanto, mas vou tentar.
— Tá bom. — virei pro mar de novo. — Vai falando.
— O que você lembra da noite da festa?
— Não o suficiente pra me dar explicações.
— Certo. — ele suspira. — Não tem desculpa, fui um merda, errei, eu sei disso.
— Uhum, continua.
— Sei lá. Tava tudo muito recente. Ainda tá.
— E você sussurra o nome dela no ouvido de todas que fica?
— Não.
— Fui a primeira então? Que romântico.
— Não teve ninguém antes de você, depois da — ele tosse — nome que não pode ser mencionada, você foi a primeira.
— Hm.
— Eu sabia que não tava 100% pronto pra partir pra outra. Não que eu não tenha superado ela, só que foi a primeira “verdadeira” que eu tive.
— Verdadeira?
— Não era essa palavra que eu queria usar, só não consigo pensar em outra. Eu tive alguns namoros antes, na adolescência e tal, mas ela foi a primeira depois de adulto. Algo mais sério.
— Acho que tô entendendo o que você quer dizer. — ele assentiu com a cabeça.
— Ninguém começa a namorar pensando em terminar, principalmente depois de ser traído. Eu esperava que aquele brilho de “oh meu deus! quero me casar com essa pessoa” ia acender no meio do relacionamento, não que você já começava querendo passar o resto da sua vida com alguém.
— Alguém te fez mudar essa ideia? — questionei, e ele só me olhou, não respondeu.
— Meio brega falar isso, mas sei lá, quando tô perto de você as vezes sinto que não nos encontramos por acaso.
— Que bonitinho, conto de fadas? — viro a cabeça em direção a ele, provocando.
— Eu sou o príncipe?
— Tá mais pro vilão. — ele ri.
— Sei que não presto muito. Não quero ficar implorando pra você sabendo que você não suporta ficar perto de mim.
— Você realmente não vai correr atrás de mim? Implorar de joelhos pelo meu perdão?
— Eu não vou se sei que você não gosta disso. Mas não quer dizer que não vou esperar você magicamente me perdoar. — abri a boca pra falar que não ia perdoar ele de jeito nenhum, mas um magnetismo estranho me proibiu de fazer isso. — Se eu precisar ter que esperar você ter 89 namorados e casar 7 vezes até perceber que você quer algo comigo, eu espero.
— Que coisa brega, meu deus.
— Desculpa. — eu rio.
— Sabe, não vou te perdoar aqui nesse momento, você não merece. — ele assente com a cabeça. — Mas se você conseguir provar que merece meu perdoar talvez eu pense no seu caso.
— Mesmo?
— Talvez.
— Você tem coração mole pra mim, né?
— Ei!
— Você mesmo que disse.
Droga, acho que é verdade isso.
— Eu estava bêbada.
— Tá bom, então. — ficamos em silêncio olhando para o mar depois da conversa, eu ainda não tinha ficado de bem com ele, muito menos perdoado o que aconteceu, mas pelo menos alguma coisa se resolveu. Eu acho.
— Estamos em bons termos, então?
— Acho que sim. Ainda preciso fingir que namoro você.
Não sei o que vai dar no final, mas acho que sinto um bom presentimento, ou posso estar confundindo com um sinal divino que é pra eu sair correndo e nunca mais olhar pra ele. Ah, Deus, por que a vida tem que ser tão complicada?
Ele fica em pé e me encara.
— Vem. — ele estende a mão em minha direção e eu fico receosa em pegar, mas seguro. Ele me levanta e me puxa até a água. Chuta e respinga algumas gotas em mim, e eu faço o mesmo nele, mas sem querer acabou tropeçando e caindo em cima dele, que perde o equilíbrio e cai no meio da areia. Fico por cima dele. Nos encaramos. Minha respiração ficou difícil.
— Ei. — ele fala em um tom mais baixo, mas não chegando a ser um sussurro. Balanço a cabeça e me levanto.
— Desculpa, tropecei. — não, ainda não ia fazer aquilo de novo.
— Tudo bem. — ele sorriu pra mim, meu coração pulou uma batida.

POV Manu
Todos nós nos divertimos muito, e por algumas horas parecia que os conflitos não existiam, mas ainda estavam ali.
Eu sento na escada da varanda que dá de frente pro mar e respiro o ar salgado, me pergunto se Henry está no quarto dele e pela primeira vez em algum tempo não penso em Sam.
Eu volto pra dentro da casa e dou de cara com um Henry pálido na cozinha, se tremendo e com um copo de água na mão. Ele toma algum comprimido e eu me aproximo.
- Meu Deus, o que aconteceu? Você tá bem?
Ele nem consegue me responder e corre pro banheiro. Eu conheço os sintomas das várias vezes que eu ou as meninas passamos mal. Intoxicação alimentar.
Não demora muito e ele volta, as bochechas um pouco mais rosadas.
- Acho que eu comi alguma coisa que me fez mal, só isso.
- Caramba, você está péssimo. Vem, eu te ajudo.
Em passos lentos nós nos aproximamos do quarto dele, eu coloco ele pra deitar na cama enquanto toco a testa dele, quantos graus de febre esse garoto tá?
Corro atrás de algum pano úmido pra colocar na testa dele, a cor voltando ao normal aos poucos depois que ele quase coloca as tripas pra fora.
- Tá se sentindo melhor?
Ele abre os olhos suficiente só pra olhar pra mim.
- Sim. Obrigado.
Eu suspiro em alívio, e continuo com os panos úmidos.
Depois de um tempo eu noto a respiração dele regular, acho que dormiu. Eu observo o jeito que seu peito sobe e desce, como seu cabelo é macio e como eu me importo muito com ele. Até demais.
Uma onda de senso me surge, puta merda, eu gosto dele. Gosto de tudo nele, a paixão pelo desenho, o jeito que balança a cabeça quando está envergonhado, como trava a mandíbula quando fica desconfortável, o toque elétrico dele, e como nossos olhos combinam, castanho e verde.
Eu faço um carinho em seu cabelo, ele se mexe mas não parece acordar.
- Ah Henry - eu sussurro - teimosia sua tentar me entender.

Acordo com um murmúrio, acabei dormindo na poltrona enquanto fazia companhia.
- Hm? - eu esfrego os olhos.
- Por que você tá dormindo na poltrona? 
- Achei que você podia querer companhia.
Ele não diz nada e só me olha, eu me levanto e pego um copo de água pra ele não ficar com desidratação.
- Obrigado.
- De nada - o clima fica tenso, é difícil até de respirar.
- Vai ficar aqui?
- Se quiser.
Ele demora alguns momentos antes de responder, parece pensar.
- Quero.
Ele se deita na cama, tem uma aparência mais saudável agora apesar do cansaço evidente.
- Nós éramos alguma coisa, né? - eu não respondo quando ele diz isso, tenho medo de falar alguma besteira - se sonhos se tornassem realidade, seria você o meu.
- Não é tarde demais. - Eu sinto um peso enorme sair de mim, como se eu estivesse guardando aquilo há tempos, ele se vira pra mim e eu me sento ao pé da cama, seguro a mão dele. - Você vai ficar bem.
- Uhum - ele aperta minha mão. E então eu tenho certeza que, apesar de tudo, acho que as coisas vão começar a entrar nos eixos agora.

So long, London.Onde histórias criam vida. Descubra agora