Capítulo 9

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ALICE

Acordamos sobressaltados com o toque do telefone. Para falar a verdade não sei como ouvimos tocar já que havia deixado na sala. Acredito que começamos a ter "ouvidos de pais".

Liz estava anormalmente séria. À medida que ela falava eu percebia que continuamos despreparados para determinadas situações. Senti a espinha gelar e acredito ter perdido o controle das pernas porque caí sentada, com Rico ao meu lado.

- O que podemos fazer agora? – funguei.

- Rezar para que ela não tenha sequelas e...

- E o que, Liz? – perguntei com medo da resposta e solucei.

- Uma mobilização para doação de sangue, o que acham? – soprei forte. Soprei muito forte mesmo... de alívio... porque juro que pensei que ela fosse dizer que deveríamos nos preparar para o pior. Essa é Liz e essas são as surpreendentes coisas de Liz.

- Vamos fazer. Hoje colocamos isso em prática, se tudo der certo. – Rico respondeu, tentando parecer empolgado, enquanto eu tentava raciocinar.

- É isso aí, cunhado! Façam essa corrente do bem, ou melhor... façamos essa corrente! Deus não precisa de promessas infundadas ou "moedas de troca", mas a gratidão é algo "de Deus"! Eu precisava avisá-los porque vocês têm o direito de saber tudo o que está acontecendo com a filha de vocês. Esse não é o protocolo, mas como sou da equipe, mesmo não estando envolvida diretamente no tratamento dela, por ética, meu orientador pediu que eu falasse com jeitinho com vocês. Não é o fim. É apenas mais uma etapa, mais uma batalha e estaremos sempre juntos.

- SEMPRE! – respondemos juntos.

Telefone desligado e o melhor abraço da vida... do amor da minha vida.

Fragilizados, mas fortes. Como pode?

Acredito que nossa nova força venha de uma pessoa... de uma pessoinha que aparecer de uma forma tão incomum e que passou a ter uma importância sem tamanho para tantas pessoas: Stellinha... estrelinha... abelhinha... nossa guerreirinha!

- Tá tudo bem? – encarou-me.

- Apesar de tudo estou sim. Nossa força tem nome...

- Sim... Stella. – disse com carinha de cachorro que caiu de um caminhão de mudança.

- Rico! – falei tão alto que ele se assustou.

- O que aconteceu dessa vez? Cara, você me assustou!

- Questão número um: não sou "cara"...

- Desculpe, linda. Eu ia xingar, mas estou treinando com o Rafael. – riu sem vontade, parecia apenas querer me agradar.

- Questão número dois: que pai é esse que não registra a filha?

- Como assim registra?

- Registrar... tipo ir ao cartório... certidão de nascimento... entende?

- Nossa! Que burro! Como eu não fiz isso antes?

- Não nos lembramos. Não se cobre tanto.

Ele levantou, pegou o celular e saiu.

Fui para a cozinha preparar algo. O Rico é um bom de garfo, por isso, qualquer coisa que eu faça costuma agradar - e muito.

Fomos ao hospital pegar o documento que o advogado instruiu antes de irmos ao cartório para registrar a baby.

Depois de nos informarmos na recepção, fomos encaminhados ao local indicado. Com os documentos em mãos, passamos pelos corredores e como se fosse um ímã, nos vimos diante da UTI Neo. A gente sabia que não podia estar por ali e que ninguém nos deixaria entrar para ver nossa estrelinha, mas precisávamos ter alguma notícia.

Sempre ao seu lado (Livro 2 : Série Transformados pelo Amor) #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora